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Política externa de Obama merece apoio

Miodrag Soric (av)22 de agosto de 2014

Americanos não admitem ver seu país em desvantagem, como no Iraque. Mas o presidente tenta livrar EUA do papel de polícia global imposto por seus antecessores, opina Miodrag Soric.

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Os americanos perdoam muita coisa ao seu presidente, menos que ele faça os Estados Unidos parecerem fracos, econômica ou até politicamente. Isso não se encaixa na visão que eles têm de si, como nação eleita, uma superpotência.

Zentrale Programmredaktion Miodrag Soric
Miodrag Soric, correspondente da DW em WashingtonFoto: DW

Os americanos exigem de seu presidente leadership – força de liderança. Se um cidadão dos EUA quer realizar seu potencial de bom ser humano, que vá ser pastor ou se empenhar por uma associação de incentivo à separação do lixo. Tudo, menos entrar para a Casa Branca para dirigir os destinos do país – e, em parte, do mundo.

Barack Obama faz os EUA parecerem fracos. Ele retira as tropas do Iraque, acarretando a precipitação do país no caos. Ele tira os soldados do Afeganistão sem que lá haja um governo capaz de enfrentar os milicianos do Talibã. Obama exige a renúncia do presidente sírio, Bashar al-Assad, que permanece no poder. E agora vaza a informação de que uma tentativa de libertar James Foley, o jornalista americano sequestrado por jihadistas e recentemente decapitado, fracassou.

Todos esses desdobramentos deixam uma impressão fatal sobre os americanos: na Casa Branca está alguém que ou não sabe fazer seu trabalho, ou não tem sorte. Ambos são inaceitáveis. E não adianta Obama se engajar pelos direitos das minorias, nos EUA e pelo mundo afora: no fim, sua autoridade sofre. E isso tem consequências globais.

Assim, o presidente russo, Vladimir Putin, ignora as advertências de Obama para que deixe de apoiar os rebeldes no leste da Ucrânia – e toda uma região se desestabiliza. Ao mesmo tempo, o primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, rejeita o pedido do presidente americano de se abrir para os palestinos – e o processo de paz no Oriente Médio fica estagnado. Mais um exemplo: a China, o maior credor dos EUA, vem modernizando seu Exército e ampliando sua influência, não só na região do Oceano Pacífico.

E assim se poderia prosseguir com a lista dos Estados que não se importam nem um pouco com o que o presidente Obama diga ou queira. Onde quer que os americanos se retraiam, eles deixam um vácuo de poder, no qual fundamentalistas islâmicos ou déspotas autoritários tentam penetrar. A potência ordenadora "América" se encontra em retirada.

Mas que seja dita a verdade: essa mudança política tinha que chegar em algum momento. Senão, a hiperexpansão ameaça os EUA – um destino a que sucumbiram muitas potências imperiais, na história mundial. É uma prova da coragem de Obama ele não se escusar de tarefas difíceis.

A longo prazo, não pode ser do interesse dos EUA manter um gigantesco aparato militar enquanto sua infraestrutura interna entra em colapso por falta de dinheiro. Do ponto de vista americano, não está certo erguer hospitais em Cabul enquanto milhões de seus cidadãos não têm como pagar uma consulta médica. No fim das contas, a contenção autoimposta fará bem aos EUA.

É certo que os números de Obama nas pesquisas são negativos. Mas ele não pode mesmo ser reeleito. O democrata paga o preço político pelos erros de seus dois antecessores, que transformaram o país numa espécie de polícia global.

É bem possível que os índices de aceitação do presidente continuem caindo, como, em outra época, os de Jimmy Carter, que também tentou libertar reféns americanos e fracassou. Mas, como se sabe, os condenados à morte são os que têm vida mais longa. Obama ainda tem dois anos no cargo. A Alemanha deveria ajudá-lo no redirecionamento da política externa e de defesa de seu país. No próprio interesse.