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Novo Presidente moçambicano terá de conciliar interesses dentro da FRELIMO

Cristiane Vieira Teixeira 31 de outubro de 2014

Quem chega ao poder em Moçambique é um delfim do Presidente Armando Guebuza, reconhecem analistas. O início do mandato de Filipe Nyusi deverá ser marcado pelo desafio de romper com o que foi o Governo Guebuza.

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Foto: picture-alliance/dpa

A Frente de Libertação de Moçambique (FRELIMO) ganhou as eleições gerais em Moçambique, com uma maioria absoluta no Parlamento, e o seu candidato, Filipe Nyusi, venceu as presidenciais com 57,3%, segundo os resultados oficiais preliminares divulgados pela Comissão Nacional de Eleições na quinta-feira (30.10).

Analistas consideram que vários desafios aguardam o novo Presidente, entre os quais conciliar os interesses dentro do partido no poder e romper com o que foi o Governo de Armando Guebuza.

“Se ele tiver vontade – e achamos que ele tem essa vontade –, será que tem capitais suficientes para romper com o paradigma dominante dentro da estrutura partidária e impor o seu modelo de governação?”, interroga Domingos Manuel do Rosário, professor de Ciências Políticas da Universidade Eduardo Mondlane, em Maputo.

Também o sociólogo Moisés Mabunda considera que não será fácil para Filipe Nyusi impor-se como chefe de Estado, até porque “não era um daqueles ministros calejados no Governo”, sublinha.

Dentro do partido, Nyusi também “não era uma figura de proa”, lembra ainda Moisés Mabunda. “Vai levar algum tempo, um, dois anos ou três talvez, neste processo, para podermos começar a ter o seu próprio cunho de gestão, de direção e de condução dos destinos do país.”

Quem ocupará liderança da FRELIMO?

Entre as dúvidas que a eleição não resolveu, uma refere-se à liderança da FRELIMO. Quem ocupará a presidência do partido no poder? Moisés Mabunda acredita que Filipe Nyusi assumirá também este papel.

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“A dispersão do poder dentro do partido não seria boa. Era desejável, como foi no passado, que o chefe do partido fosse, ao mesmo tempo, o chefe do Estado”, defende.

O sociólogo acredita, que Armando Guebuza irá “entregar as rédeas do partido” a Nyusi de forma pacífica.

Domingos Manuel do Rosário destaca que também será uma tarefa do novo Presidente administrar os interesses dentro do partido, inclusive os do Presidente cessante Armando Guebuza.

“Supostamente, a ideia é tentar agradar a Guebuza, mas tentar agradar também àqueles que dentro do partido negociaram para que um jovem, vindo da ala militar, também assumisse o poder”, afirma o docente.

Teia de interesses complexa

Por outro lado, Filipe Nyusi “tem também a grande expectativa dos moçambicanos” e “tem que ser mais inteligente do que muita gente para conseguir ultrapassar essa teia de interesses”, defende Domingos Manuel do Rosário.

Wahlen Mosambik Filipe Nyusi und Armando Guebuza
Armando Guebuza (esq.) e Filipe Nyusi durante a campanha eleitoralFoto: Getty Images/AFP/ Gianluigi Guercia

Este raciocínio é reforçado por Moisés Mabunda, para quem esta é uma questão de sobrevivência do próprio partido FRELIMO, especialmente se Nyusi estiver na liderança.

Por isso, sublinha, é importante “garantir que os interesses do militante Guebuza, como os interesses do militante Chissano e os interesses dos outros militantes sejam salvaguardados, por forma a manter-se e a fortificar-se até essa organização”.

Caso contrário, explica, “em última hipótese talvez, é que pode desencadear-se um processo de desestabilização que até pode levar à cisão. E não creio que seja esse o desejo e a vontade do próprio Nyusi.”

Mesmo que perca a presidência da FRELIMO, a influência política de Armando Guebuza deverá manter-se. “A ascensão e exercício do poder fizeram dele uma pessoa com seguidores, com uma ala”, lembra o sociólogo. “Esse grupo que o ajudou, que o serviu durante esses dez anos todos, certamente que continuará a ver nele uma referência para os seus próprios posicionamentos dentro do partido.”

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