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Por que o HSBC vai trocar o Brasil pela Ásia?

Guilherme Becker10 de junho de 2015

Crise de imagem por causa de recentes escândalos, erro estratégico de não perceber avanço da classe média e alta atratividade do mercado asiático são motivos apontados por especialistas. Correntistas não correm riscos.

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Foto: picture-alliance/dpa/F. Arrizabalaga

Erros estratégicos, escândalos recentes, reestruturação financeira pós-crise do subprime (ocorrida na segunda metade da década de 2000), perda de participação no mercado e busca por um ambiente de negócios mais dinâmico – no caso, o asiático. Esses são alguns dos motivos que podem ter levado o HSBC a anunciar, nesta terça-feira (09/06), o encerramento em breve de suas atividades no Brasil.

Com a provável compra da rede britânica por outra instituição bancária – possivelmente, brasileira –, mais de 20 mil trabalhadores brasileiros ficarão à mercê da negociação. Em todo o mundo, até 50 mil funcionários serão afetados pela reestruturação. Parte do contingente será realocado diretamente nos setores bancário e financeiro. Cortes, porém, são muito prováveis, afirmam especialistas.

Para o economista Fernando Ferrari Filho, são duas as questões que podem ter levado o HSBC a deixar o Brasil: os escândalos provenientes de lavagem de dinheiro, que macularam a imagem da empresa num mercado no qual não tinha atuação tão forte; e a reestruturação devido à crise do subprime, que levou o grupo a perceber que seria muito complicado expandir-se, em termos de varejo, no país.

"O HSBC nunca chegou a ter um poder de mercado significativo no sistema financeiro brasileiro. Suponho que a decisão esteja relacionada a uma certa maculação da empresa junto ao público e à falta de perspectiva em termos de expansão", analisa Ferrari, professor da Universidade Federal do Rio Grande do Sul.

Hongkong Gebäude der Bank of China, Cheung Kong Center und HSBC
Principal sede do HSBC em Hong Kong (à direita): mudança deve abrir ainda mais mercados no sudeste da ÁsiaFoto: AFP/Getty Images/M. Clarke

Já para o economista Alfredo Meneghetti Neto, a concorrência acirrada dos oligopólios bancários – quatro das dez maiores empresas em termos de patrimônio e valor de mercado, no Brasil, são bancos – e o erro estratégico de não perceber o avanço da classe média, nos últimos dez anos, levaram à mudança de rota do HSBC.

"Mesmo que tenha um domínio forte em termos mundiais, o HSBC, no Brasil, sofre uma concorrência acirrada. Consequemente, perdeu market share [participação no mercado]. Também creio que houve um erro de estratégia ao não privilegiar a nova classe média brasileira. Bancos privados e públicos miraram esse público emergente e fizeram por meio dele a sua estratégia financeira", avalia Neto.

Clientes e funcionários à espreita

Quem tem conta no HSBC corre o risco de perder tudo? Muito provavelmente, não. A aquisição de um banco por outro não significa perda de rendimentos. Para Ferrari, a negociação pode até trazer vantagens devido a taxas de administração e rentabilidade de ativos.

"Não vejo a situação como preocupante. Ela seria preocupante se houvesse uma situação de possível insolvência do sistema financeiro do HSBC que pudesse gerar uma corrida bancária ou uma especulação acerca de uma intervenção do Banco Central. Mas, em se tratando de uma decisão voluntária, articulada, planejada, não vejo maiores problemas", diz.

Bank Gebäude HSBC
Venda de participação do grupo bancário, no Brasil, tende a deixar milhares de desempregadosFoto: Getty Images

O problema maior, neste caso, está com os funcionários. Mesmo longe de uma crise bancária, o Brasil deverá ter, em breve, diversos trabalhadores do setor em busca de emprego. E, apesar da aquisição da rede britânica por outro banco, a absorção integral dos mais de 20 mil funcionários é muito improvável.

"Qualquer fusão entre empresas ou qualquer aquisição de uma empresa por outra implica uma diminuição da estrutura produtiva", afirma Ferrari.

Neto concorda e lembra da dificuldade de readmissão direta pelo mercado de trabalho. Com previsão de retração de 1% da economia em 2015, o especialista lembra que o mercado não deve abrir muitas oportunidades.

Mercado asiático

A alteração de rota dos negócios do HSBC, saindo do Brasil e da Turquia rumo ao sudeste asiático, é um claro sinal de que o mercado da região, apesar de também ter sofrido desaceleração nos últimos anos, ainda é auspicioso – mais do que o brasileiro, ao menos para o HSBC.

Para Neto, a ascensão de uma nova classe emergente na China, de maneira semelhante ao que ocorreu no Brasil, na última década, aumenta o foco na região. E o HSBC deve se concentrar nela com a expectativa de aumentar a participação no mercado mundial.

Ferrari concorda: "Vislumbrar perspectiva no mercado asiático para daqui a 10, 15, 20 anos, é, hoje em dia, 'jogo-jogado', ou seja, já se sabe o resultado. E essa pode ser a estratégia do HSBC: concentrar as ações naquela região para ter poder de mercado", conclui.