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Opinião: Banco do Brics não será mais justo ou social que o FMI

Astrid Prange (md)16 de julho de 2014

Emergentes posam de salvadores antiamericanos do mundo com a criação de um banco de desenvolvimento e um fundo monetário. Mas projetos escondem outros interesses, afirma Astrid Prange, da redação brasileira da DW.

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Antiamericanos de todo o mundo, uni-vos! Nós vamos redimir a todos dos ditames de Washington! Rejeitem os empréstimos do Banco Mundial e do Fundo Monetário Internacional, esqueçam a privatização e a consolidação fiscal e peçam um empréstimo no novo banco de desenvolvimento do Brics: Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul.

Fastenblog ohne! Astrid Prange De Oliveira
Astrid Prange é repórter da DW

Com certeza, para muitos países em desenvolvimento, essa pode ser uma perspectiva tentadora. Afinal, as medidas de austeridade e privatizações impostas como condições para a concessão de empréstimos de resgate por Washington muitas vezes tiveram impacto econômico devastador nos países em desenvolvimento.

Mas a fundação de um banco dos países do Brics é uma enganação. Os empréstimos de Xangai para expandir a infraestrutura nos países em desenvolvimento são um investimento rentável para as grandes reservas cambiais de que dispõem atualmente muitos países do Brics. Seus novos bancos não são antiamericanos, mas, pelo contrário, são uma reprodução do FMI e do Banco Mundial.

O sonho do Brics de crescimento econômico eterno, que agora deverá ser impulsionado por novos empréstimos do banco de desenvolvimento, lembra os anos 1980. Barragens gigantescas para hidrelétricas faraônicas, usinas nucleares, pontes e estradas. Na época, o Banco Mundial financiava projetos caros, com os quais consórcios internacionais fizeram um bom dinheiro, mas dos quais a população quase não se beneficiou.

Os empréstimos para os projetos de construção muitas vezes contribuíram para o crescimento da dívida externa. Pode ser que o banco dos Brics contribua para uma nova rodada de financiamento de tais grandes projetos.

A retórica antiamericana tenta disfarçar o fato de que as políticas econômicas dos países do Brics são muitas vezes tão imperialistas quanto a que eles criticam, a dos EUA. A China é considerada uma nova potência colonial em muitos países da África. Latifundiários brasileiros decidem sobre a produção de soja no Paraguai, e fornecedores russos usam o preço do gás para exercer pressão política.

As novas instituições financeiras dos países do Brics não são antiamericanas. Elas provavelmente também não serão mais justas ou sociais que o Banco Mundial e o Fundo Monetário Internacional nos critérios para concessão de empréstimos.

Elas são simplesmente uma expressão do crescente poder econômico e político dos países emergentes, que, por sua vez, não são mais dependentes de dinheiro de instituições financeiras tradicionais, mas se tornaram, eles mesmos, credores. Esse é um desenvolvimento positivo para esses países, que há muito era previsto e agora finalmente tomou formas concretas.

Os países do Brics se tornaram mais ricos, mas não automaticamente mais solidários. Mesmo dentro da "família Brics", Brasil e Índia não contam com o apoio de chineses e russos em suas pretensões de obter um assento permanente no Conselho de Segurança da ONU. Nas políticas externa e interna, prevalece o princípio da não intervenção: no interesse da China no Sudão, na posição da Rússia na Ucrânia e na guerra da Síria.

A cúpula do Brics em Fortaleza pode ser considerada um momento histórico, mas não uma resposta a Washington. Pois sua mensagem é genuinamente americana: todo mundo pode conseguir, e a concorrência é boa para os negócios. É até bem possível que os novos bancos dos Brics até agradem ao Banco Mundial e ao FMI.