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De novo, o antissemitismo

Alexander Kudascheff (pv)15 de setembro de 2014

Toda a elite política alemã participou de uma manifestação contra o antissemitismo. E, com ela, cerca de seis mil pessoas. Isso é muito poucos, opina o editor-chefe da DW, Alexander Kudascheff.

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É um sinal: seis mil pessoas reuniram-se em Berlim para uma manifestação contra o antissemitismo. Seis mil. Só. Em 1992, mais de um milhão de alemães foram às ruas de cidades e vilarejos para protestar contra o racismo no país. Na época, o ódio propagado pelos extremistas de direita foi combatido de forma veemente e impressionante.

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Alexander Kudascheff é editor-chefe da DWFoto: DW/M. Müller

Desta vez foram seis mil. Estamos falando da totalidade da elite política alemã. O presidente, a chanceler federal, ministros, sindicalistas. As igrejas evangélica e católica. Todos se posicionaram contra esse espantoso ódio aos judeus, a convite do Conselho Central dos Judeus da Alemanha. Pois da sociedade alemã, do centro da sociedade alemã, não veio nada. Isso é vergonhoso. Assim como o pequeno número de manifestantes.

Há inegavelmente um abismo separando as percepções sobre os judeus e principalmente as opiniões sobre Israel. A população alemã é claramente mais crítica em relação a Israel do que a política. E, por trás dessa crítica totalmente legítima, espreitam ressentimentos antissemitas arcaicos – nas ruas, expressados por imigrantes muçulmanos; na internet, por alemães comuns.

O que se pôde ler de vulgaridades, de ódio, de raiva, de incitação antijudaica não é apenas embaraçoso e desconcertante: é perturbador. E por isso a manifestação ao lado do Portão de Brandemburgo é a mensagem correta: a Alemanha é responsável pelo Holocausto, pela Shoá, pelo assassinato de seis milhões de judeus europeus. Na Alemanha, o antissemitismo deve ser combatido com mais empenho, de forma mais incisiva e decisiva do que em qualquer outro lugar. Uma normalidade forçada não pode nem mesmo existir.

Pesquisas mostram que cerca de 20% das pessoas na Alemanha têm tendências antissemitas ou seguem estereótipos antissemitas. Infelizmente, isso é mais do que há apenas 25 anos. São pessoas da direita e da esquerda; imigrantes muçulmanos e alemães normais, do meio da sociedade. Na Alemanha, 75 anos após o início da Segunda Guerra Mundial, depois do extermínio dos judeus, sinagogas ainda precisam ser protegidas pela polícia. Até mesmo jardins de infância precisam. Judeus usando um quipá devem contar com a possibilidade de serem importunados a qualquer momento. Cemitérios são profanados. Essa é uma parte da realidade da vida judaica na Alemanha.

Mas, existe – apesar do Holocausto, apesar do antissemitismo diário – novamente vida judaica na Alemanha. As comunidades crescem. Os judeus não se escondem, eles mostram autoconfiança, e isso aconteceu também na manifestação em Berlim. E eles se posicionam: não aceitam os insultos e as humilhações. Eles são uma parte da sociedade alemã. Eles encontraram a sua pátria na Alemanha – uma pátria que se levanta contra o ódio aos judeus. E, por isso, como disse a chanceler federal, o combate ao antissemitismo é uma obviedade republicana. Uma sociedade livre condena o ódio aos judeus. E abomina o racismo.