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Nalmefeno é a nova esperança na luta contra o alcoolismo

Tobias Oelmaier (cn)4 de novembro de 2013

Testes mostram que a substância reduz significativamente o consumo de álcool entre pessoas com dependência e abrem caminho para tratamentos sem a necessidade de abstinência.

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Foto: Fotolia/lassedesignen

Um medicamento que promete reduzir o consumo de álcool pode abrir caminho para novas terapias no tratamento do alcoolismo. O nalmefeno atua no cérebro, inibindo a sensação de euforia causada pelo álcool e reduzindo, assim, a vontade de continuar bebendo.

Segundo o pesquisador Karl Mann, em testes o nalmefeno ajudou dependentes a reduzir o consumo em 60%. Em março deste ano, a Comissão Europeia aprovou a comercialização do produto na União Europeia.

Mann trabalha no Instituto para Saúde Mental de Mannheim, na Alemanha, que conduziu testes com a nova substância. Ele relatou mais detalhes da sua pesquisa em entrevista à Deutsche Welle.

DW: O senhor receitou a substância nalmefeno para dependentes de álcool. Quais foram os resultados da pesquisa?

Karl Mann: Ao contrário do grupo que tomou um placebo, constatamos que o consumo de álcool caiu significativamente no grupo que tomou o nalmefeno.

E isso independentemente do grau de alcoolismo e de quanto tempo a pessoa é alcoólatra?

Esta seria a próxima pergunta. Primeiramente, precisávamos saber se a premissa tinha alguma chance de ser bem-sucedida, e confirmamos isso com essa pesquisa. Há mais dois estudos parecidos. Um durou um ano e apresentou os mesmos bons resultados. Assim, podemos dizer que essa é uma premissa bem interessante.

Mas já temos alguns indícios sobre a relação entre tempo de dependência e sucesso da terapia. Por exemplo, pessoas que consumiam grandes quantidades de álcool reagiram melhor do que aquelas que, apesar de dependentes, bebiam pouco.

Para alguns pacientes, basta uma visita ao clínico geral e um teste de função hepática para reduzir o consumo de álcool. Mas isso funciona em apenas 20% dos casos. Para os demais 80% é indicado o uso da pílula.

Os participantes que tomaram a pílula conseguiram parar de beber?

Professor Karl Mann
Para Mann, resultados da pesquisa foram positivosFoto: Zentralinstitut für seelische Gesundheit

Apenas uma minoria conseguiu. Os outros reduziram o volume consumido para 40% do volume anterior. Isso surpreendeu também a mim, pois eu venho dessa tradição que diz que um alcoólatra deve permanecer na abstinência e não há outra solução. Ao longo de seis meses, levantamos dados que mostram que, apesar da dependência, em determinadas circunstâncias as pessoas conseguem reduzir fortemente o consumo e, após essa redução, não só a saúde delas melhora, mas também a vida social e o trabalho.

Como age o nalmefeno?

O nalmefeno é uma substância que regula nosso sistema opioide. Endorfinas ou opioides endógenos nos dão uma sensação de bem-estar e de euforia e garantem nossa descontração, por exemplo quando bebemos álcool. O medicamento bloqueia essa sensação de descontração provocada pelo álcool. Assim, após uma ou duas taças de vinho, por exemplo, não há mais esse feedback positivo. Sem ele, some também o motivo para continuar bebendo.

Essa substância pode ser usada no tratamento de outras drogas, do cigarro ou de distúrbios alimentares?

Nós já sabemos que essas substâncias funcionam também nos casos de dependência de drogas. Quando a substância bloqueia os receptores cerebrais, a heroína, por exemplo, não tem mais efeito. A novidade é que ela agora também está sendo usada no tratamento do alcoolismo e que ela não pressupõe abstinência absoluta, mas pode levar a uma redução do consumo.

O que muda em relação ao antigo tratamento que dizia que a abstinência era a única solução?

O ponto decisivo é que, com o procedimento clássico, só atingíamos realmente em torno de 10% dos afetados. Com esse novo procedimento, poderemos alcançar talvez 20% ou 30%. Com ele conseguiremos não só ajudar mais pessoas, como também reduzir os danos do consumo de álcool.