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Mudanças profundas são precisas - Centro de Integridade Pública propõe nova lei anti-corrupção para Moçambique

26 de novembro de 2010

Para diminuir a corrupção em Moçambique, são necessárias reformas profundas, diz o Centro de Integridade Pública. Ponto fulcral é dotar os magistrados do gabinete anti-corrupção com competências de acusação.

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Baltazar Fael do Centro de Integridade Pública (CIP) de Moçambique, quando apresentou o estudo do CIP na reunião do Comité Coordenador Moçambique-Alemanha.Foto: DW

Moçambique é considerado um país com problemas graves de corrupção. Atualmente Moçambique está na posição 116 de 178 países na classificação de percepção da corrupção da Transparência Internacional, o estudo de referência da área. Para melhorar o combate a corrupção, o Centro de Integridade Pública (CIP), a voz da sociedade civil moçambicana mais ativa quando se trata de denunciar a corrupção, elaborou um estudo como deveria ser reformada a Lei Anti-Corrupção de Moçambique.

Gabinete Central de Combate a Corrupção sem poder de acusação

Para Baltazar Fael do CIP, as competências do Gabinete Central de Combate à Corrupção deveriam ser ampliadas: “Temos um gabinete anti-corrupção em Moçambique que tem magistrados e investigadores em funções. Portanto, não se entende muito bem como é que este gabinete não tenha poderes para acusar.” Consequência disso são muitos magistrados frustrados, diz Fael, pois têm de entregar os seus processos a um outro magistrado para que os suspeitos de corrupção sejam acusados. “Mas o magistrado que recebe o processo em segunda mão, não tem conhecimento profundo do caso”, critica Fael, “e isto pode levar para que acusação caia facilmente junto do tribunal.”

Baltazar Fael
Baltazar Fael foi o convidado especial da reunião anual do Comité Coordenador Moçambique-Alemanha – Koordinierungskreis Mosambik (KKM), que decorreu entre os dias 19 e 21 de Novembro de 2010 em Berlim.Foto: DW

Falta de vontade política para cooperar internacionalmente em casos de corrupção

Outro ponto criticado por Baltazar Fael é a falta de cooperação internacional por parte de Moçambique. Existem vários casos em que empresas estrangeiras foram condenadas nos seus países por subornos que pagaram a altos oficiais moçambicanos, mas sem que as autoridades moçambicanas tenham investigado os casos.

Um exemplo é a empresa britânica Mabey and Johnson. Ela foi condenada na Grã-Bretanha porque pagou “luvas” a funcionários moçambicanos para facilitar a instalação de plantações de tabaco. “As pessoas foram identificadas com os nomes neste processo e a imprensa internacional até citou estes nomes”, salienta Baltazar Fael. Mas ele diz desconhecer até ao momento qualquer passo que tenha sido dado pelas autoridades moçambicanas para esclarecer as acusações e eventualmente iniciar um processo em Moçambique: “Eu não acredito que as autoridades moçambicanas não conheçam os trâmites internacionais legais, porque Moçambique é signatária da Convenção das Nações Unidas contra a Corrupção, que fixa quais são os mecanismos de cooperação.”

Leis existentes bastariam para perseguir o branqueamento de capitais do tráfico de drogas

Para Fael, os mecanismos legais internacionais existentes, possibilitariam um combate mais ativo das autoridades contra a corrupção ou o branqueamento de capitais provenientes do tráfico de drogas. Fael cita o caso do empresário moçambicano Mohamed Bashir, que foi colocado pelos Estados Unidos da América na sua lista oficial dos barões da droga. “Nos temos uma lei 3/97, que é uma lei muito evoluída nestas questões de tráfico de drogas que até avança para escutas telefônicas. A ser usada com as convenções internacionais de tráfico de estupefacientes nos podemos perseguir este caso: o que é importante é que as leis não fiquem na gaveta!”

Corrida desenfreada da elite política para os grandes negócios

Fael também criticou que um consórcio entre a empresa vietnamita Vietel e a SPI, braço de investimentos do partido do governo Frelimo, tenha ficado com a terceira licença de telefonia móvel no país. “Por parte das elites políticas em Moçambique há uma corrida desenfreada para os grandes negócios”, diz Baltazar Fael e compara este caso à Vodacom, o segundo operador móvel do país em que a Intelec, a empresa do Presidente Armando Guebuza, tem uma participação acionista. “Nós não ficamos por aqui: se nós formos a ver as concessões mineiras e as grandes empresas em Moçambique, com quem estão? Estão nas mãos da elite política!” Conflitos de interesse, que segundo o investigador do CIP têm efeitos nefastos: “Há um certo esquecimento da resolução dos problemas do povo por parte deste governo, porque é um governo que está mais a procura de estar em todo tipo de negócios ao invés de governar e criar transparência.”

Saibam mais sobre as recomendações ao governo e ao parlamento moçambicanos para melhorar a lei anti-corrupção na entrevista com Baltazar Fael, investigador do Centro de Integridade Pública.


Autor: Johannes Beck

Revisão: Helena de Gouveia