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Opinião: Um desafio para a política cultural de Berlim

Stefan Dege12 de junho de 2015

Festa da cumeeira de novo palácio no centro da capital lembra tortuosa história arquitetônica e política, que tende a se prolongar até a inauguração, em 2019, opina Stefan Dege, da redação de cultura da DW.

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Stefan Dege, redação de cultura da DWFoto: DW/K. Dahmann

Cinzentas, lisas e maciças, as paredes da estrutura do prédio do Fórum Humdoldt se destacam sob o céu berlinense. Por enquanto, o concreto ainda não foi revestido, não há janelas nem portas, telhado ou fachadas barrocas. Porém, até 2019, ele ganhará um reboco estilizado, e será inegável que se trata da reconstrução do antigo palácio da dinastia Hohenzollern.

O governo da antiga Alemanha Oriental (RDA) demoliu o monumental edifício barroco em 1950, erigindo no lugar o seu "Palácio da República", o qual, por sua vez, foi derrubado entre 2006 e 2008. E na ilha no Rio Spree ganhou forma aquilo que a ministra alemã da Cultura, Monika Grütters, recentemente denominou "o mais ambicioso projeto cultural" do país. E ela tem razão.

Edifício moderno ou reconstrução do antigo Palácio da Cidade? Que mensagem devemos transmitir? Permanece viva na memória a acirrada disputa político-cultural que travaram, durante anos, os saudosistas da Prússia e os modernistas, armados de argumentos políticos e estéticos.

Em meados de 2002, o Parlamento decidiu-se pela reconstrução, passando assim da discussão aos fatos. O mais tardar agora, com a festa da cumeeira do Fórum Humboldt, os adversários de então podem dar-se as mãos: a briga deles é coisa do passado.

Embora esse conflito esteja superado, agora já se trava outro, não menos político: o que se deve apresentar aos cidadãos de um Estado democrático, por trás da fachada reconstruída de um palácio monarquista?

Até o momento, a única certeza é que deverão mudar-se para lá as coleções não europeias dos museus municipais do bairro de Dahlem. Trata-se de 24 mil objetos, de joias indianas e máscaras africanas a um trono imperial chinês e xícaras astecas, passando por um imponente veleiro da região do Oceano Pacífico. O plano é criar um "museu do mundo", onde haja diálogo entre as culturas nativas do planeta. Também aqui houve críticos.

Ainda está em aberto o que vão trazer para o palácio reconstruído os outros dois ocupantes do Fórum – a Universidade Humboldt e a municipalidade de Berlim. O Conselho Alemão de Cultura pede ajuda aos céus e exige ideias viáveis. Ainda bem que se conseguiu integrar no projeto o diretor do Museu Britânico, Neil MacGregor, um bom promotor cultural, com grande experiência em política de cultura e história. Pois, até 2019, ele e seus colegas da equipe de fundação têm muito trabalho pela frente.

Desde já, centenas de milhares de turistas e berlinenses acorrem ao local, se maravilham com a obra arquitetônica que combina com Mitte, o bairro central da capital, como se tivesse sempre estado lá. Isso dá coragem, para além de toda a crítica e (tipicamente alemão?) senso de impotência.

Por ora, a festa da cumeeira no Fórum Humboldt é um motivo para se alegrar.