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"A música como instrumento de luta"

Sabine Weiler13 de março de 2012

A falta de patrocínio adiou por alguns anos o sonho de Marshall de divulgar as suas músicas em CD. Depois de vários anos no circuito independente, o rapper angolano espera para abril o lançamento do seu primeiro álbum.

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Rapper Marshall Kamba Dya Muenho de Angola
Rapper Marshall Kamba Dya Muenho de AngolaFoto: Marshall Kamba Dya Muenho

Ele ainda era pequeno quando se apaixonou pela música. Mesmo com poucas condições foi descobrindo a arte, experimentando rimas, buscando formas e palavras para se expressar através da música. Aos 16 anos deu os primeiros passos na carreira e agora, aos 31, aguarda o lançamento oficial do trabalho que vai ajudar a colocar o rapper no mercado musical.

“Meu maior sonho é que minha mensagem chegue aos ouvidos da população, e que as pessoas curtam nas suas mentes os exemplos, as mensagens que eu trago. Para mim, a música é um grande instrumento de luta porque podemos usá-la de qualquer forma para abrirmos barreiras e mostrar também para o executivo“, diz Marshall Kamba Dya Muenho sobre as dificuldades vividas em Angola, país dirigido pelo Presidente José Eduardo dos Santos.

À espera pelo lançamento do CD

População vai às ruas em Benguela pedir fim do regime de José Eduardo dos Santos
População vai às ruas em Benguela pedir fim do regime de José Eduardo dos SantosFoto: DW

E as músicas de Marshall, aos poucos, já estão ganhando espaço. No dia 28 de abril o rapper vai lançar o seu primeiro álbum.

O CD “Até que Enfim” tem vinte faixas, todas de autoria do ativista angolano. Ele, que também se considera um poeta, conta que tem muita inspiração para escrever músicas de intervenção social e também de política. Mas por causa da escolha destes temas, o rapper, natural de Luanda, acaba enfrentando dificuldades: “O executivo mistura tudo. O álbum não é só de política, não. É um álbum social, de intervenção, tem bons conselhos, tem uma visão total do mundo atual”.

O rapper lembra que não tem marcas com o governo, mas pensa diferente e isso pode gerar alguns conflitos. “Se você é contra, tem as perseguições, as barreiras e não te deixam vender. E eu não admito censura pelos homens do governo”, completa o angolano.

Para Marshall as dificuldades para os músicos em Angola estão cada vez maiores, já que segundo ele, para lançar um CD o artista precisa ter carteira de músico profissional, o que ele não tem, e acredita que não terá tão cedo. “Parece que só cem pessoas vão ter carteira profissional em Luanda. Acho que é uma política mesmo para ver se vedam os artistas de intervenção social política”.

Divulgação da primeira música pela internet

José Eduardo dos Santos é presidente de Angola há 32 anos
José Eduardo dos Santos é presidente de Angola há 32 anosFoto: dapd

Marshall ainda tem um pouco mais de um mês de espera pela frente, mas mesmo assim, já comemora o que conquistou até agora. A música “Será”, que fala da vida social e tem a participação do rapper Simimi Ni Moyo, já está disponível na internet. E logo nos primeiros quatro dias foram 12 mil downloads.

“Isso são só os dados que eu controlo, fora dados de outras pessoas que divulgaram os links. Os taxistas aqui nas ruas de Luanda também estão consumindo bem a minha música. O povo já está mesmo a pedir o álbum antecipadamente”. O rapper está satisfeito com este início de divulgação do trabalho, já que em Angola o acesso à internet ainda é bem restrito. Apenas cerca de 4% da população utiliza a rede mundial de computadores.

O trabalho em outros países lusófonos

Após o lançamento do CD, na primeira fase, vão estar disponíveis cinco mil cópias do trabalho. A quantidade não era o que o rapper gostaria, mas é o resultado do apoio que ele conseguiu em quatro anos de produção de “Até que Enfim”.

Marshall conta que até recebeu outras propostas que poderiam ter facilitado o reconhecimento no cenário musical: “Eu já recebi várias propostas de membros do governo para lançar um álbum e também de uma produtora que é aceita pelo governo, mas eu tinha que mudar o conteúdo. Só que eu nunca estive de acordo com isso, porque a dignidade de um homem não se vende”, explica.

O ativista cívico e social tem como objetivo atravessar fronteiras com o primeiro trabalho. Ele quer levar a sua música também para outros países lusófonos como Moçambique, São Tomé e Príncipe, Portugal e Brasil.

Autora: Sabine Weiler
Edição: Johannes Beck