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México luta contra efeitos da valorização do dólar

Andreas Knobloch (rc)27 de março de 2015

Bom desempenho da economia dos EUA e perspectiva de elevação de juros pelo Fed pressionam o peso mexicano para baixo. Fuga de capital já é perceptível, mas economista diz que será pequena.

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Foto: picture-alliance/AP

Todos os dias, 52 milhões de dólares das reservas cambiais mexicanas são injetados pelo Banco Central na economia do país por causa da rápida desvalorização da moeda nacional. O programa começou em 11 de março e deve prosseguir até 8 de junho. Depois será tomada uma decisão sobre o prolongamento das chamadas "medidas preventivas adicionais" da comissão de câmbio, formada pelo Ministério das Finanças e pelo próprio Banco Central.

Desde o início do ano, o peso mexicano perdeu cerca de 5% de seu valor em relação ao dólar. No dia anterior ao início do plano, um dólar custava 15,65 pesos – uma baixa histórica desde a introdução do "novo peso", em junho de 1992. Na comparação anual, a perda de valor é de 18%.

O aumento do dólar em todo o mundo se deve ao bom desempenho econômico da economia americana e sobretudo ao aguardado aumento das taxas de juros pelo Banco Central dos EUA – o Federal Reserve (Fed) –, previsto para junho. Esse aumento, o primeiro desde 2006, poderá trazer sérios problemas para a já combalida economia mexicana.

Fuga de capital

As consecutivas reduções dos juros feitas pelo Fed desde 2008, em resposta à crise econômica e financeira mundial, criaram um forte fluxo de capital para as economias emergentes, como o México e o Brasil. De acordo com o Fundo Monetário Internacional (FMI), o México era o quinto país no mundo que mais recebia investimentos estrangeiros. Agora, o aumento dos juros nos Estados Unidos deverá ter o efeito contrário.

Segundo o Banco Central mexicano, só em fevereiro cerca de 16 bilhões de pesos – em torno de 1,1 bilhão de dólares – deixaram o país. Mesmo assim, a economista do Banco Base, Gabriela Siller, não vê motivos para preocupação. "Com o aguardado aumento das taxas de juros americanas, espera-se que entre 5 bilhões e 8 bilhões de dólares saiam do país. Isso representa menos de 2% do que entrou desde 2008", afirmou a especialista ao jornal mexicano La Jornada.

Justamente por isso o diretor da bolsa de valores mexicana, Jaime Ruiz Sacristán, diz não acreditar que as medidas do Banco Central tenham sido introduzidas por causa da ameaça de fuga de capitais. Para ele, a desvalorização acentuada do peso mexicano seria sobretudo resultado da especulação, com o objetivo de compensar riscos de desvalorização de moedas em outras partes do mundo, como na Rússia ou na África do Sul.

Börse in Mexiko City
Bolsa de Valores do México, na capital do paísFoto: Alfredo Estrella/AFP/Getty Images

O ministro mexicano da Economia, Luis Videgaray, também não demonstra grande preocupação. A força do dólar é um fenômeno global, e o desempenho do peso ainda é bom se comparado a outras moedas, argumenta. O euro, por exemplo, caiu cerca de 15% desde o início do ano, a maior baixa em 12 anos. Para ele, o leilão de reservas cambiais, promovido pelo Banco Central, vai proteger a economia mexicana dos potenciais perigos da flutuação cambial e garantir a estabilidade.

O Banco Central mexicano sabe que lutar contra a valorização do dólar é um esforço inútil. O mais importante é evitar uma desvalorização muito rápida do peso, pois ela teria um impacto negativo em muitas empresas mexicanas, que têm dívidas em dólar no exterior.

Problemas de liquidez também não devem ocorrer. Apesar de as reservas cambiais terem sido reduzidas em 801 milhões de dólares nas últimas semanas, elas ainda somam 195 bilhões de dólares. Além disso, há ainda uma linha de crédito de 70 bilhões de dólares do FMI.

Medo da inflação

A desvalorização do peso gera temores de aumento da inflação. Em fevereiro, o índice anual era de apenas 3%, mas esse percentual ainda não reflete o impacto negativo da desvalorização. O aumento dos preços dos produtos importados, em razão da alta do dólar, só será registrado pelas estatísticas no segundo semestre. As autoridades tributárias mexicanas alertaram as empresas para que reduzam suas dívidas em dólar. Desde o início da crise econômica e financeira, a dívida do setor privado no país aumentou de modo desproporcional.

Por enquanto, as vendas de dólares pelo Banco Central conseguiram desacelerar a desvalorização da moeda. Por isso, o especialista Win Thin, do banco privado Brown Brothers Harriman & Co, disse ao portal de economia MarketWatch considerar improvável um aumento da taxa de juros, ou até mesmo medidas de controle de capital.

Além da desvalorização do peso, o governo mexicano também precisa lidar com a forte queda do preço do petróleo. Um terço dos rendimentos do Estado provém do setor petrolífero. No final de janeiro, o governo decidiu reduzir os gastos públicos no atual orçamento em cerca de 124 bilhões de pesos (cerca de 8 bilhões de dólares), o equivalente a 0,7% do PIB do país. Metade desse valor atinge a empresa petrolífera estatal Pemex, que teve de reduzir um grande número de projetos.

Energie Mexiko Pemex
Um terço dos rendimentos do Estado mexicano provém do setor petrolíferoFoto: picture-alliance/Zuma Press

A perspectiva inicial era de que o ano de 2015 fosse bom para a indústria petrolífera do México. A histórica e controversa reforma do setor energético permite, pela primeira vez, a participação de capital privado na prospecção e produção de petróleo e gás. Os primeiros campos de petróleo deverão ser leiloados na metade do ano, mas o preço baixo do produto e o enfraquecimento do peso geram algumas incertezas.

Há poucos dias, o governo anunciou uma redução no orçamento de 2016, de cerca de 0,8% do PIB. Apesar das numerosas reformas estruturais do governo de Enrique Peña Nieto, o tão alardeado "momento do México" está difícil de se concretizar.