1. Ir para o conteúdo
  2. Ir para o menu principal
  3. Ver mais sites da DW

Peer Steinbrück ou Angela Merkel

Jeanette Seiffert/Wolfgang Dick/António Cascais19 de setembro de 2013

Os alemães vão às urnas a 22 de setembro. Os principais candidatos à chefia do novo governo são a atual chanceler e presidente da "União Democrata Cristã" (CDU) e o presidente do Partido Social Democrata (SPD).

https://p.dw.com/p/19iAD
Peer Steinbrück (esquerda) e Angela Merkel: as fotos foram tiradas a 3 de setembro de 2013, durante o debate que decorreu no parlamento federal (Bundestag), a menos de três semanas das eleições
Foto: picture-alliance/dpa

Angela Merkel não é apenas a detentora da pasta de chefe de Governo da Alemanha, como também a favorita à vitória nas legislativas de 22 de setembro de 2013. Segundo todas as sondagens, ela é – a título individual – mais popular que o seu principal rival. Mas isso não quer dizer que a vitória já esteja certa e que não haja críticas contra ela.

Receita de sucesso de Merkel: silêncio, observação e ação posterior

O estilo de Angela Merkel fazer política tem sido objeto de muitos comentários: todos são unânimes em afirmar que a chanceler é ponderada, ou seja que prefere esperar, pensar e repensar antes de decidir.

Um dos temas que a chanceler "amenizou" foi o tema da espionagem em massa de cidadãos e organizações, alegadamente praticada pelos serviços secretos norte-americanos (NSA) e britânicos (GCHQ), entre outros.

Peer Steinbrück ou Angela Merkel - quem vai liderar o próximo governo da Alemanha?

O caso era suscetível de causar problemas a Angela Merkel, em plena campanha eleitoral: os EUA, aliados próximos da Alemanha, espionaram com todas as artimanhas os cidadãos alemães e ainda com a ajuda dos serviços secretos alemães.

Merkel, como chefe de Governo, estaria – normalmente – em maus lençóis. De início, a chanceler calou-se, para depois emitir um dos seus típicos comentários, de conteúdo tão inconcreto, simples e geral que pouca gente se atreveu a contradizê-lo. As palavras de Angela Merkel: "Os serviços secretos não devem atuar fora da legalidade, as coisas têm que se tornar mais transparentes, para que a gente tenha melhor conhecimento sobre o que se passa dentro dos serviços secretos."

Há quem diz que Merkel não resolve os problemas. Espera que eles passem por si só. Ou espera até que surja uma opinião maioritária, para a ela se adaptar com grande rapidez. Há quem chame a isso pragmatismo. Outros classificam essa tática de oportunista. O "método Merkel" é sinónimo de abstenção de opinião própria. Mas esse método nem sempre é aplicado.

Konferenz zur Bekämpfung der Jugendarbeitslosigkeit in Europa
Angela Merkel convoca reuniões a nível europeu e consegue assim aumentar a sua autoridade. Na foto: Merkel com alguns dos ministros de Trabalho europeus, na abertura da Conferência Internacional para o Combate ao Desemprego Juvenil, no dia 3 de julho de 2013Foto: picture-alliance/dpa

Merkel: mulher férrea, de convicções fortes

Angela Merkel também prova regularmente que é capaz de ser determinada, por exemplo no palco europeu. As maratonas negociais referentes às tentativas de resolução da crise do euro mostraram a outra face da chanceler alemã: a de uma mulher férrea, com convicções fortes de que não abdica.

Nem toda a gente aprova a postura de Angela Merkel, a mulher que impõe aos países em crise da Europa – Grécia, Portugal, Irlanda e Chipre – duras medidas de austeridade.

Mas uma coisa é certa: com a sua política de salvação da moeda única, ela também conquistou muito respeito a nível internacional. A opinião é partilhada pelo jornalista e escritor Ralph Bollmann: "Merkel tem mostrado um talento invulgar ao lidar com a crise do Euro. Por um lado conseguiu acalmar os alemães mais eurocéticos, por outro lado mostrou que é uma europeísta, dizendo que tudo faria para salvar o Euro, exigindo aos países sob resgate reformas profundas, por vezes contra a vontade de alguns dos seus próprios correligionários."

A mulher política mais subestimada dos últimos decénios

A jornalista alemã, Jacqueline Boysen, autora de uma biografia de Merkel, lembra que "Angela Merkel cresceu numa pequena cidade de província na extinta Alemanha do Leste e que, como filha de um pastor protestante, sempre foi menosprezada. Mais: Merkel é provavelmente a política alemã mais subestimada desde o fim da segunda grande guerra, em 1945."

