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Opinião: Eleição nos EUA é chance de rever guerra no Iraque

Gero Schliess, de Washington (md)21 de maio de 2015

Caos no país arábe vira tema da campanha presidencial, causando incômodo aos candidatos republicanos e mostrando a divisão da sociedade americana, opina Gero Schliess, correspondente da DW em Washington.

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Fazia tempo que líderes políticos americanos não apareciam tão impotentes na TV. A palavra mágica que os faz gaguejar e suar frio é "Iraque". Seja Jeb Bush, Marco Rubio, Ted Cruz ou Rand Paul: todos são questionados sobre o que acham da guerra.

Não é por acaso que, sem exceção, isso se aplique a políticos republicanos que estão se candidatando oficialmente à presidência ou – como Jeb Bush – se encontram na fila de espera para uma candidatura.

Sobretudo Jeb Bush, irmão e filho de ex-presidentes, e Marco Rubio até hoje ainda não se posicionaram claramente em relação à campanha bélica iniciada por George W. Bush no Iraque. Esta é a consequência do fato de que os republicanos – e, com eles, partes do país – não lidaram honestamente com essa guerra, que matou milhares de pessoas e trouxe instabilidade permanente a uma região inteira.

A invasão do Iraque foi um erro? Ou foi simplesmente uma fraude deliberada, apresentar informações de inteligência arranjadas sobre supostas armas de destruição em massa de Saddam Hussein? Como os políticos que querem ser presidente dos Estados Unidos decidiriam hoje? Até agora, eles evitaram dar respostas claras e conseguiram se sair bem.

Pois não é à toa que os EUA são considerados uma nação que não tem obrigação de aprender com seus próprios erros. O adversário está longe, e o próprio poder militar e econômico do país é grande demais para que possa ser cobrado e obrigado a sofrer consequências por seus erros.

No caso da campanha no Iraque, a coisa pode ser diferente. Pois todos os dias é possível ver na televisão o caos sangrento que abala o Iraque desde a retirada das tropas americanas. As imagens da brutalidade do autoproclamado "Estado Islâmico" são especialmente chocantes.

Tudo isso ocorre justamente na época das campanhas das pré-candidaturas à presidência dos EUA. É uma oportunidade perfeita para os antigos adversários da guerra contra-atacarem e se vingarem. E, assim, talvez para colocar na mesa um tema de campanha que pode ter influência decisiva sobre o resultado das eleições de 2016.

Mas não é só isso. Mais de dez anos depois da guerra no Iraque, os americanos agora têm a chance de reavaliar um capítulo importante na sua história. É claro que, atualmente, a maioria dos americanos está convencida de que a campanha do Iraque não foi uma boa ideia.

Por outro lado, existe ainda desacordo sobre se o que levou à decisão foi "erro ou mentiras", conforme formulou Paul Krugman, do New York Times, num artigo severamente crítico em relação a George W. Bush, seu vice-presidente, Dick Cheney, e seu secretário de Defesa, Donald Rumsfeld.

Krugman diz claramente que os americanos foram levados à entrar na guerra. E ele parece estar certo. O irmão de George W. Bush, Jeb, e os outros candidatos presidenciais republicanos não querem saber dessa história.

Eles continuam defendendo que a administração Bush tomou a decisão certa, baseada nas informações então existentes dos serviços secretos. Enquanto os republicanos se enrolam em jogos de palavras, a pré-candidata democrata Hillary Clinton se distancia deles. Ela tinha votado pela guerra no Senado dos EUA, mas agora admite abertamente que cometeu um erro.

O atual debate sobre a guerra no Iraque não é uma avaliação da história, mas também envolve o presente e o futuro. Isso torna o tema tão delicado. Como Jeb Bush ou Marco Rubio decidiriam hoje um caso semelhante? Até onde iriam no Iraque, na Síria ou na Ucrânia? Será que a Alemanha e os aliados europeus devem se preparar para novas aventuras militares?

O fato de que o então assessor de George W. Bush é o mesmo que hoje assessora seu irmão Jeb e os outros candidatos presidenciais republicanos não deixa prever boa coisa.

Estes candidatos, de qualquer maneira, ainda não passaram pelo exame final para o cargo de presidente dos EUA. Já Hillary tirou uma carga do próprio ombro com a confissão realizada a tempo para a campanha eleitoral.

Essas posições irreconciliáveis mostram o quão profundamente divididos os americanos e seu sistema político estão. O próximo presidente tem diante de si a tarefa hercúlea de unir o país. No entanto, a missão parece de difícil solução. O atual presidente, Barack Obama, chegou ao cargo com essa intenção e fracassou.