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"Pergunto-me como é possível sobreviver na Síria", diz refugiado

Monika Griebeler (rc)25 de setembro de 2013

Certa noite, oito meses atrás, as bombas começaram a cair, de modo nada supreendente, porém repentino. Mohamad fugiu com a família da Síria para a Turquia. Ele relata a sua história à DW.

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Mohamad vive há oito meses num país estranhoFoto: DW/M. Griebeler

"Na verdade, não queríamos vir para a Turquia, mas tivemos que abandonar nossa casa. Em janeiro de 2013, as bombas começaram a cair em nosso vilarejo. No meio da noite, fugimos para o campo. Continuamos a ser bombardeados – os campos, o vilarejo inteiro. Imagine só, eu estava com os meus filhos, minha mulher, chovia, estávamos completamente molhados e ainda sendo bombardeados.

No campo, dormimos sem nossos cobertores, sem barracas, apenas com a roupa do corpo. As crianças sofreram tanto, a pele deles estava azul de frio. E o bombardeio simplesmente não parava. Depois de dois dias no campo, finalmente conseguimos arrumar um transporte. Nem voltamos mais para casa, viemos direto para a Turquia.

Em busca de um lugar seguro

Há muitas crianças traumatizadas pelos bombardeios e pela guerra. Meu filho se assusta toda vez que um avião passa. Quando vê destruição na televisão, chora e se agarra à mãe. Ele chora com frequência.

Alguns dos meus vizinhos entraram em colapso, e as crianças ficaram histéricas de medo. Aprendi a acalmar meu filho e as meninas, abraçando-os com frequência e me mantendo calmo, eu mesmo.

O Exército sírio invadiu a casa da minha prima, eles levaram as cinco crianças dela e as fuzilaram na frente de casa. Os soldados levaram os corpos para o campo e os queimaram. Eu vi tudo, eles as mataram e queimaram.

Bombas também na Turquia

Syrien Flüchtlinge in Boynuyogun Türkei
Campo de refugiados sírios na fronteira entre Turquia e SíriaFoto: REUTERS

Quando chegamos ao campo de refugiados na Turquia, chovia a cântaros. A barraca estava molhada. O chão estava molhado. Tudo estava molhado e sujo. Era difícil chegar até os banheiros. Nós não queríamos ficar ali.

Então fomos para a cidade fronteiriça de Reyhanli. Ficamos em choque quando duas bombas explodiram ali em maio. Pensei que era obra do regime de Assad. Como é que se pode fazer uma coisa dessas?

Nós fugimos da guerra, buscando refúgio e segurança. E aí eles jogam duas bombas ali. Onde poderíamos viver em segurança?

Nosso aluguel é de 700 liras – uns 280 euros. É muito dinheiro, que eu nem sempre tenho. Sou um homem honesto, sempre trabalhei. Nunca usei "haram money" [dinheiro sujo]! Mas agora! Agora tenho que pedir emprestado aos amigos. Não consigo encontrar trabalho, e minhas economias estão esgotadas.

Procurei um emprego aqui na cidade. Aí me disseram que não havia trabalho para engenheiros, a cidade é pequena demais. Por isso comecei como lavador de pratos num restaurante, tinha que trabalhar das sete horas da noite às sete da manhã. Era muito estressante e desagradável. A gordura sempre gruda nos pratos. Ganhava 25 liras por dia, em torno de 10 euros. Trabalhei lá só um dia.

Dificuldades para trabalhar

Algumas pessoas me disseram que eu poderia procurar trabalho em Antakya ou em Istambul, mas é difícil, porque eu não falo turco. Também telefonei a amigos na Holanda e na Arábia Saudita, para saber se não haveria trabalho lá. Tenho que sustentar minha família e meus parentes. Por isso, vou para qualquer lugar onde possa encontrar trabalho.

Inicialmente, quando nos mudamos de Reyhanli para Kirikhan, os turcos na casa tinham medo de nós, sírios. Ao que tudo indica, tinham ouvido coisas terríveis de nós na imprensa. Mas depois de nos conhecerem, a situação melhorou. Agora nos entendemos bastante bem.

E, na verdade, aqui as coisas estão bem. A Turquia é parecida com a Síria. O único problema é que sempre nos perguntamos: o que está acontecendo agora no nosso país? Como estão as pessoas? Como elas conseguem viver – e sobreviver?

E estamos muito preocupados com nossos filhos. Elas não podem ir à escola, não podem estudar numa universidade. Por isso, nossa maior preocupação, nossa maior reclamação, é o futuro das nossas crianças."