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ANC sem condições de continuar ideiais de Nelson Mandela, dizem analistas

14 de dezembro de 2012

Na África do Sul o ANC está mais dividido do que nunca logo na véspera do seu Congresso que deverá definir a nova liderança do partido. Algumas alas do ANC estão abertamente contra o Presidente do partido e do país.

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O ANC é um das formações políticas mais antigas de África, fundada também por Nelson Mandela
Jacob Zuma, Presidente da África do Sul e do ANCFoto: picture-alliance/dpa

A crise no seio do partido no poder na África do Sul agudiza-se. Alguns consideram que o Presidente Jacob Zuma administrou mal as greves que abalaram o setor mineiro nos últimos meses e que agora passaram a afetar a indústria dos vinhos e de frutas, que traz muitas divisas para o país.

No interior do ANC, porém, a simpatia por Zuma está a diminuir. Os seus opositores usam a sigla ABZ, abreviação de Anything But Zuma, ou Tudo Menos Zuma.

Não são só os pesos pesados do ANC como Tokyo Sexwale que querem a substituição de Zuma, mas também outros membros do partido.

Até Desmond Tutu, ex-arcebispo e titular do Prémio Nobel da Paz, diz estar a rezar pela queda do ANC e do governo de Zuma.

Esses críticos acusam o Presidente sul-africano de não fazer o suficiente para resolver os problemas urgentes do país, como os da economia sul-africana, fortemente abalada nos últimos meses, além de um desemprego e de uma corrupção chamados de epidêmicos.

Interesses pessoais acima dos interesses nacionais

Supporter of the ruling African National Congress (ANC) hold support banners as they wait for the arrival of ANC president, Jacob Zuma, outside Pretoria, South Africa, 18 April 2009. South African holds presidential elections on 22 April and it is widely assumed that ANC president Jacob Zuma will become South Africa?s third black president since the end of white minority rule in 1994. EPA/KIM LUDBROOK +++(c) dpa - Bildfunk+++
O ANC é um das formações políticas mais antigas de África, fundada também por Nelson MandelaFoto: picture-alliance/dpa

Rhoda Kadalie, defensora dos direitos das mulheres e antiga ativista contra o Apartheid – antigo regime segregacionista sul-africano, liderado pela minoria branca – é uma das colunistas mais críticas da África do Sul.  

Na sua opinião os governantes têm o país como refém enquanto brincam de gato e rato. Rhoda Kadalie acusa-os mesmo de só se importarem com o acesso aos recursos naturais, não com a governação e diz: "Em vez de dar mais poder económico aos negros, como era o objetivo após o Apartheid, eles só pensam em enriquecer rápidamente."

A defensora dos direitos humanos considera que o ANC não tem a mínima condição de manter o curso da África do Sul definido por Nelson Mandela.

Rhoda Kadalie vaticina: "Se o vice-Presidente Montlante ou o Presidente Jacob Zuma forem eleitos à frente do ANC – nenhum dos dois vai fazer o suficiente pelo país".


Crises políticas afetam economia e sociedade

Julius Malema foi expulso do ANC acusado de indisciplina. Uma das causas defendidas pelo ex-líder juvenil do partido era o fim das desigualdades
Julius Malema foi expulso do ANC acusado de indisciplina. Uma das causas defendidas pelo ex-líder juvenil do partido era o fim das desigualdades sociais no paísFoto: Reuters

Os observadores veem com preocupação como as divergências políticas e a violência de forças do governo contra grevistas nas minas sul-africanas, nos últimos meses, prejudicam a economia sul-africana.

Gareth Newham, do Instituto para Estudos de Segurança, ISS, em Pretoria, África do Sul, conta: "Por causa da incerteza política, duas agências de notação de risco baixaram a nota de crédito da África do Sul. Entre outros problemas, o nosso setor mineiro atraiu muito menos investimentos do que o previsto."

Para o analista tal se deve ao facto do foco do Governo de Zuma e dos seus ministros ser o combate político interno e também a defesa de interesses privados. Gareth Newham conclui: "Eles não se interessam pela liderança política para resolver os problemas do país."

Com efeito, os dirigentes políticos sul-africanos parecem não ter soluções para os problemas urgentes: a propriedade de terra e das minas do país, o estabelecimento de uma indústria competitiva, o aumento da produtividade do país e dos padrões educacionais.

Futuro incerto

A reação violenta da polícia nas greves das minas sul-africanas escandalizaram o país e o mundo, mas o governo tentou desvalorizar o caso
A reação violenta da polícia nas greves das minas sul-africanas escandalizaram o país e o mundo, mas o governo tentou desvalorizar o casoFoto: picture-alliance/dpa

A diferença entre ricos e pobres também aumenta: dois terços dos 50 milhões de habitantes do país vivem com menos de um dólar por dia.

Entre os especialistas internacionais, a pergunta é: que direção económica a África do Sul vai seguir daqui em diante?

Muitos  desses especialistas acreditam, por outro lado, que Jacob Zuma deverá sair vencedor do Congresso do ANC e que ele poderá ser, portanto, o nome do partido para as eleições de 2014, nas quais ele poderá também vencer um segundo mandato de cinco anos à frente do país. Porém, o partido deverá continuar dividido.

Autor: Ludger SchadomskyRenate Krieger
Edição: Nádia Issufo/António Rocha


 

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