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"Música de Intervenção Rápida" denuncia violação de direitos humanos em Moçambique

9 de abril de 2013

"MIR" é o novo 'single' do rapper moçambicano Azagaia. Canção protesta contra a polícia de elite do país, a Força de Intervenção Rápida (FIR). Em março, houve violência da FIR contra antigos guerrilheiros em Maputo.

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O rapper Azagaia em Maputo
O rapper Azagaia em MaputoFoto: DW/R.d.Silva

Quando os desmobilizados de guerra se amotinaram, em março, em Maputo, para reivindicar aumento das pensões, a polícia de elite de Moçambique agiu com violência. A Força de Intervenção Rápida (FIR), segundo relatos de vários meios de comunicação, chegou a espancar os antigos combatentes.

Uma atitude que inspirou o rapper, Azagaia, a gravar o seu novo "single". Chama-se MIR, Música de Intervenção Rápida. A ministra da Justiça Benvinda Levi aparece na primeira estrofe, por causa dos seus pronunciamentes face àquela situação."Há circunstâncias em que o poder do Estado tem que se sobrepor para acautelar direitos mais altos", disse Levi, na altura.

Segundo explica o músico na nova canção, este pronunciamento ilustra o desrespeito dos direitos humanos pelo atual poder:

Senhora ministra, cuidado com as palavras /
Se não fosse o sangue do povo, nem sequer governavas

"Mas que interesses podem ser mais altos que os direitos humanos? Afinal de contas, esta é uma sociedade feita por seres humanos, é um país, é um mundo feito por seres humanos, e acho que estes são os direitos mais altos que existem", disse Azagaia, em entrevista à DW África, em Maputo.

Desmobilizados de guerra protestam já em 2011: polícia de elite agiu com violência durante manifestação em março deste ano, inspirando canção de Azagaia
Desmobilizados de guerra protestam já em 2011: polícia de elite agiu com violência durante manifestação em março deste ano, inspirando canção de AzagaiaFoto: DW/Ezequiel Mavota

"Jatos de palavras contra os vossos jatos d'água"

É o que diz o refrão da "MIR". Azagaia aponta as atitudes da Força de Intervenção Rápida como "algemas à liberdade dos cidadãos". "É mesmo para afirmar que nós, como povo, não temos armas para disparar, [mas] temos direito a ter palavra. Temos o direito de usar a nossa arte de todas as formas que nós acharmos para demonstrar a nossa opinião. E, neste caso, é mais ou menos uma resposta à altura, mas com o tipo de armas que nós temos", explicou Azagaia.

Nas palavras do rapper, não faz sentido que os moçambicanos, independentes há 38 anos, não gozem efectivamente de liberdade.

Sem medo da perseguição

Muito crítico ao poder político em Moçambique, Azagaia disse que sente-se perseguido mas que não tem medo, pois "há que lutar para melhorar a vida com as armas que não matam": "Pior que o medo é uma certa covardia. Eu acho que os cidadãos não se devem acovardar. E se nós, num Estado de direito... eu não acredito que haja espaço para o medo. Sei que existem pessoas que já sofreram graves consequências por dizerem o que pensam, e sofrem até hoje, são marginalizadas...", apontou o músico.

Azagaia também não se retrai com as palavras, afirmando que os políticos abusam o poder porque confiam na FIR: "'Seus mal-agradecidos, não têm coração, né? / Raça de políticos, querem confusão, né? / E só confiam nas forças policiais, o povo pede comida e vocês mandam gás lacrimogêneo e depois soltam os cães / disparam jatos d'água contra os nossos pais e mães / já vos demos o poder, afinal o que querem mais?'", citou o rapper.

"Música de Intervenção Rápida" denuncia violação de direitos humanos em Moçambique

A "Música de Intervenção Rápida" surge também num momento de confrontos entre as autoridades moçambicanas (entre outras, a FIR) e militantes do maior partido oposicionista do país, o ex-movimento rebelde RENAMO. Desde a semana passada, pelo menos oito pessoas morreram em dois ataques. Enquanto o primeiro, na última quinta-feira (04.04) terá sido uma represália da RENAMO a um ataque da FIR a uma aglomeração do partido no centro do país, na véspera, o ataque mais recente – do último sábado, 06.04 – não foi reivindicado nem pelo governo, nem pela RENAMO.

Romeu da Silva (Maputo)
Renate Krieger / António Rocha

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