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O papel da literatura na luta de libertação em África

João Carlos (Lisboa)22 de maio de 2015

Como é que a escrita e a literatura contribuíram para a mobilização e a emancipação política na luta pela independência das ex-colónias portuguesas em África? A DW foi saber o que pensam alguns escritores lusófonos.

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Moçambique tornou-se independente de Portugal em 25 de junho de 1975Foto: picture-alliance/dpa

António Trabulo é autor de uma dúzia de livros, alguns sobre as vivências em Angola no tempo colonial. O médico português acaba de publicar "A Guerra da Guiné" – um olhar isento para tentar compreender com serenidade as razões do conflito que antecedeu a independência da Guiné-Bissau.

Tendo passado por Coimbra, uma espécie de berço do Movimento Literário Juvenil, que congregava jovens estudantes oriundos das colónias portuguesas em África, Trabulo sublinha o papel que a escrita desempenhou no processo para a autodeterminação e independência dos respetivos povos.

"A literatura e outras formas de cultura são fundamentais para o desenvolvimento de uma consciência política. Todos os estudantes de Coimbra naquele tempo leram a literatura marxista, a literatura revolucionária ligada a Léopold Senghor e à negritude e também Frantz Fanon. A minha república funcionou, de certo modo, como um viveiro de quadros", recorda o autor.

Libertação política

A literatura cumpriu a sua função. Desempenhou um papel fundamental, contribuindo positivamente para a luta de libertação política, reconhece Delmar Gonçalves, da Associação dos Escritores Moçambicanos na Diáspora.

Sao Tome und Príncipe Orlando Piedade Schriftsteller
Orlando Piedade, escritor são-tomenseFoto: DW/J. Carlos

"Havia os proto-nacionalistas e os nacionalistas. Os primeiros já escreviam sobre esta questão da possível luta pela independência", refere. "Primeiro uma tentativa de luta pacífica para a conquista da independência e, caso não fosse possível, a única via seria a luta armada. Foram os intelectuais que falaram primeiramente nisso."

Delmar Gonçalves lembra também muitos dos escritores moçambicanos das gerações mais velhas, que viveram nos anos 60, já passavam a mensagem aos mais novos de que era preciso, de facto, fazer alguma coisa no sentido da mudança. "Nos anos 60, muitos dos textos que aparecerem depois da independência já tinham sido escritos nessa altura e andavam a ser difundidos clandestinamente nas cidades pelos intelectuais moçambicanos ou por aqueles que sentiam a moçambicanidade antes da independência".

Embora também não tenha vivido esse período, Dulce Braga, escritora luso-afro-brasileira não tem dúvidas sobre o contributo da literatura. "Sempre se provocaram grandes revoluções, que tiraram pessoas de ditaduras, do esclavagismo, através da cultura e das letras", afirma.

"A literatura é, sem dúvida, uma das formas mais importantes para promover esse tipo de revolução e de consciencialização", defende a autora, que na próxima semana publica "Ndapandula Mama África" e "Sabor de Maboque", dois títulos sobre a influência da cultura angolana no Brasil.

Geração pós-independência

"Naquela altura, a literatura desempenhou um papel bastante importante, como desempenha ainda hoje", concorda o jovem escritor são-tomense Orlando Piedade, que nasceu em 1974, pouco antes do 25 de Abril, data da Revolução dos Cravos em Portugal. Atualmente, lembra, "temos liberdade de expressão e respeitando os outros podemos dizer aquilo que nos vai na alma, mas naquela altura não foi bem assim."

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Delmar Gonçalves, da Associação dos Escritores Moçambicanos na DiásporaFoto: DW/J. Carlos

Já Delmar Gonçalves considera que é necessário aprofundar os estudos sobre aquele período histórico para a formação da jovem geração do pós-independência. Até porque há muita gente que não conhece a verdadeira dimensão do que é ser independente.

"É importante que os jovens olhem para trás e tirem daí uma lição. Os nossos antepassados, os nossos pais tiveram de lutar para nós termos essa possibilidade que agora nos é oferecida, de termos o que quisermos, de lutarmos por um futuro melhor", defende o membro da Associação dos Escritores Moçambicanos na Diáspora.

A DW África registou estes depoimentos à margem do 4º Encontro com Escritores Lusófonos, que decorreu esta quinta-feira (21.05), em Lisboa. Um evento promovido em parceria com a Casa de Angola no âmbito do Festival da Lusofonia, na semana em que decorrem vários eventos na capital portuguesa em homenagem à Casa dos Estudantes do Império e do seu contributo para a liberdade dos países africanos de língua portuguesa.

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