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Prisão de opositores do governo turco é vista como golpe contra democracia

15 de dezembro de 2014

União Europeia, EUA e meios de comunicação da Turquia condenam detenção de 27 supostos críticos do presidente Erdogan. Para comunidade internacional, ação viola direito à liberdade de imprensa e princípios democráticos.

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Foto: Reuters/M. Sezer

A União Europeia (UE) criticou duramente a detenção neste domingo (14/12) de 27 jornalistas e supostos críticos do governo do presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, que supostamente são integrantes de uma conspiração para tirá-lo do poder.

Em um comunicado, a Alta Representante da UE para Negócios Estrangeiros, Federica Mogherini, e o comissário Johannes Hahn reiteraram que a batida policial não está de acordo com o direito à liberdade de imprensa e está em contradição com os valores europeus.

"Essa operação vai de encontro com os valores e as normas europeias", salientaram. A adesão da Turquia à União Europeia depende "do pleno respeito ao Estado de Direito e aos direitos fundamentais", acrescentaram no comunicado publicado neste domingo. Desde 1999, a Turquia é candidata à UE, e negociações estão em curso desde 2005.

Mogherini e Hahn exigem a aplicação do princípio da presunção de inocência e do direito de uma investigação independente. Os dois anunciaram que vão transmitir suas preocupações aos Estados-membros, que discutirão uma possível expansão do bloco nesta terça-feira.

"Dia negro para a democracia"

Segundo a mídia turca, três dos detidos – funcionários da popular série de TV Tek Turkiye (Uma Turquia), do canal STV – foram liberados nesta segunda-feira, mas 24 suspeitos ainda estariam sendo interrogados pela polícia local.

Türkei Razzia gegen Gülen-Anhänger - Polizei durchsucht Redaktion der Tageszeitung Zaman 14.12.2014
Ekrem Dumanli, editor-chefe do jornal "Zaman", é um dos supostos críticos detidos pela políciaFoto: Reuters/M. Sezer

O jornal Zaman, cujo editor-chefe Ekrem Dumanli está entre os detidos, foi às bancas nesta segunda-feira com a seguinte manchete: "Dia negro para a democracia". "O Zaman manterá sua abordagem pró-democracia, pró-liberdade e pacífica sem medo algum", diz o jornal, alertando que a Turquia estava sendo "arrastada para um precipício".

O colunista do jornal turco Hurriyet, Ahmet Hakan, escreveu que invadir redações e prender jornalistas é um "duro golpe" contra a democracia e a liberdade de expressão.

Já o líder do Partido Republicano do Povo (CHP), Kemal Kilicdaroglu, classificou a operação como um "golpe de Estado que não podemos aceitar de forma alguma". "O processo pelo qual estamos passando não é algo que enfrentamos numa democracia saudável. Este é um processo de um golpe", disse.

"Sabor de vingança política"

Na Alemanha, o líder do Partido Verde, Cem Özdemir, declarou que as buscas e prisões são "mais um sinal de alarme" de que a Turquia está se distanciando da Europa e da democracia. Özdemir é o primeiro político de origem turca que foi eleito deputado do Bundestag (câmara baixa do Parlamento alemão).

O Comitê de Proteção a Jornalistas (CPJ), com sede em Nova York, também condenou a batida policial. "Enquanto detalhes ainda estão surgindo, isso já é conhecido: as autoridades turcas, que possuem um histórico de perseguição política contra a mídia, não toleram reportagens críticas", disse o diretor executivo do CPJ, Joel Simon. "Essas ações de mão pesada têm um sabor de vingança política."

Os Estados Unidos também expressaram preocupação com as detenções na Turquia. A porta-voz do Departamento de Estado, Jen Psaki, garantiu que os EUA estão "acompanhando de perto" relatórios e reportagens sobre a batida policial e as detenções.

"Liberdade de imprensa e independência judicial são elementos-chave em todas as democracias saudáveis e estão consagradas na Constituição turca", lembrou Psaki. "Como amigo e aliado da Turquia, instamos as autoridades turcas a assegurar que suas ações não violam valores fundamentais e suas próprias bases democráticas."

"Caça às bruxas"

No dia anterior às detenções, o jornal alemão Süddeutsche Zeitung publicou uma entrevista com o líder islâmico e opositor de Erdogan, Fethullah Gülen. Os jornalistas detidos neste domingo trabalham justamente para meios de comunicação ligados a Gülen.

Na entrevista, o líder islâmico, que vive no exílio no estado americano da Pensilvânia, classificou as ações das autoridades turcas contra opositores como uma "caça às bruxas". "Sob o governo de Erdogan, o país se tornou um Estado de um partido ou, na verdade, até mesmo um Estado de um homem só", criticou.

USA Türkei Islam Fethullah Gülen
"A Turquia se tornou um Estado de um homem só", critica GülenFoto: picture-alliance/dpa

Gülen fundou o Hizmet, um movimento religioso e social transnacional que antigamente lutava contra o poder dos militares na Turquia, mas agora tem como principal alvo o Partido da Justiça e Desenvolvimento (AKP), de Erdogan.

Segundo o Süddeutsche Zeitung, o presidente turco acusa Gülen de querer derrubar o governo com o Hizmet. Erdogan também afirma que o movimento de Gülen está por trás de acusações de corrupção contra seu governo e colocou supostos seguidores do opositor na mira da polícia e da Justiça.

PV/afp/dpa