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Fusão da esquerda

Geraldo Hoffmann (rw)15 de junho de 2007

O Partido de Esquerda/PDS e o WASG fundarão em Berlim o novo partido A Esquerda. DW-WORLD.DE conversou com o pesquisador Klaus Detterbeck, da Universidade de Magdeburg, sobre as conseqüências desta fusão.

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Lafontaine e Bisky, líderes da esquerda alemãFoto: AP

"O cenário político vai se alterar", diz o presidente do Partido de Esquerda, Lothar Bisky, referindo-se ao congresso deste sábado (16/06) na capital alemã, quando se concretizá a fusão do seu partido com o WASG.

Já o presidente do Partido Liberal Democrata, Guido Westerwelle, vê nisso a ameaça de uma guinada do Partido Social Democrata (SPD) para a esquerda e acredita "que o eixo intelectual desta República se deslocará para a esquerda". Também o perito em partidos Klaus Detterbeck previu em entrevista à DW-WORLD.DE que uma esquerda forte pode pressionar o SPD.

DW-WORLD: Que conseqüências tem a fusão entre o Partido de Esquerda e o WASG para o cenário político alemão?

Klaus Detterbeck: Caso A Esquerda consiga se impor em nível nacional, o SPD passaria a ter em todas as eleições um concorrente de esquerda voltado primordialmente para temas da política social e econômica. Esta seria realmente uma importante mudança na competição entre os partidos. Também voltaríamos a ver maior semelhança entre os sistemas partidários do Leste e do Oeste.

Mas continuo cético se A Esquerda realmente conseguirá se impor no Oeste [da Alemanha]. Na minha opinião, ela continuará fortemente voltada para o Leste, com algumas poucas bases no Oeste do país, como no Sarre e em Bremen.

Os grandes partidos precisam temer esta nova força política?

Para o SPD, uma esquerda forte é, sem dúvida, um problema. Para a CDU/CSU ela não é uma ameaça, nem em relação aos eleitores, nem ao conteúdo político. Pode até ser que a CDU/CSU consiga desabonar sugestões apresentadas pelo SPD alegando que elas são próximas do partido de esquerda.

Como deveriam reagir os social-democratas, os mais ameaçados de perder votos para o novo partido?

Por um lado, o SPD terá de tentar buscar uma clara diferenciação em relação ao novo partido de esquerda. Por outro lado, terá de ir ao encontro do que ex-eleitores do SPD vêem de interessante no novo partido. Isto se refere principalmente ao Estado de bem-estar social.

Haverá concorrência entre os dois partidos sobre o tema justiça social. Somente se o SPD conseguir deixar claro aos seus correligionários que sua política de reformas é socialmente justa, ele poderá se defender dos ataques da esquerda, sem assustar os eleitores de centro.

O partido A Esquerda é liderado pelos populistas Oskar Lafontaine e Gregor Gysi. Normalmente, populistas têm êxito quando algo está errado numa sociedade. O que não funciona na Alemanha? O populismo tem chances reais no país?

Embora o tenha feito tarde, o PDS integrou os protestos contra os cortes sociais e políticos, principalmente no Leste. Sem a Agenda 2010, a alternativa eleitoral não teria surgido. A Esquerda contempla temores da população, mas ao mesmo tempo continua defendendo um Estado social forte no sentido tradicional.

Encontramos tais movimentos também em outros países europeus, como na Escandinávia. E é bom que estas preocupações dos cidadãos tenham uma plataforma − imagine como os alemães-orientais estranhariam a política alemã-ocidental, se não existisse o PDS.

Certamente as pessoas podem se irritar com os conceitos simples da esquerda, mas acontece que ela reivindica o que muitas vezes os partidos estabelecidos esquecem com freqüência: esclarecer aos cidadãos por que se pratica determinada política, enfrentar perguntas críticas e dizer quais são as metas das reformas.

O protesto social-político incorporado pela esquerda obriga os partidos do governo, que são os responsáveis pelas tomadas de decisão, a se ocupar mais com as preocupações dos cidadãos.

E sobre Lafontaine e Gysi: eles são as duas estrelas do partido, conseguem encobrir muito da heterogeneidade existente na nova aliança e sabem aparecer. Sem os dois, a situação de A Esquerda seria difícil, principalmente na tentativa de se estabelecer no Oeste do país. Eu acho que justamente no caso de Lafontaine é grande o risco de que ele se exceda. Sua reação à morte dos soldados alemães no Afeganistão chegou ao limite do que é politicamente tolerável.

O que significa um fortalecimento da esquerda para os partidos de extrema direita, para o populismo de direita?

Uma corrida pelo protesto mais autêntico contra "os lá de cima". Uma esquerda forte vai dificultar que a direita instrumentalize para suas finalidades o protesto contra as reformas na área do bem-estar social.

O que diferencia o populismo de esquerda na Alemanha, por exemplo, do populismo de esquerda na América Latina?

Klaus Detterbeck Bundestagswahl 05 Experte Porträtfoto

O contexto é bem outro. Na América Latina, trata-se de privação de direitos e de exclusão – por exemplo, da população indígena – e de desequilíbrios sociais gritantes. Isto A Esquerda, mesmo que use toda sua retórica, não vai conseguir. Por isso ela também não conquistará maiorias – ela agirá como espinho da oposição insatisfeita.

Klaus Detterbeck é especialista em sistema político da Alemanha, análise comparativa de democracias ocidentais, pesquisa de partidos e teoria da democracia no Instituto de Ciências Políticas da Universidade de Magdeburg.