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Opinião: Que imigrantes a Alemanha quer?

Christoph Hasselbach (av)3 de março de 2015

Após décadas evitando o tema imigração, país pode estar diante de uma reviravolta. Hora de pensar bem o que faz, pois eventuais mudanças terão amplo alcance, opina o jornalista da DW Christoph Hasselbach.

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Christoph Hasselbach, da DWFoto: DW/M.Müller

Há muito tempo a Alemanha se esquiva de encarar a questão da imigração. Primeiro, se recusava a ser declarada país de imigrantes, simplesmente não reconhecendo a imigração como tal. Nada para expressar melhor a atitude de um país de acolhimento do que o conceito de Gastarbeiter ("trabalhador convidado").

Mais tarde, passou-se a contornar o termo tradicional, Einwanderung, substituindo-o por Zuwanderung – uma diferença sutil, que supostamente eximia o país de estar aceitando os estrangeiros por necessidade própria, dando assim um caráter antes passageiro à estada. E era justamente essa a intenção.

Sobretudo os partidos conservadores cristãos CDU e CSU evitavam o termo "imigração" como o diabo foge da cruz, e em parte o fazem até hoje, para não assustar os seus eleitores.

Atualmente não é preciso nenhuma estatística para saber que a Alemanha é o segundo principal destino de imigração do mundo, depois dos Estados Unidos. O país ficou visivelmente mais colorido nos últimos anos. Nenhum político que se leve a sério negará, hoje em dia, que a Alemanha é uma nação de imigrantes.

Apesar disso, muitos continuam confundindo a descrição de um estado de coisas com uma exigência. Dizer que Alemanha é um país de imigrantes não significa, em absoluto, que ela deva sê-lo. Mas pelo menos na política e economia alemã, a resposta aqui parece ser basicamente "sim". Ambas já se ocupam da questão seguinte: quais imigrantes o país quer ter. Está mais do que na hora de um debate amplo a respeito na sociedade.

Outros países já formularam critérios de seleção, muito antes da Alemanha, e os aplicam. Pois há uma competição internacional pela mão de obra qualificada – uma competição em que o desempenho da Alemanha tem sido ruim. Isso geralmente tem a ver com razões linguísticas, burocráticas ou mesmo políticas. Mas também por que a Alemanha simplesmente não se via como parte dessa competição.

Quem saúda a abertura dessa nova abordagem deveria, contudo, ter em mente certas consequências. Primeiro: aquele diz quem quer está também dizendo quem não quer. E aqui facilmente se mistura a aquisição de trabalhadores com asilo político – assunto em que interesses econômicos não devem ter a menor relevância.

Pois políticos e empresários espertos logo perceberam que, justamente entre os requerentes de asilo, também há gente que poderia ser muito valiosa para a economia alemã, se tivesse permissão para trabalhar.

Colocado esse argumento, então nem se questionaria mais se essas pessoas teriam direito ou não a asilo político. Só que: e os outros? O valor de um refugiado – de um ser humano – seria então rapidamente medido apenas com base em suas qualificações profissionais.

Em segundo lugar, deve-se considerar que a concorrência internacional pelos mais capazes e mais inteligentes há muito já dividiu as nações do mundo entre perdedoras e vencedoras.

Os países mais pobres perdem seus cidadãos mais talentosos; em consequência da evasão de cérebros, reduzem-se ainda mais suas possibilidades de gerar prosperidade. Os países ricos, por sua vez, passam a poder contar, a longo prazo, com uma multidão de trabalhadores relativamente mal pagos, porém altamente motivados.

Não faz muito tempo, andou circulando nos meios de comunicação uma estatística: segundo ela, atuavam na cidade inglesa de Manchester mais médicos malauianos do que no próprio Maláui. Mesmo deixando-se em aberto se esses números são verdadeiros, o problema existe, em princípio. Ironicamente, por sua vez, as organizações humanitárias da Europa compensam um pouco essa carência de médicos, enviando para o país no leste da África profissionais pagos com doações europeias.

A desigualdade entre os Estados se perpetua também na Europa. Como um país como a Grécia vai se pôr novamente de pé, se os seus jovens mais capazes estão indo embora? Esse não pode ser um argumento para bloquear a mobilidade profissional, mas certamente faz pensar.

Por fim, é preciso considerar o fator possivelmente mais importante nesta discussão: a aceitação. Quando empregadores alemães se queixam de falta de mão de obra, sua motivação é, sobretudo, o próprio interesse econômico, pouco tendo a ver com o bem comunitário.

O empresariado se alegra em receber o maior número possível de pessoas formadas em outros países e que tenderão a fazer menos exigências do que os trabalhadores nacionais. Porém, assim como os Gastarbeiter não se limitaram absolutamente a ser "convidados", essa nova "mão de obra" vai permanecer, também quando a conjuntura entrar em colapso.

E se a intenção é, realmente, substituir no mercado a geração dos assim chamados "baby boomers" que agora se aposenta, então se está falando de aceitar dezenas de milhões de imigrantes no prazo de apenas alguns anos. Quem garante que a sociedade alemã será capaz de tal façanha de integração?

Independente disso, é questionável se no futuro as economias desenvolvidas vão precisar de tantos trabalhadores quanto hoje em dia. Mas aí não é tão fácil assim simplesmente mandar as pessoas embora.

Tudo isso não é contra o debate sobre a imigração – pelo contrário. Está mais do que na hora de ele ser travado seriamente na Alemanha, já que se trata de estabelecer diretrizes para mudanças que vão alterar a sociedade de forma maciça e duradoura. Por esse motivo, é melhor pensar bem o que se está fazendo.