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HistóriaAlemanha

Quando Berlim Ocidental amanheceu cercada

1 de janeiro de 1970

Dois meses depois de o chefe de governo da Alemanha Oriental afirmar que um muro não seria construído, barreira é erguida da noite para o dia.

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Foto: picture-alliance/dpa

"Ninguém tem a intenção de construir um muro", afirmara o chefe de governo e secretário-geral do Partido Socialista Unitário da República Democrática Alemã (RDA), Walter Ulbricht, em junho de 1961. Dois meses depois, no entanto, ele foi construído. No dia 12 de agosto, o Conselho de Ministros da RDA decidiu cercar as fronteiras com a República Federal da Alemanha, "para impedir a atividade inimiga das forças revanchistas e militares".

Logo depois da Segunda Guerra Mundial, a Alemanha, perdedora, foi ocupada pelas potências vitoriosas (ou Aliados, formados por Estados Unidos, Grã-Bretanha, França e União Soviética). Cada um passou a administrar uma região: britânicos, norte-americanos e franceses instalaram-se no oeste do país, enquanto os soviéticos ficaram com o leste. Com o passar do tempo e o desenrolar da Guerra Fria, as tensões entre os blocos ocidental e do leste se acirraram de tal maneira que desembocaram na construção de uma barreira material pelos comunistas.

A Guerra Fria entrava numa nova fase, em que a Cortina de Ferro, separando o mundo capitalista sob liderança dos Estados Unidos do bloco socialista encabeçado pela União Soviética, deixaria de ser uma expressão retórica para assumir a forma de uma fronteira fortificada que se estendia por 1400 quilômetros. Ela separava a chamada Alemanha Ocidental (República Federal da Alemanha, RFA), da RDA, a Alemanha Oriental, comunista.

Status especial de Berlim – A edificação das instalações militares na fronteira interalemã não podia excluir Berlim, a cidade dividida, onde a cisão dos dois mundos não poderia ser mais clara. Berlim Ocidental tinha um status especial e uma situação geopolítica única no mundo: era uma ilha dentro da RDA, colada a Berlim Oriental.

Pertencia à RFA, mas não tinha ligação territorial com o seu Estado. Um enclave que incomodava o regime comunista. Berlim Oriental era setor soviético, enquanto os três aliados ocidentais tinham seus setores em Berlim Ocidental. Em nenhum outro lugar do mundo, russos e americanos encaravam-se diariamente como em Berlim.

O verdadeiro motivo do muro - No dia 13 de agosto de 1961, começou a construção do Muro de Berlim, que entrou para o linguajar dos alemães orientais como "muralha de proteção antifascista". Na justificativa oficial, porém, não foi citada uma palavra sobre o êxodo da população alemã oriental para o oeste.

Aliás, este era o verdadeiro motivo da construção do muro: impedir a fuga em massa da população, que começara já no início dos anos 50. Em julho de 1961, o alojamento de Marienfelde, em Berlim Ocidental, registrava o novo recorde de 30 mil fugitivos da Alemanha comunista. Em agosto, passavam a fronteira diariamente de mil a quatro mil pessoas.

Na calada da noite – O chefe do governo Walter Ulbricht encarregou Erich Honecker, então secretário do Conselho Nacional de Defesa, de cercar a fronteira. À 1h05 da noite de 13 de agosto, apagou-se a iluminação de rua no Portão de Brandemburgo, o cartão de visita da cidade.

Cerca de 20 mil policiais da Guarda de Fronteira, soldados, funcionários do Stasi, o poderoso serviço secreto e de segurança da RDA, além de milícias de trabalhadores, avançaram rumo à demarcação do setor ocidental. Cercas de arame farpado e blocos de concreto armado foram instalados. Onde isso ainda não era possível, tanques bloquearam a passagem. A cerca ao longo dos três setores ocidentais de Berlim dividiu ruas, cemitérios, linhas de bonde e trens, propriedades e até famílias, da noite para o dia.

Uma cidade cercada – Seis horas depois, a fronteira, contornando os 155 quilômetros de Berlim Ocidental, estava toda cercada. Dos 81 postos fronteiriços em Berlim, 69 foram fechados nessa mesma noite e outros cinco tiveram igual destino nos dias seguintes.

Restaram sete, a partir de então utilizados para o tráfego de mercadorias e a entrada de pessoas que visitavam a Alemanha Oriental. Sua população não podia mais sair. Posteriormente, estabeleceu-se um rigoroso sistema de autorização de viagens ao Ocidente, que continuaram sendo um sonho para a grande maioria dos alemães orientais.

Indignação na Alemanha Ocidental – A construção do muro provocou indignação no Ocidente. Na República Federal da Alemanha, contudo, não faltaram apelos à razão e à moderação. Numa primeira reação, o então chanceler federal Konrad Adenauer referiu-se a "uma situação muito séria" e "uma violação flagrante do tratado das quatro potências aliadas".

Ao mesmo tempo, ele conclamou a "encarar com serenidade o desafio do bloco oriental" e confiar nos Aliados. Bem mais enérgica foi a reação de Willy Brandt, então prefeito de Berlim Ocidental, para quem o cerco significava "que em plena Berlim se levanta o paredão de um campo de concentração".

Aliados não reagiram ao Muro – No entanto, os Aliados não viram necessidade de adotar medidas imediatas, considerando que o Muro não se voltava contra as potências aliadas e sim, em primeira linha, contra a população de Berlim Oriental e da RDA, como expressou, em uma nota, o Secretário de Estado norte-americano Dean Rusk, no mesmo 13 de agosto, após indicar que faria "um protesto enérgico junto aos canais competentes".

Consta que o presidente norte-americano John F. Kennedy teria reagido com um certo alívio à notícia. "Não é um solução muito agradável, mas um muro é muito melhor do que uma guerra", teria dito o presidente numa roda confidencial, segundo os historiadores.