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Para especialistas, Grécia ainda precisa de ajuda para se recuperar

Danhong Zhang (md)2 de setembro de 2014

Com cerca de 320 bilhões de euros em dívidas, correspondente a quase 180% do PIB, gregos dificilmente terão condições de se erguer sozinhos. Analista defende novo corte.

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Foto: picture-alliance/dpa

Em breve, terão se passado cinco anos desde que a altamente endividada Grécia mergulhou a união monetária europeia numa profunda crise. Desde então, 240 bilhões de empréstimos emergenciais do Fundo Monetário Internacional (FMI) e da União Europeia (UE) fluíram em direção a Atenas. Além disso, credores privados tiveram que perdoar 107 bilhões de euros em dívidas.

Tudo isso pouco ajudou. Hoje, a Grécia carrega uma dívida de cerca de 320 bilhões de euros, o equivalente a quase 180% do Produto Interno Bruto (PIB) do país. A relação entre dívida pública e PIB é, assim, muito superior ao que era antes da crise. Diante dessa montanha de dívida, o superávit primário de 1,5 bilhão de euros − ou seja, a economia feita pelo governo − é como uma gota no oceano.

"Continuamos a ter na Grécia a maior taxa de desemprego na Europa. Temos uma economia que está encolhendo desde 2008. Com esse parco superávit primário, ainda temos que arcar com todos os pagamentos de juros e a gestão da dívida. Assim não vai funcionar", avalia o economista e gestor de fundos Max Otte.

O economista Joachim Scheide, do instituto econômico IfW, de Kiel, também avalia que, após o término do programa de assistência, no fim deste ano, a Grécia não conseguirá se livrar das dívidas com suas próprias forças. Ele é a favor de que haja um novo e mais abrangente perdão da dívida. "É mais provável que esse corte fique perto dos 50% do que dos 10% ou dos 20%."

Esse novo corte teria, na opinião do especialista, que vir acompanhado de uma política fiscal sólida e de uma reestruturação econômica. Mas, para os gregos, a carga seria aliviada, num primeiro momento. "Então eles poderiam se concentrar em outros projetos que promovam o crescimento. Aí poderia realmente haver um recomeço", diz Scheide.

Corte dificilmente virá

Mas esse recomeço dificilmente será concedido aos gregos. "Há o temor de que outros países também gostem da ideia", frisa Scheide, argumentando que alguns temem que, ao verem o exemplo, os países endividados não se esforcem mais para diminuir suas dívidas, sabendo da possibilidade de que elas sejam perdoadas.

Otte tem outra explicação para as dívidas não poderem ser simplesmente perdoadas. "As dívidas são créditos de bancos e grandes ativos financeiros. Eles, naturalmente, são contra, e a política parece não ter poder suficiente para se impor."

Afinal, a zona do euro prometeu aos investidores no início de 2012 que o perdão de dívidas correria apenas uma vez. De lá para cá, o setor público detém mais da metade dos títulos públicos gregos. Um corte sem a participação dos países do euro e do Banco Central Europeu faria, portanto, pouco sentido.

Um terceiro pacote de ajuda também é algo pouco provável, já que os governos dos países doadores não querem ser acusados por seus eleitores de jogar dinheiro em um poço sem fundo.

Estratégia diferente

"Então, agora foi escolhida uma estratégia diferente, que não pesa diretamente nos bolsos dos contribuintes", observa Scheide. Ela inclui redução da taxas de juros e ampliação de prazos para os empréstimos existentes. A estratégia já foi aplicada várias vezes, fazendo com que quase não haja mais espaço para corte de juros e que o prazo médio para pagamento chegasse a 32 anos.

Em outras palavras, dificilmente um político hoje em exercício estará ainda no cargo quando se esgotar o prazo para o pagamento da dívida, que teoricamente ainda pode ser adiado indefinidamente.

"As realidades políticas são, realmente, tais que, na próxima vez que houver uma necessidade de ajuda, será feito de tudo para se encontrar uma 'solução' que prolongue a situação atual", diz Otte. Scheide é menos diplomático: "A hora da verdade vai ser empurrada para mais adiante."