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Museus etnológicos mantêm coleções dos tempos das expedições

Annabelle Steffes (sv)26 de fevereiro de 2014

Há 100 anos, expedições de cientistas pelo mundo eram uma espécie de coleta de objetos de culturas alheias. Essas peças eram integradas a acervos dos Museus de Etnologia. Hoje, curadores têm que cuidar de tais coleções.

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Foto: DW/A. Steffes

No início do século 20, o fascínio por "outros" povos e culturas era um fenômeno de massa. As chamadas "mostras dos povos" atraíam milhões de visitantes e os museus etnológicos da época eram muito procurados. Ali, encontravam-se desde fotografias a joias e objetos de arte – milhares de artefatos provenientes de lugares distantes eram coletados, catalogados e expostos.

Mas os etnólogos e membros das expedições de então não se davam por satisfeitos com peças avulsas, levando de volta a seus países de origem às vezes até cerca de quatro mil peças depois de uma única expedição. Eram máscaras, figuras e objetos de uso cotidiano de toda espécie. A regra era: quanto mais, melhor.

A exposição #link:http://www.weltkulturenmuseum.de/de/ausstellungen/aktuell/3927:Mercadoria & Saber#, no Museu das Culturas do Mundo, de Frankfurt, mostra como seu fundador Bernhard von Hagen era fascinado "pelo Outro". Ele trabalhou como médico especializado em doenças tropicais em Sumatra (ilha que pertence à Indonésia) e aproveitou para fotografar tipologias humanas. Von Hagen acreditava que os nativos da ilha tinham tipos físicos que se distinguiam daqueles dos europeus.

Ser humano como mercadoria

"Mostramos fotografias nunca antes vistas, por apresentarem os seres humanos de maneira muito difícil", diz a coordenadora do acervo africano no Museu, Yvette Mutumba, a respeito das fotos de Von Hagen. As reproduções em série de genitais masculinos causam tanto estranhamento quanto as "fichas antropométricas", com reproduções de pessoas medidas cuidadosamente pelo médico nas posições frontal, de costas e lateral.

Völkermuseen als Groß-Kaufhäuser
Objetos trazidos por uma expediçãoFoto: Gisela Simrock/Sammlung Weltkulturen Museum

Segundo Mutumba, é importante mostrar esse material, a fim de deixar claro o quanto o ser humano era tratado como objeto. Tanto para fins de pesquisa, quanto no uso da força de trabalho, fica claro que essas pessoas eram vistas como mera mercadoria.

Mas a paixão por colecionar dos etnólogos acabou gerando outro problema, estritamente pragmático: como guardar essa quantidade de objetos? Para isso, foram transpostas mais de duas mil armas africanas do arquivo do Museu para um espaço de exposição em Frankfurt. Esses punhais e facas compõem boa parte da coleção etnográfica e refletem o fascínio dos antigos participantes das expedições. "Era totalmente normal levar consigo essas armas, sem pensar o quanto isso poderia ser ilegal", explica Mutumba.

Impulsos de fora

A diretora do Museu, Clémentine Deliss, tem com essa exposição um objetivo concreto em mente: a abertura dos museus etnológicos do país a novos impulsos vindos de fora. Segundo ela, a tarefa desses museus deixou de ser, há muito, a de apresentar "etnias". Deliss chamou, por isso, artistas de todo o mundo para que abordassem, com o frescor de um novo olhar, a coleção do Museu.

Völkermuseen als Groß-Kaufhäuser
Funcionário do governo belga compara sua altura à de um homem desconhecido, em fotografia que data de 1930Foto: Anthropos Institut, St. Augustin

Um deles é o belga David Weber-Krebs, que, fascinado com o volume do material reunido, quis contar a história dos objetos ali expostos de A a Z. Tendo em vista uma coleção com mais de 67 mil peças, foi certamente uma ideia ingênua, conta o próprio Weber-Krebs. Sendo assim, ele acabou tendo que escolher duas mil peças e acrescentou à descrição delas uma espécie de narrativa, estampada nas paredes da sala de exposição com explicações sobre a importância dos objetos.