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"Não devolverei nada voluntariamente", diz herdeiro do "Tesouro de Munique"

17 de novembro de 2013

Em entrevista à "Der Spiegel", Cornelius Gurlitt afirma que seu pai comprou licitamente os quase 1.400 quadros achados em seu apartamento, dos quais 590 são suspeitos de terem sido extorquidos de judeus pelos nazistas.

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Foto: picture-alliance/dpa

Ele viveu por décadas recluso em seu próprio mundo. Ao menos até duas semanas atrás, quando Cornelius Gurlitt se tornou o centro das atenções mundiais, após a descoberta em seu apartamento de centenas de obras de arte suspeitas de terem sido extorquidas de judeus durante o regime nazista.

Agora, o octogenário veio a público pela primeira vez falar sobre o assunto. O proprietário das obras de arte que ficaram conhecidas como o "Tesouro de Munique" afirma que pretende manter todos os quadros e que eles foram adquiridos de forma legítima.

"Não devolverei nada voluntariamente", garantiu, em entrevista ao semanário alemão Der Spiegel, o filho de Hildebrandt Gurlitt, um dos maiores negociantes de arte do período nazista. Cornelius Gurlitt está sendo investigado pela Justiça por sonegação fiscal.

Gurlitt argumenta que as quase 1.400 obras encontradas em seu apartamento foram compradas legalmente pelo seu pai, que as deixou de herança. Ele disse que as acusações da Justiça e da mídia são falsas.

Gurlitt ressaltou que não rejeita conversas com as autoridades, mas disse que está chocado com a repercussão pública. "Eu não sou Boris Becker, o que essas pessoas querem comigo?" perguntou, se referindo ao famoso ex-tenista alemão. "Eu apenas queria viver com meus quadros."

Quadro "Paisagem com cavalos" de Franz Marc. Todas as 590 pinturas estarão disponíveis na internet
Quadro "Paisagem com cavalos" de Franz Marc. Todas as 590 pinturas estarão disponíveis na internetFoto: Christof Stache/AFP/Getty Images

Autoridades almejam doação das obras

Sobre a apreensão das pinturas, Gurlitt – cronicamente doente – comentou: "Eles podiam ter esperado até que eu estivesse morto", acrescentando que a coleção, herdada por ele, tem sido a razão de sua vida. "Não amei nada mais na minha vida do que minhas pinturas".

Os quadros foram levados pelos investigadores e se encontram guardados em um depósito. "Porque eles os não deixaram aqui, só levando aqueles que quisessem analisar?", questionou. Se referindo às investigações que está sofrendo sobre supostas irregularidades fiscais, ele afirma que não cometeu nenhum crime. "E mesmo se fosse o caso, ele já estaria prescrito", frisou.

De acordo com uma reportagem da revista alemã Focus, funcionários do governo alemão e da Justiça do estado da Baviera querem convencer Gurlitt a doar ao Estado as 590 pinturas suspeitas de terem sido extorquidas de judeus durante a ditadura nazista.

Em contrapartida, as investigações contra Gurlitt poderiam ser arquivadas. De acordo com a Focus, uma "pessoa de confiança" estaria encarregada de interceder junto a Gurlitt, para tentar convencê-lo a ceder as obras ao Estado.

As autoridades pretendem publicar fotos de todas as 590 pinturas suspeitas dentro de alguns dias na internet, através da plataforma Lostart.de.

RC/dpa/afp