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Passada a Copa, falta público para estádios na África do Sul

17 de dezembro de 2012

Dois anos depois da Copa do Mundo de 2010, ocupação e conservação das arenas deixa a desejar. Média de público dos jogos locais é muito baixa para estrutura e a capacidade dos estádios.

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Foto: picture-alliance/dpa

O dia 3 de julho de 2012 ficará gravado na memória dos torcedores alemães, quando sua seleção eliminou a Argentina com uma goleada de 4 a 0 em um jogo emocionante no estádio Green Point na Cidade do Cabo. A equipe alemã castigou impiedosamente o time de Lionel Messi diante de 64 mil espectadores em uma das mais belas arenas da Copa do Mundo da África do Sul.

Durante a Copa, a arena recebeu elogios de todas as partes do mundo, tanto por sua arquitetura quanto por sua localização, próxima ao oceano atlântico, com a Montanha da Mesa ao fundo. Após o torneio, a prefeitura local assumiu a administração do estádio, mudando seu nome para Estádio da Cidade do Cabo. A arena é utilizada principalmente pelo clube Ajax Cape Town, que disputa a Premier Soccer League (PSL), a primeira divisão do futebol sul-africano.

O dirigente do Ajax, o alemão Max Grünewald, nota os efeitos positivos da Copa do Mundo de 2010 para a sua equipe. "É visível o aumento de público nas partidas", observa. A dúvida é se o maior número de espectadores se deve apenas ao efeito pós-copa, quando muitos não podiam comprar ingressos para as partidas, ou se esta seria de fato uma tendência.

A arena se encontra em uma localização privilegiada, junto ao mar e as montanhas.
A arena se encontra em uma localização privilegiada, junto ao mar e as montanhasFoto: picture alliance / dpa

Para Grünewald, trata-se de algo passageiro. A média de público atual é de apenas 9 mil espectadores. "Deve-se levar em conta que em jogos contra times grandes, como o Kaizer Chiefs, a lotação chega a 60 mil pessoas. Existem, porém, os jogos menores, com a presença de mais ou menos 500 torcedores, o que faz esse estádio grandioso parecer vazio", observa o dirigente.

O mesmo acontece com outros estádios da Copa. Os Kaizer Chiefs de Johanesburgo costumam jogar no Soccer City, o maior do país, também construído para o Mundial de 2010. "O clássico do Kaizer contra o Orlando Pirates lota, 80 mil ingressos vendidos, o que é impressionante", analisa Grünewald. "Mas em outras partidas o estádio geralmente fica vazio."

Times sem estádio próprio

O Ajax Cape Town é o principal locatário do estádio da Cidade do Cabo. "Não somos os donos da arena", explica Grünewald. "Nenhuma equipe sul-africana tem seu próprio estádio, todos são alugados."

Não é incomum que os maiores times do país disputem seus jogos "em casa" em outras cidades, o que seria impensável em outros países. "Imagine se o Bayern de Munique tivesse mando de campo em um jogo na cidade de Hamburgo. Circunstâncias como essas dificultam a formação de uma base fiel de torcedores", lamenta o dirigente.

O estádio da Cidade do Cabo, construído para a Copa de 2010 .
O estádio da Cidade do Cabo, construído para a Copa de 2010, passa boa parte do tempo vazioFoto: DW/A.Boettcher

"A demolição do estádio já chegou a ser cogitada, mas acabou não sendo levada adiante, até por uma questão de orgulho", explica o alemão. "Muito dinheiro foi investido para a construção da arena nesse local, próximo ao mar, de frente para a Montanha da Mesa e dentro da cidade. Mas também deveriam ter considerado outras possibilidades mais baratas para a Copa do Mundo."

"O estádio se autofinancia"

Estima-se que o imponente estádio tenha custado em torno de 450 milhões de euros. Mas a gerente comercial do estádio da Cidade do Cabo, Pam Naidoo, não aceitas críticas quanto aos custos.

"Um grupo de lobistas sempre vem com o argumento de que o estádio é caro demais. Eu não concordo com a afirmação de que a arena deva ser demolida em razão de prejuízos, porque ela consegue bancar os seus próprios custos", defende Naidoo.

A prefeitura tenta aumentar a rentabilidade da arena com a realização de shows. Bandas como U2, Coldplay, Linkin Park e Eagles atraíram dezenas de milhares de pessoas ao local. Fora os concertos, a receita vem de conferências, casamentos e tours no estádio, que também costuma ser utilizado como locação para filmes de Hollywood e Bollywood. Naidoo garante que "o interesse no local é grande. Desde janeiro de 2011, mais de 700 mil pessoas já vieram visitar nossa arena."

Mas o dinheiro gerado pelo estádio da Cidade do Cabo não é suficiente. Só no ano passado, a prefeitura gastou em torno de 50 milhões de rands sul-africanos (aproximadamente 437 mil euros) em manutenção, enquanto a arena teve uma renda de apenas 11 milhões de rands. Para equilibrar as contas, o estádio deverá abrigar também restaurantes, bares, salas de reuniões, escritórios e um centro para visitantes.

O estádio Soccer City, em Johanesburgo, também sofre com a falta de público.
O estádio Soccer City, em Johanesburgo, também sofre com a falta de públicoFoto: AP

Cidade do Cabo fora da Copa da África

As iniciativas para trazer de volta os dias de glórias ao estádio da Cidade do Cabo sofreram um duro golpe. A África do Sul receberá, no início de 2013, a Copa da África, o mais importante torneio do continente, mas a cidade sede do governo ficará de fora do evento.

"Nós nos candidatamos, mas alguns dos pré-requisitos financeiros exigidos pelo governo estavam além das nossas possibilidades. Foi um grande embaraço, sabemos que muita gente ficou decepcionada", disse Naidoo.

Para Grünewald, "é um absurdo que não se utilize nesse torneio um dos estádios mais bem equipados do país". Segundo o gerente do Ajax, "o campo em alguns dos estádios das outras cidades está em péssimo estado de conservação".

Desde que a FIFA deixou de administrar as arenas, os cuidados necessários foram sendo negligenciados. "As condições dos gramados muitas vezes são péssimas", explica Grünewald.

A realização dos Jogos Olímpicos na Cidade do Cabo já foi levada em consideração, mas o estádio não tem estrutura para competições de atletismo. A arena foi projetada para receber jogos de futebol ou de rúgbi, esporte no qual as esperanças para o futuro estão depositadas.

O rúgbi é, juntamente com o futebol e o críquete, um dos esportes mais populares no país. Pam Naidoo está otimista e aposta que a situação "vai melhorar, só pode melhorar".

Autor: Arnulf Boettcher (rc)
Revisão: Francis França