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Opinião: 8 de Maio, dia da lembrança

Alexander Kudascheff
6 de maio de 2015

Setenta anos após o fim da Segunda Guerra, a Alemanha é uma das nações mais respeitadas no mundo, opina o editor-chefe da DW, Alexander Kudascheff. A DW recorda a data e mostra como a nação se reergueu dos escombros.

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Alexander Kudascheff, editor-chefe da DW

8 de maio de 1945. A Segunda Guerra Mundial termina na Europa. Cerca de 65 milhões de pessoas foram mortas. Os alemães consideram o fim da guerra como uma derrota – mesmo que muitos estejam aliviados por ela ter terminado, após seis anos de combates, após a morte de pais, irmãos e filhos. E, nas cidades assoladas, as pessoas respiram mais tranquilas, depois de anos de bombardeios aéreos.

Mas para a grande maioria dos alemães, é um dia de derrota. Especialmente para os soldados que têm de esperar em centros de detenção que seus destinos sejam decididos. Alguns são liberados depois de um curto período de tempo, outros ficam até dez anos em campos de trabalhos forçados soviéticos. E para os Aliados – soviéticos, americanos, franceses, britânicos, poloneses, holandeses, canadenses, belgas –, o 8 de Maio é o dia da capitulação incondicional, um dia da vitória.

E há também as vítimas do "Terceiro Reich": judeus, homossexuais, ciganos, comunistas, social-democratas, liberais: os inimigos ocultos e declarados de Adolf Hitler. Para eles, o 8 de maio de 1945 é um dia da libertação – dos campos de concentração, das penitenciárias, da vida na clandestinidade.

8 de maio de 1985. Pela primeira vez, um presidente alemão, Richard von Weizsäcker, fala publicamente o que muitos sentiam ou mesmo sabiam. O 8 de Maio foi o dia da derrota. Objetivamente falando, entretanto, foi um dia da libertação. Os alemães – quer quisessem, quer não – foram libertados da ditadura nacional-socialista, foram libertados de Adolf Hitler e do Partido Nazista, foram libertados do terror do assassinato de judeus, foram libertados do medo.

O fim da guerra terminou com os assassinatos – tanto no front como nos campos de concentração. A Alemanha foi derrotada, mas recebeu a chance – alguns anos mais tarde e após os horrores e pesadelos de barbárie de Hitler – de viver em liberdade, de viver numa democracia. Pelo menos na parte oeste, pois na parte leste havia a República Democrática Alemã (RDA), um "país irmão" socialista da União Soviética, sem direitos e liberdades democráticas. Até que os dois Estados alemães fossem reunificados, em outubro de 1990.

8 de maio de 2015. Setenta anos depois do fim da guerra. Hoje, a Alemanha reunificada está entre os países mais respeitados do mundo. É ativa mundialmente, com sua democracia e seu modelo de bem-estar social economicamente bem-sucedido.

E há uma década aprende a lidar com o fato de que é importante, de que todos prestam atenção nela e que tem um papel de liderança a desempenhar na Europa e um papel muito importante no mundo. Raramente do ponto de vista militar, aliás – embora atualmente isso também faça parte do jogo – mas, acima de tudo política e economicamente. Alemanha não se apresenta falando alto, mas de forma cada vez mais confiante, e é criticada de uma forma que dói nos alemães, tão afeitos ao consenso. Mas eles vão aprender a lidar com isso.

Neste 8 de maio, a DW recorda a Segunda Guerra Mundial. Conversamos com testemunhas sobre como elas vivenciaram a guerra e o seu fim. Conversamos com cúmplices, criminosos e vítimas.´

Mas também olhamos para o nosso país, 70 anos mais tarde, mostrando como ele se desenvolveu e como lida com a lembrança que vai lentamente desaparecendo. Procuramos saber se existe algo como uma normalidade no lidar com a história, já que o tempo passa. Se os alemães veem agora esse dia como um dia da libertação – e sobretudo porquê. A lembrança do 8 de Maio é pretexto para olharmos para a Alemanha de então – e, mais ainda, para a Alemanha de hoje.