Merkel, com o seu estilo de governar sério e sóbrio, conseguiu conquistar respeito, não apenas no seio do seu próprio partido, como também fora dele. As decisões de Merkel por vezes ultrapassam supostas barreiras ideóligicas ou programáticas.

O seu próprio partido, a União Democrata Cristã (CDU), não é sacrossanto. Angela Merkel faz questão de sublinhar essa sua faceta pragmática: "Acredito que os cidadãos não querem apenas os habituais e eternos conflitos. As pessoas querem soluções concretas para os seus problemas concretos. Os diferentes partidos podem ter diferentes propostas, mas pode e deve-se conversar sobre todas elas", disse Merkel à margem de um evento de campanha eleitoral.

Angela Merkel DDR
A infância e juventude de Angela Merkel foi passada na extinta RDA. Quem a conheceu relata que ela não era adepta fervorosa do regime, mas também não era muito crítica. Na foto: Merkel fez campismo em 1973 depois de ter finalizado a escola secundáriaFoto: picture-alliance/dpa

Já não é tratada por "menina", mas simplesmente por "Mutti" (mãezinha)

Pragmatismo é o mais importante para Merkel. Ela é capaz de desistir de posições antigas e adotar novas, sem grandes problemas. Depois do acidente nuclear de Fukushima no Japão ela – que sempre defendeu a energia atómica – foi capaz de se transformar na chefe de Governo que decidiu que a Alemanha deveria abandonar o nuclear.

Ora essa mudança radical não a prejudicou. Pelo contrário: Angela Merkel parece ter subido na escala de consideração dos alemães. Hoje já não é tratada como a "menina de Helmut Kohl", o chanceler conservador que governou a Alemanha de 1982 a 1998. Agora Angela Merkel tem a alcunha de "Mutti", ("mãezinha"), o que constitui "um elogio", segundo a biógrafa Jacqueline Boysen. Ela controla o seu partido, assim como o Governo alemão.

A carreira de Merkel começou na extinta RDA

Muitas das suas qualidades de liderança terão, talvez, sido adquiridas durante a sua juventude na República Democrática da Alemanha (RDA): "Angela Merkel não era uma fervorosa adepta do regime comunista, mas também não era nenhuma oposicionista", lembra Jacqueline Boysen e adianta: "O que mais a terá influenciado é o facto de ela ter crescido num sistema, em que ela nem sempre podia fazer e dizer o que queria."

Cedo teve que aprender que era necessário, por vezes, adaptar-se ao sistema, e ser cautelosa perante outras pessoas. Sobretudo era necessário ouvir e observar os outros. Quem conhece Angela Merkel confirma que ela tem uma excepcional capacidade de comunicação.

Bayreuther Festspiele Bayern Wagner Ring des Nibelungen Merkel Roter Teppich
Angela Merkel, acompanhada do seu marido Joachim Sauer, visitou o festival de música de Wagner em Bayreuth, no dia 25 de julho de 2013.Foto: picture-alliance/dpa

Sobre a sua vida privada pouco se sabe: ela estudou Física em Leipzig e casou em 1977 o seu colega de faculdade Ulrich Merkel e mudou o nome de Angela Kasner para Angela Merkel. Em 1981, quatro anos depois do casamento, divorciou-se. Em 1998 voltou a casar, desta vez com o cientista em Química Joachim Sauer.

Normalmente Merkel não fala sobre a sua vida privada, mas durante a campanha aceitou desvendar alguns detalhes: soube-se – por exemplo – que ela gosta de fazer bolos, mas que o seu marido por vezes se queixa, dizendo que "gosta deles mais doces". Angela Merkel afirma que não é fácil agradar a todos: "Se falo sobre assuntos particulares, pedem-me para falar mais sobre política. Se falo sobre política, acusam-me, por vezes, de não estar interessada noutra coisa."

Das bases ao topo

Merkel, spätere Bundeskanzlerin, beugt sich während des CDU-Parteitags in Dresden zu ihrem Mentor Bundeskanzler Kohl
Merkel e o seu "mentor", o ex-chanceler alemão, Helmut Kohl, durante o congresso da CDU. Foto tirada no dia 16 de dezembro de 1991Foto: picture-alliance/dpa

Foi bastante tarde e apenas depois da queda do Muro de Berlim em 1989, que Angela Merkel, uma cientista doutorada em Física, descobriu a política. Em 1990, ela fez parte de um partido conservador recém formado, o Demokratischer Aufbruch ("Despertar Democrático") e foi vice-porta-voz do último primeiro-ministro da RDA, Lothar de Maizière. Assim viveu de perto os poucos meses do único governo democraticamente eleito da RDA que acabou com a reunificação da Alemanha em finais de 1990.

