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"Pressão internacional pode evitar deterioração da situação na Guiné Bissau"

18 de abril de 2012

Força de interposição e pressão da comunidade internacional podem ajudar a desanuviar a situação na Guiné Bissau, opina o analista do Conselho para o Desenvolvimento e Pesquisa Social em Dacar, Carlos Cardoso.

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Soldaten vor Regierungspalast. Bitte einstellen. Soldaten in Guinea-Bissau. Von Jochen Faget. Rechte frei i.A. Christine Harjes
Guinea-Bissau Soldaten vor RegierungspalastFoto: Jochen Faget

Em entrevista à DW África, Carlos Cardoso diz que golpe na Guiné Bissau tem motivações imediatas, mas também causas remotas e estruturais, que explicariam a crise de estabilidade política pela qual tem passado a Guiné Bissau.

DW África: Quais são as reais motivações para o golpe militar?

Carlos Cardoso: Sabe-se que os militares alegam que teria havido um acordo secreto entre o governo da Guiné-Bissau e o governo de Angola. E por isso resolveram levantar-se contra o governo e contra as autoridades constitucionalmente instituídas. Obviamente isso não faz sentido nenhum, porque se deve lembrar que, sendo o governo um órgão constitucional e democraticamente constituído, ele goza de todas as prerrogativas e de legitimidade para assinar os acordos que bem entender, da mesma forma que deve prestar contas e ser responsável obviamente perante os órgãos da soberania sobre aquilo que faz.

Se deve acrescentar ainda uma certa obsessão por parte de algum círculo político, e também mesmo no círculo dos militares, quanto à legitimidade de Carlos Gomes para governar.

DW África: Por aquilo que acabou de referir, aparentemente não é possível resolver a permanente estabilidade na Guiné-Bissau com os militares, mas também dificilmente será possível encontrar uma solução para o país sem eles. Qual é a via?

CC: Eu penso que tem que ser a via do diálogo. Não digo do consenso. Os militares constituem – e eu peso bem as minhas palavras – um ator político de peso e, portanto, sem os militares não se pode fazer nada, disso eu não tenho dúvida. Mas penso que há que haver uma estratégia convenientemente definida pela classe política. Deve ser a classe política a orientar todo o processo e nunca deixar que sejam os militares a determinarem e a ditarem a regra do jogo.

DW África: A CPLP propôs a criação de uma força de interposição para a Guiné-Bissau. É viável esta força e poderá ser ela uma solução para os problemas do país?

CC: O envio de uma força de interposição pode constituir, a curto prazo, solução. Pelo menos para evitar que haja uma degeneração da situação, porque, como nós sabemos, há perseguições e pessoas presas. Portanto, há um medo que comece a generalizar-se em relação à sociedade castrense, à qual eu penso é preciso fazer face. A comunidade internacional penso que deve intervir.

DW África: A comunidade internacional tem condenado o golpe de Estado por unanimindade, e nesta terça-feira (17/04), a União Africana suspendeu com efeitos imediatos a Guiné-Bissau. Esse tipo de medida terá algum peso sobre o Comando Militar?

CC: Penso que pode ter. O Comando Militar naturalmente tem a sua leitura das coisas, tem uma lógica que está a comandá-lo. Mas eu penso que, já que a sociedade civil neste momento está completamente amedrontada, qualquer intervenção ou pressão do exterior pode ajudar a levar as coisas num determinado sentido. E o sentido deve ser o de fazer com que os militares prescindam das suas intenções iniciais e reponham justamente a ordem constitucional.

Entrevista: Helena Ferro de Gouveia
Edição: Francis França/António Rocha