1. Ir para o conteúdo
  2. Ir para o menu principal
  3. Ver mais sites da DW

Projecto em Angola pretende incentivar mulheres a concluir estudos

Nelson Sul D'Angola/Benguela 23 de outubro de 2014

É dado adquirido que a boa formação escolar é uma condição para um futuro próspero de toda uma sociedade. Mas, em Angola, muitas mulheres entre os 20 e 35 anos abandonam os estudos a meio, porque casam ou têm filhos.

https://p.dw.com/p/1Daxi
Foto: Fotolia/poco_bw

A ativista Isabel Zeca Bueio, da organização não-governamental angolana de defesa dos Direitos Humanos, Omunga, acaba de apresentar um projeto pensado para inverter esse quadro. O objetivo não é fácil, numa sociedade onde o abandono escolar é visto como normal neste caso. Para Isabel Zeca, esta atitude tem que ser energicamente combatida para garantir o desenvolvimento do país.

Por isso, o plano recentemente apresentado por Isabel Zeca Bueio numa das universidades em Benguela, sob o título "Ondjandja" visa incentivar e garantir a licenciatura das jovens que desistiram dos estudos por razões de maternidade ou matrimónio. Muitas delas não conseguem, mais tarde, retomar os estudos, por falta de meios para os financiar.

Motivar as jovens a regressar aos estudos

Uma das metas do projeto é motivar as jovens a lutar pelos seus sonhos, buscando oportunidades de formação e especialização, através de bolsas de estudos e intercâmbios disponíveis para angolanos pelo mundo fora. Outra é aproximar os estudantes universitários ao mercado de trabalho. A ativista de 26 anos conta que o projeto surgiu depois de ter participado num programa norte-americano de intercâmbio para jovens líderes africanos, juntamente com outros 500 estudantes africanos, a convite do Presidente dos Estados Unidos da América, Barack Obama.

Isabel Zeca Aktivistin aus Angola
Isabel Zeca na apresentação do projecto "Ondjandja"Foto: Nelson Sul D'Angola

Depois de ter apresentado o projeto à comunidade estudantil universitária, Isabel Bueio falou com a DW África, sobre os motivos que a levaram a criar este projeto: “Enquanto meninas nós somos educadas a ser submissas aos nossos parceiros. Isso é uma cultura social muito forte ainda em Angola. Nós somos ensinadas a ser mãe e a ser esposa e nada mais além disso”.

A pressão social é grande

Mas os tempos mudaram, e hoje há muitas meninas que querem e podem ter uma formação académica. Mas apesar da licenciatura: “… tens que casar e ter filhos, porque se te tornares doutora e seguires carreira, isso para a nossa sociedade quase não faz sentido”. A sociedade só vê como mulher “completa” aquela que é casada e tem filhos.

Uma razão mais, diz a ativista da Omunga para incentivar as jovens a regressar aos estudos: “O projeto vem suprir questões como necessidades de formação, a nível profissional e de experiência de trabalho, para jovens angolanos”. Isto porque as condições de vida de muitos jovens impedem-nos de seguir os estudos que preferem. É o caso para cursos de tecnologia, explica Isabel Bueio, uma formação que só pode ser feita no exterior, o que não está ao alcance de todos. Por isso o seu projecto pretende fornecer todas as informações sobre bolsos de estudo oferecidas por embaixadas ou outras instituições.

Frau mahlt Korn in Angola
A pressão social impede muitas mulheres de realizarem as suas ambições profissionaisFoto: AP

Uma iniciativa inédita em Angola

A jovem Elsa Mutale acompanhou com atenção a apresentação do projecto da Omunga. Mutale, que é licenciada em relações internacionais, sublinhou que, por se tratar duma iniciativa inédita no país, é muito importante que as instituições estatais ou não estatais lhe prestem todo apoio: “Acho que está a faltar mesmo isso dentro da nossa sociedade angolana. É muito interessante e estamos de parabéns: pelo menos alguém tinha que começar”

Elsa Mutale defende ainda que o projeto deve ser estendido aos jovens que estejam a frequentar o ensino médio, pelos seguintes motivos: “Eu acho que onde há mais carência é entre as meninas que terminam o ensino médio. Na universidade não conseguem entrar porque há muita burocracia. E na privada também não, porque as mensalidades são muito caras. Se existe um projeto, então começamos por ali”.

[No title]