1. Pular para o conteúdo
  2. Pular para o menu principal
  3. Ver mais sites da DW

Opinião: Mais greve? Sim, claro!

Wagener Volker Kommentarbild App
Volker Wagener
20 de maio de 2015

Greves como a dos maquinistas não são anúncio de caos futuro na Alemanha, mas um corretivo para as distorções trabalhistas dos últimos anos, opina o jornalista da DW Volker Wagener.

https://p.dw.com/p/1FTEK
Wagener Volker Kommentarbild App
Volker Wagener, articulista da DW

Todas as rodas param se o chefe do sindicato dos maquinistas alemães quiser. E o Sr. Claus Weselsky quer, pela nona vez em dez meses. E a nova greve deverá durar ainda mais do que a última, estando previstos seis dias de combate trabalhista.

Já tem até quase algo de esporte, a obstinação com que setores de serviços de vital relevância sistêmica lutam contra seus patrões e contra a opinião pública. Carteiros, pilotos, educadoras, maquinistas: todos ficaram gananciosos. A questão só tem indiretamente a ver com mais dinheiro: trata-se de reconhecimento, da preservação de privilégios. São aspectos totalmente novos, em comparação às lutas trabalhistas passadas.

O júri inoficial, a opinião pública, está profundamente dividido em relação a esses acontecimentos tão atípicos para a Alemanha. Até meados de maio, neste ano houve 350 mil dias de trabalho perdidos – já mais do dobro dos registrados em todo 2014.

"Bagunça italiana" no país do "made in Germany": isso é algo que coloca muitos de orelhas em pé. Trata-se de quem está com o direito, não de míseros pontos percentuais e dos algarismos depois da vírgula. É a hora daqueles que sabem se impor.

Claus Weselsky é um desses. Quem é agora forçado a cancelar sua viagem do fim de semana prolongado pelo feriado de Pentecostes não vai gostar dele. Porém, o poderoso chefe de um pequeno sindicato já goza atualmente status de herói. E isso, apesar de o tabloide número um da Alemanha, o Bild, se fazer de defensor dos bons e honestos usuários de trens, acirrando fortemente os ânimos contra o bloqueador dos trilhos do país.

Weselsky traz à greve dos maquinistas uma dureza raramente praticada, que agrada aos frustrados da sociedade entre os observadores. Sim, também os pilotos, carteiros e educadores se deram conta da questão básica: todos não querem mais continuar escutando os eternos argumentos de dissuasão e defesa dos empregadores, privados ou estatais, quando se trata das próprias exigências.

A nova paixão pela greve dos alemães tem suas raízes nas experiências dos últimos anos nos locais de trabalho. Exigências de mais rendimento, rodadas de cortes vendidas como reformas, demissões após assim chamados "corretivos sinergéticos" – sempre acompanhados de referências à delicada situação financeira dos empregadores.

Tudo isso revoltou os disciplinados e diligentes alemães ao longo dos anos – com razão. Justamente nestes anos em que se multiplicaram lucros na bolsa de valores e fortunas, os patrões exigem parcimônia salarial. Agora, quanto ao bem comportado trabalhador alemão, é para ele continuar consumindo, sim, ao mesmo tempo em que vê os seus planos de aposentadoria se esfacelarem. Alguma coisa está errada aqui. É hora de um reajuste.

Diante desse quadro, há quem se lembre de apontar a responsabilidade da empresa ferroviária Deutsche Bahn para com milhões de seus clientes? E as educadoras serão mesmo exemplos de egoísmo, que tomam os nossos filhos como reféns, só porque querem corrigir o paradoxo "Cuidem da coisa mais preciosa que temos, mas, por favor, o mais barato possível"?

A palavra "greve" continua tendo associações negativas para os alemães. Ela tem um tom de "isso não se faz". Mas por que, afinal? A longamente cultivada parceria social entre as partes das negociações salariais na Alemanha é famosa e modelo a ser imitado. A sua flexibilidade está sendo testada agora em muitos setores.

Longe de ser o caos, greves – enquanto teste de resistência para o mundo trabalhista – são um predicado de qualidade. A Alemanha não vai, definitivamente, se transformar num país em greve perpétua, como o Reino Unido no início da era Thatcher.

Um pouco mais de confronto trabalhista do que o usual não é uma nova luta de classes, mas sim apenas uma expressão da crescente insatisfação daqueles que não foram devidamente beneficiados pelo crescimento e prosperidade na Alemanha. Existe simplesmente um atraso a ser compensado.