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Negócio de navios pode ser razão da visita do ministro angolano da Defesa à Alemanha

Nádia Issufo27 de novembro de 2014

Angola e Alemanha assinaram um acordo bilateral, cujos detalhes não são de conhecimento público. Analista acredita que a visita do ministro angolano João Lourenço pode ter a ver com a compra de barcos e de armamento.

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Em 2011, a chanceler alemã Angela Merkel propôs a venda de barcos patrulha a Angola, o que suscitou uma forte controvérsia na Alemanha
Foto: picture alliance/dpa

Envolta em secretismo, termina esta quinta-feira (27.11) a visita à Alemanha do ministro da Defesa de Angola. Na segunda-feira (24.11), dia em que começou a visita de João Lourenço, os dois países assinaram, em Berlim, um acordo bilateral que envolve, por exemplo, a formação de quadros do Exército angolano. Do lado alemão o acordo foi assinado pela ministra da Defesa, Ursula von der Leyen.

Na terça-feira (25.11), o ministro angolano esteve em Bremen, no norte do país, onde visitou os estaleiros navais, e depois a foi a Rostock, onde se produzem navios. Lourenço visitou ainda a fábrica da Airbus, com sede na cidade de Munique, no sul da Alemanha.

Segundo alguns especialistas, esta visita de João Lourenço pode estar relacionada com a compra de navios-patrulha e de armamento.

Negócio acordado por Merkel

Para Emanuel Matondo, membro da Iniciativa Angolana Antimilitarista para os Direitos Humanos (IAADH) e editor da revista alemã Afrika Süd, a visita do ministro angolano é apenas o seguimento do negócio de navios acordado entre os dois países aquando da visita a Angola da chanceler alemã, Angela Merkel, em 2011.

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Trata-se de seis a oito barcos-patrulha, custando cada um entre 10 e 25 milhões de euros. Emanuel Matondo critica a suposta compra, lembrando que Angola tem um conflito interno em Cabinda e está em conflito com países vizinhos. “Tem um conflito marítimo com o Congo Democrático, com o Congo Brazaville e até com o Gabão”, salienta.

As suas críticas não são dirigidas apenas a Angola. Defende que a Alemanha também alimenta Angola com armamento porque “tem os seus interesses”. Em 2011, recorda, foi a chanceler alemã quem propôs a venda dos barcos.

Segundo o editor, ao acordar este tipo de negócios, a Alemanha chega mesmo a violar a lei do país. “O Governo alemão aposta em potenciar o regime angolano como polícia regional naquela região de África. Esses navios de guerra custam muito dinheiro ao país”, critica.

“Alemanha ao lado dos déspotas”

Para Emanuel Matondo, “esta é mais uma prova de que a Alemanha está sempre ao lado dos déspotas, dos regimes que oprimem o povo angolano.” E a história repete-se, sublinha ainda. “Quando os angolanos iniciaram a luta contra Salazar, a Alemanha ofereceu fragatas e corvetas ao regime salazarista”.

Emanuel Matondo
Emanuel Matondo é membro da Iniciativa Angolana Antimilitarista para os Direitos Humanos (IAADH)Foto: DW

Em 2011, o partido alemão Os Verdes também questionou o Governo da Alemanha – o terceiro maior exportador mundial de armas – sobre as exportações de armas para Angola. Os deputados pretendiam saber concretamente que mercadorias foram entregues para fins militares e para segurança policial e em que quantidade.

A supervisão da costa angolana contra possíveis ações de pirataria e a supervisão das suas fronteiras e águas, que são alvo de exploração petrolífera por parte de grandes multinacionais, seriam a razão da compra dos barcos. Também o Presidente angolano, José Eduardo dos Santos, disse na altura que o seu país estava a modernizar as Forças Armadas.

Emanuel Matondo classifica como “falsos” todos estes argumentos. “Até mesmo essa história de pirataria ao largo das águas angolanas é um pouco exagerada. Não se registam muitas atividades de pirataria na costa angolana. Assegurar essa zona de Angola com fragatas e corvetas é uma maneira de desviar fundos para outros fins.” Fundos que, na sua opinião, “Angola precisa para sustentar, por exemplo, o povo faminto.”

Angola Luanda Deutschland Merkel dos Santos
Encontro da chanceler alemã, Angela Merkel, com o Presidente de Angola, José Eduardo dos Santos, em Luanda, em julho de 2011Foto: dapd