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Negros são maioria das vítimas de mortes violentas, afirma Ipea

Ericka de Sá, de Brasília19 de novembro de 2013

Em cada grupo de 100 mil negros, 36 pessoas são mortas. Entre as pessoas que não são negras, o número cai para 15,2, afirma um estudo do Ipea com base em dados do IBGE. Para os pesquisadores, racismo é uma das causas.

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Foto: picture alliance/dpa

Um novo estudo do Instituto de Pesquisa Econômica e Aplicada (Ipea) comprova que as chances de um negro ser assassinado no Brasil são muito maiores do que as de uma pessoa que não é negra. O documento foi divulgado nesta terça-feira (19/11), véspera do Dia da Consciência Negra.

Segundo o estudo Vidas Perdidas e Racismo no Brasil, além da situação socioeconômica e do acesso desigual às políticas públicas, também o racismo da sociedade brasileira tem influência direta nos elevados índices de mortes violentas de negros. Em consequência, a expectativa de vida dos negros é menor do que a de brancos e índios. Isso vale principalmente para homens negros jovens, de baixa escolaridade. A maioria das mortes ocorre por arma de fogo.

O estudo lembra que a população de negros e pardos é de 93,9 milhões, apenas um pouco menor que a de pessoas não negras, que é de 96,7 milhões.

Mais que o dobro de mortes de negros

Os últimos dados do IBGE afirmam que, enquanto o número de homicídios para cada grupo de 100 mil negros (incluindo pretos e pardos) é de 36, o de não negros (brancos, amarelos e indígenas) é de 15,2. A proporção é de 2,4 negros mortos para cada uma pessoa não negra.

A análise dos dados por unidade da federação aponta que o número de mortes de negros é maior do que o de não negros em todas as unidades da federação (especialmente nas regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste), exceto no Paraná.

Alagoas é o estado em que é registrada a maior diferença entre a morte violenta de negros e não negros: 17,4 negros mortos para cada vítima de outra cor. Entre os negros, são 76 mortes em cada grupo de 100 mil pessoas.

"Essa diferença na taxa de homicídios de negros e não negros não pode ser explicada meramente pela diferença socioeconômica. Uma das razões certamente é o racismo", afirma Daniel Cerqueira, diretor de Estudos e Políticas do Estado, das Instituições e Democracia do Ipea e um dos autores do estudo.

Expectativa de vida

O estudo também aponta que, por causa da violência, a expectativa de vida dos negros é menor. Se consideradas todas as formas de violência letal (homicídios, suicídios e acidentes), os homens brasileiros de cor negra perdem 3,5 anos de vida, enquanto que os não negros perdem 2,57 anos.

A diferença é ainda maior quando considerados apenas os homicídios (modalidade de violência com maior incidência de vítimas negras): o homem negro, ao nascer, perde 1,73 ano de vida; o homem não negro, 0,81.

Novamente Alagoas é o estado que registra maior perda na expectativa de vida para homens negros em decorrência de homicídios: 4,08 anos.

"Isso significa que o negro que nasce hoje em Alagoas tem a expectativa de viver 4 anos a menos, em média", exemplifica Cerqueira. "Isso é um dado fundamental para considerar o desenvolvimento local, o desenvolvimento dos países", completa.

Racismo institucional

O canal direto que liga o racismo ao índice de mortes violentas de negros no país é o racismo institucional, segundo o estudo do Ipea. Essa forma de racismo, segundo Cerqueira, "tem a ver com a sociedade valorizar a vida de um negro e a de um não-negro de forma diferenciada".

O racismo institucional pode ser percebido na atuação das polícias, por exemplo, quando analisadas as estatísticas dos autos de resistência – nome oficial de mortes em ações policiais –, afirma o pesquisador. Os negros são a maioria das vítimas.

Ele deu outro exemplo: "Quando olhamos as taxas de transplantes pelo SUS [Sistema Único de Saúde], por exemplo, vemos a população não negra beneficiada".

A repetição de estereótipos sobre o negro acaba por associar essas pessoas a comportamentos criminosos, diz o texto. "Quando você propaga a ideia de que o negro é criminoso, só isso já gera uma maior probabilidade de ele ser vitimado", explica Cerqueira.