E aí pode aplicar, pela primeira vez, as suas qualidades de liderança. Em 1994 torna-se ministra do Ambiente da Alemanha unida, num governo liderado pelo chanceler Helmut Kohl. Depois da derrota de Kohl nas legislativas de 1998, o seu partido atravessa uma fase de crise. É a oportunidade ideal para Merkel assumir o cargo de secretária-geral da CDU. Mais tarde assume mesmo a presidência do partido, depois de ela própria ter apoiado o derrube do seu ex-mentor Helmut Kohl.

13 anos de liderança da CDU, 8 anos de liderança do Governo federal da Alemanha: Merkel não tem concorrentes internos, sobretudo porque – ao longo dos anos – conseguiu livrar-se deles. Mostrou que sabe guiar o partido e o Governo. Mas os críticos dizem que é difícil reconhecer um rumo, uma estratégia. "Para onde navega o navio de Merkel?", questionam os observadores.

Statement Steinbrück
Peer Steinbrück: em 2012 o seu partido SPD decidiu que seria ele o rival de Angela Merkel nas legislativas de 2013Foto: picture-alliance/dpa

Peer Steinbrück, o adversário de Merkel

Peer Steinbrück é o candidato do maior partido de oposição, o Partido Social Democrata (SPD). Ele é considerado um homem inteligente, bom orador e conhecedor dos dossiers, sobretudo na área das Finanças. As últimas sondagens não lhe são favoráveis, mas Steinbrück, de 66 anos de idade, não desiste e diz que continua a acreditar na vitória. O seu discurso é simples, explícito e sem rodeios: "Quero ser chefe de Governo da República Federal da Alemanha", afirmou repetidamente.

Peer Steinbrück – descendente de uma família burguesa de comerciantes de Hamburgo – é um homem experiente nas andanças da política. Depois de ter concluido o seu curso superior de Economia ingressou rapidamente na política e subiu – degrau por degrau – na hierarquia do seu partido SPD, ocupando vários cargos.

Foi ministro presidente do Estado da Renânia do Norte-Vestefália e foi também ministro federal das Finanças, por curiosidade num governo liderado precisamente por Angela Merkel, no período da grande coligação entre a CDU e o SPD entre 2005 e 2009.

Steinbrück conhece, pois, bastante bem a sua rival e atual chanceler. Reconhece-lhe qualidades, mas não lhe poupa críticas: "Merkel limitou-se a administrar o que já existia. Com ela não houve nenhuma inovação. Os seus programas de apoio ao crescimento económico foram todos elaborados nos tempos em que o meu partido SPD ainda estava no governo."

Flash-Galerie Angela Merkel 2008 Finanzkrise
Peer Steinbrück ocupou o cargo de ministro das Finanças, no primeiro Governo de Angela Merkel em 2005. Os dois governaram numa "grande coligação" entre o CDU/CSU e o SPDFoto: picture alliance / dpa

Steinbrück: as dificuldades em construir imagem credível

Peer Steinbrück quer-se apresentar como homem de ação homem movido pela solidariedade com os mais vulneráveis da sociedade. Mas ele tem um problema: antes de ser nomeado candidato do seu partido à chefia do Governo, em 2012, ele ganhou muito dinheiro, fala-se em mais de um milhão de euros, participando em conferências e fazendo preleções sobre temas económicos e financeiros, sobretudo a convite de grandes bancos.

Muitos observadores duvidam por isso da sua credibilidade: "Como pode um homem que aceitou tanto dinheiro dos grandes bancos fazer uma política que restrinja os interesses do grande capital?", questionam. Peer Steinbrück foi alvo de muitas críticas durante a campanha eleitoral. Mesmo no seio do seu próprio partido, SPD, não goza apenas de simpatias.

Esposa de Peer Steinbrück defende o marido e provaca lágrimas

SPD-Kanzlerkandidat Peer Steinbrück mit Ehefrau Gertrud Steinbrück
O candidato Peer Steinbrück com a sua esposa Gertrud Steinbrück: os dois deram uma entrevista à televisão alemã em junho de 2013Foto: Reuters

Num programa de televisão Gertrud Steinbrück, a esposa de Peer Steinbrück, tomou a palavra a favor do seu marido, defendeu que "ele é um marido leal e uma pessoa em que se pode e deve confiar". As palavras provocaram as lágrimas emocionais de Peer Steinbrück.

