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Pré-candidatos da FRELIMO às presidenciais representam "inclusão" do centro e norte de Moçambique

Leonel Matias (Maputo) / Nuno de Noronha12 de dezembro de 2013

Em Moçambique já são conhecidos os pré-candidatos à sucessão do Presidente do partido no poder, a FRELIMO, Armando Guebuza, para a eleição do novo Chefe do Estado em 2014.

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Campanha eleitoral da FRELIMO em Nampula com vista as eleições gerais de 2004Foto: AP

Os escolhidos são o atual primeiro-ministro, Alberto Vaquina, o ministro da Agricultura e chefe da delegação do Governo nas negociações com a RENAMO, o maior partido da oposição, José Pacheco, e o ministro da Defesa, Filipe Nyusi.

O anúncio foi feito esta quarta-feira (11.12.) pela Comissão Política do partido, quando faltam dez meses para as próximas eleições presidenciais.

O candidato único da FRELIMO, o partido no poder, será encontrado numa sessão do Comité Central daquela formação política que, segundo notícias, poderá reunir-se nos próximos dias 22 e 23 do corrente mês de dezembro.

O atual Chefe do Estado, Armando Guebuza, não faz parte da corrida por impedimento Constitucional, uma vez ter cumprido já dois mandatos no cargo.

Armando Guebuza
Armando Guebuza, Presidente de MoçambiqueFoto: Ferhat Momade/AFP/Getty Images

Perfil do candidatos

Os pré-candidatos fazem parte de uma geração mais nova, com idades que variam entre os 52 e 55 anos, e pela primeira vez nenhum dos membros do grupo é um histórico da luta armada de libertação nacional.

Todos são originários do centro e norte do país, contrastando com o passado em que os presidentes da FRELIMO, tanto antes como após a independência, foram sempre do sul do país, situação que criou sempre um certo mal estar.

O analista político Egídio Vaz explica como é que surgem os nomes dos atuais pré- candidatos: "São três pessoas que falam diariamente com o Presidente da República, um como primeiro-ministro, outro como o gestor de um processo político atual mais sensível e outro como ministro da Defesa, que por natureza deverá informar ao chefe de Estado sobre a situação da defesa a nível nacional nos dias de hoje."

Um dos pré-candidatos é o atual primeiro-ministro Alberto Vaquina, no cargo há pouco mais de um ano, ido de Tete, onde era Governador provincial.

Vaquina, médico natural de Nampula, o maior circulo eleitoral no país, ascendeu a comissão política do partido no último Congresso há um ano.
A capital de Nampula caiu nas mãos do MDM (Movimento Democrático de Moçambique) na oposição nas recentes eleições autárquicas.

Outro pré-candidato é José Pacheco, natural da província de Sofala, terra natal do líder da RENAMO, Afonso Dlakhama, e considerada o bastião do antigo movimento rebelde.

A capital desta província, Beira, é uma das cidades que está sob governação do partido MDM, a segunda maior força da oposição.

José Pacheco, um engenheiro agrónomo, é membro da Comissão Política da FRELIMO, já foi vice-ministro da Agricultura e das Pescas, governador da província de Sofala e ministro do Interior.

Atualmente é ministro da Agricultura e chefe da delegação do Governo nas negociações com a RENAMO.

Outro pré-candidato é Filipe Nyusi, natural de Mueda, em Cabo Delgado, bastião da FRELIMO. Ele ingressou na formação em 1973 ainda durante a luta armada.

Atualmente ministro da Defesa, ele trabalhou antes na área dos caminhos de ferro, onde ocupou vários cargos.

Reação positiva as reivindicações de inclusão

O analista político Amorim Bila afirma que o perfil dos pré-candidatos revela que o partido está num processo de renovação: "Significa que a FRELIMO chegou a um bom entendimento que era preciso fazer a passagem de testemunho, e a sociedade já reclamava isso, que devia ser um indivíduo da nova geração. Depois daquele grande problema, desde a fundação da FRELIMO, de que há uma zona geográfica privilegiada esta escolha vem responder o contrário, de que afinal de contas a FRELIMO aglutina todas as sensibilidades do ponto de vista da representação geográfica para assumir a liderança." Para Egídio Vaz, historiador, José Pacheco leva vantagem em relação aos seus opositores: "Consegue conciliar a experiência política, a idade, a proveniência regional, bem como a experiência da governação. Não vejo Alberto Vaquina como Presidente da República, principalmente quando há candidatos como Pacheco que o podem fazer bem. Nyusi tem o mérito de ser uma das poucas figuras limpas nessa admnistração, mas extremamente novo no jogo político e não pasou a nenhum teste sério."

José Pacheco tem sido apontado como fazendo parte da "linha dura" do partido e responsável pelos sucessivos impasses nas negociações que se arrastam desde maio de 2012 com a RENAMO.

Mas Egidio Vaz diz que Pacheco obedecia a um comando do Governo e do Partido.

Saída de Guebuza, um défice na área económica?

Com a saída de Armando Guebuza da Presidência de Moçambique, que completa em 2014 o limite constitucional de dois mandatos consecutivos, o país poderá enfrentar dificuldades sobretudo no que toca à expansão de Moçambique, caso a escolha do candidato não tenha em conta o contexto atual do país.

Calton Cadeado, analista político do Centro de Estudos Estratégicos e Internacionais em Moçambique, explica porquê: "Do ponto de vista económico acho que poderemos perder um pouco: O Presidente Guebuza trouxe uma vantagem muito grande do ponto de vista da diplomacia económica para Moçambique. A vibração com que ele fez da imagem e dos recursos do país, com todas as crítica que se podem fazer... mas ele promoveu o país."

E o analista questiona: "Agora, o próximo Presidente, se for o Pacheco, ele é mais político do que economicista. E é isso que para mim deve integrar agora: que tipo de Presidente precisamos para este contexto?"
Quanto ao futuro de Armando Guebuza, este especialista prevê que o líder da FRELIMO continue a dedicar-se aos negócios pessoais e ao partido: "A primeira coisa que ele deverá querer fazer é trirar um bom tempo de descanso, porque essas coisas de governação é um desgaste, as pessoas envelhecem de um dia para o outro. Mas o que mais parece provável que volte à sua vida partidária, que se concentre na sua vida de negócios."

Quanto às eleições de 2014, a realidade política de Moçambique é bem diferente das últimas duas corridas presidenciais. E, por isso, poderá haver surpresas, defende Calton Cadeado: "Acho que temos novos contextos, e acredito que as eleições de 2014 vão ser extremamente renhidas. E há outros aspetos que serão incluidos agora na equação. O MDM, segunda maior força da oposição, já começou a ganhar mais municípios, há um eleitorado mais atento, o MDM vai conquistar mais votos e vai alargar os seus representantes, os seus parlamentares na Assembleia da República, há uma indicação clara para isso."

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Calton Cadeado
Calton Cadeado, analista político do Centro de Estudos Estratégicos e Internacionais em MoçambiqueFoto: privat
Jose Pacheco
José Pacheco, ministro da agriculturaFoto: Leonel Matias
Rohstoffprojekte in Afrika Kohleabbau in Mosambik
Alberto Vaquina, primeiro-ministro de MoçambiqueFoto: Marta Barroso
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