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Brasileiros querem mudanças

Alexandre Schossler27 de outubro de 2014

Mesmo com a vitória de Dilma, o recado das urnas é inequívoco: os brasileiros estão preocupados com o retrocesso da economia e querem mais conquistas, opina o jornalista Alexandre Schossler, da redação brasileira da DW.

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Poucas vezes a expressão "vitória num país dividido" fez tanto sentido quanto nesta eleição presidencial de 2014. Até o fim, era impossível saber de antemão quem seria o vencedor.

Alex Schossler
Alexandre Schossler é jornalista da redação brasileiraFoto: DW

Mas o recado das urnas foi claro e pode ser sintetizado numa única palavra: mudança. Dilma Rousseff venceu, mas o resultado foi muito mais apertado do que na eleição anterior.

Isso mostra que, para os eleitores, o que foi feito até aqui já não é mais suficiente: eles querem mais, e vão votar no candidato que considerarem ter, na avaliação deles, melhores condições de oferecer isso. Não importa se desse ou daquele partido.

De certa forma, as urnas repetiram a mensagem dos protestos de junho de 2013: os avanços econômicos alcançados até aqui, como a estabilidade da moeda e o aumento do poder de consumo dos mais pobres, são bons e bem-vindos. Só que, agora, chegou a hora de avançar em áreas sociais, como saúde, educação e segurança. Aí ainda há muito por fazer.

Além disso, a economia não anda mais tão bem como nos anos de Lula, e 2014 está especialmente ruim, com dois recuos consecutivos do PIB, de 0,2% no primeiro trimestre e de 0,6% no segundo. O próprio governo espera um crescimento inferior a 1% neste ano.

O bolso é um dos primeiros a gritar, e as urnas deixaram claro que os eleitores deram ouvidos a esse grito. Muitos viram em Aécio Neves a esperança de uma recuperação, por julgar que ele tem melhor trânsito entre os empresários e investidores e por ser defensor de uma economia mais liberalizada e menos dependente da ação do Estado.

Dilma já sinalizou que entendeu o recado: ela também não está satisfeita com o andamento da economia brasileira. Mas, até agora, a única decisão anunciada por ela foi a demissão do ministro Guido Mantega, em plena campanha eleitoral. Fora isso, ainda não se sabe o que ela pretende fazer para retomar o crescimento econômico e conter a inflação, que ameaça passar do teto da meta este ano.

Em meio a um país dividido, com a oposição fortalecida e num cenário econômico internacional bem mais adverso que o do governo Lula, Dilma terá quatro anos complicados pela frente. Se quiser fazer seu sucessor – ou reeleger seu antecessor – terá de agir logo para melhorar o desempenho econômico, segurar a inflação e ainda oferecer soluções para os problemas sociais do país – que, apesar de avanços, ainda estão longe de terem sido solucionados. Não é pouca coisa. Mas, ou ela faz isso, ou a continuidade do PT no poder corre sérios riscos em 2018, mesmo se o já quase santo Lula concorrer.

Esta pode ter sido a última vez em que o Bolsa Família ganhou uma eleição.