Porque chorou Peer Steinbrück em público, questionaram os jornalistas e o próprio respondeu da seguinte forma: "A minha esposa exprimiu em poucas palavras uma coisa que me comoveu bastante. Senti-me entendido. Normalmente sou acusado de não mostrar emoções. Já me classicaram de 'carapau congelado', mas aqui está a prova que eu sou capaz de mostrar emoções, por exemplo quando a minha mulher toca a minha alma."

Esperto, inteligente, mas afeito a lições de moral

A postura normal de Steinbrück é a de um homem esperto e inteligente, por vezes um pouco agressivo, e arrogante, afeito a lições de moral e pouco diplomático. Por exemplo, rotulou o então primeiro-ministro da Itália, Silvio Berlusconi, como "palhaço".

Muitos acham que o seu estilo nem sempre se coaduna com o seu SPD, um partido que fez uma ligeira viragem à esquerda e que defende um aumento de impostos para os ricos e – em poucas palavras – mais justiça social numa sociedade cada vez mais competitiva como a alemã.

Palavras de Peer Steinbrück: "Nos últimos anos os alemães mais ricos conseguiram aumentar considerávelmente as suas fortunas. Os ricos tornaram-se assim cada vez mais ricos e os pobres cada vez mais pobres. Isso é um facto publicado pelo Instituto Federal de Estatísticas e não inventado pela SPD ou por mim, Peer Steinbrück. E, por isso, penso que podemos taxar um pouco mais as fortunas privadas acumuladas. E as receitas deveriam ser investidas na área do ensino, para a construção de infraestruturas e também para a redução da dívida do Estado e das autarquias."

Steinbrück é também a favor da introdução de um salário mínimo nacional, uma coisa que não ainda não existe na Alemanha, assim como quer aumentar a permeabilidade da sociedade, ou seja as possibilidades de subir na escala social, independentemente da origem ou do sexo. Existe aqui um outro pequeno déficite de credibilidade, porque ainda há poucos anos Steinbrück estava na linha da frente, apoiando o pacote de reformas, ou seja os cortes sociais do ex-chanceler social-democrata Gerhard Schröder.

SPD-Kanzlerkandidat Peer Steinbrück weint
Peer Steinbrück comoveu-se com as palavras de incentivo da sua esposa e durante a entrevista e não conseguiu conter as lágrimasFoto: picture-alliance/dpa

Política externa: Steinbrück quer mais defesa dos direitos humanos

No campo da política externa, as posições de Steinbrück são ligeiramente diferentes das de Angela Merkel, pelo menos em teoria. Os serviços secretos deverão ser obrigados a respeitar melhor o código alemão referente à proteção dos dados pessoais dos cidadãos. A adesão da Turquia à União Europeia deverá ser apoiada. A Rússia deverá ser intimada a respeitar os direitos humanos.

E os países do sul da Europa como Portugal, altamente individados, deverão ver aligeiradas as medidas de austeridade. Ao mesmo tempo, Steinbrück, sublinha que constinuará a exigir reformas destes países: "Sou a favor das reformas, mas penso que a dose de austeridade prescrita por Merkel é demasiado alta e pode ser fatal para os países afetados, que poderão entrar numa espiral suscetível de os conduzir ao abismo."

Conseguirá Peer Steinbrück substituir Angela Merkel na cadeira da chanceleria?

Ser eleito como chanceler seria um sonho para este economista de Hamburgo, que aos 21 anos de idade aderiu ao Partido Social Democrata, contra a corrente da sua família, porque – nas suas palavras – estava fascinado com a política e personagem de Willy Brandt, o seu ídolo político.

Willy Brandt governou a Alemanha Ocidental entre 1969 e 1974 e tinha um objetivo: aumentar a reputação da Alemanha no mundo e diminuir as tensões entre o Bloco Ocidental e o Bloco Leste.

Hoje as prioridades da Alemanha reunificada são outras – mas existem paralelos: hoje – mais do que nunca – é necessário aproximar os povos, salienta Peer Steinbrück: "Se querem que a Europa permaneça um continente da paz e da boa vizinhança, e também da paz social a nível interno, então têm que empenhar-se e lutar por isso!"

O sonho de Steinbrück agora é conseguir formar uma coligação de governo com os Verdes e substituir Angela Merkel que já ocupa o cargo de chefe de Governo há oito anos.

Pressekonferenz von Peer Steinbrück und Katrin Göring-Eckardt
Conferência de imprensa conjunta de Peer Steinbrück e de Katrin Göring-Eckardt, do partido os Verdes, no dia 11 de julho de 2013. É com o partido ecologista que Steinbrück quer formar um novo governo, em substituição do governo conservador-liberal de Angela MerkelFoto: Reuters
Saltar a secção Mais sobre este tema