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Movimento Revolucionário Estudantil realiza mais uma manifestação em Luanda

13 de julho de 2012

O regime de Luanda está novamente na mira dos jovens que desde o ano passado têm protagonizado várias manifestações antigovernamentais. Um novo protesto foi convocado para este sábado (14.07).

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Polizei geht gegen Demonstration in Benguela, Angola, vor Wer hat das Bild gemacht?: Nelson Sul d'Angola (DW) Wann wurde das Bild gemacht?: 10.03.2012 Wo wurde das Bild aufgenommen?: Benguela, Angola Bildbeschreibung: Bei welcher Gelegenheit / in welcher Situation wurde das Bild aufgenommen? Wer oder was ist auf dem Bild zu sehen? Polizei geht gegen Demonstranten vor, die in Benguela (Süd-Angola) gegen die Ernennung von Suzana Inglês zur Chefin der Nationalen Wahlkomission Angolas (CNE) und gegen die Regierung der herrschenden Partei MPLA unter Präsident José Eduardo dos Santos protestieren Zugeliefert am 12.3.2012 durch Johannes Beck
Demonstration in Benguela AngolaFoto: DW

A manifestação marcada pelo autodenominado Movimento Revolucionário Estudantil (MER) visa, para além das mesmas reivindicações feitas nos anteriores protestos, contestar a candidatura do presidente angolano, José Eduardo dos Santos, nas eleições gerais de 31 de agosto, como cabeça de lista do partido a que preside, o MPLA, no poder. 

A manifestação contará também com muitos ex-militares que exigem explicações ao governo angolano sobre o paradeiro de dois companheiros raptados por desconhecidos. A polícia angolana continua a argumentar que está a investigar os raptos, não tendo, até agora, adiantado quaisquer explicações.

Américo Vaz é um dos jovens ativistas que vai estar na manifestação de sábado e, em entrevista à DW África, começa por destacar os objetivos deste protesto pelas ruas de Luanda.

Américo Vaz (AV): Colocamos como objetivo protestar contra a recandidatura do senhor José Eduardo dos Santos,enquanto cabeça de lista do partido no poder. Por outro lado, vamos protestar em solidariedade com os nossos dois "manos" Isaías Kassule e Alves Kamulingue que foram raptados por desconhecidos na via pública, em Luanda, em finais de maio, quando tentavam organizar uma manifestação de antigos combatentes e que até agora nem a polícia, nem a própria Procuradoria Geral da República, nem ninguém se pronunciou para, no mínimo, nos dizer o paradeiro dos nossos dois companheiros. Assim sendo, mais uma vez, entendemos sair à rua para protestar e aproveitar para denunciar, também mais uma vez, os problemas que a juventude angolana enfrenta, como a falta de emprego e a falta de habitação.

DW África: O MRE recebeu autorização das autoridades para a manifestação de sábado?

AV: Em princípio não estamos à espera de autorização, porque a legislação é clara. O artigo 47 da nossa Constituição diz que os organizadores das manifestações, no mínimo, devem informar as autoridades governamentais. Neste caso, tivemos o cuidado de informar o governo da Província de Luanda e de lhes enviar o "croqui" do trajeto que iríamos utilizar para a marcha de sábado. Até ao momento, não recebemos qualquer resposta, mas também não estamos à espera de uma posição do governo sobre o assunto. Vamos ver como é que a polícia se vai comportar. No mínimo, gostaríamos que a Polícia Nacional garantisse a nossa segurança.

DW África: Precisamente sobre a segurança, os anteriores protestos e marchas foram reprimidos e houve muita violência. Acha que este quadro vai repetir-se no sábado?

AV: Sem sombra de dúvida vai acontecer, porque os movimentos e as patrulhas nos nossos bairros demonstram isso. Vai haver repressão. Os elementos estão identificados, a "milícia" está preparada para o efeito, para, precisamente, reprimir os jovens manifestantes. Mas vamos estar pacíficos e de cabeças erguidas. A nossa única arma vão ser as palavras de ordem que, no fundo, fazem parte do exercício de um direito de cidadania.

DW África: Se houver uma intervenção policial violenta, qual será a resposta dos jovens manifestantes?

AV: No mínimo, defendermo-nos e, depois, acionar as autoridades competentes, nomeadamente o Tribunal e a Procuradoria Geral. Continuamos a insistir na não violência, embora a polícia e a "milícia" façam o contrário precisamente para provocar uma reação nossa... mas estão totalmente enganadas.

DW África: Fala-se de uma campanha de desobediência civil em toda cidade de Luanda. Confirma esta informação?

AV: O que está acontecer, e fundamentalmente na nossa cidade capital, Luanda, é que as pessoas estão a ganhar um bom nível de consciência cívica. Devo acrescentar que não só em Luanda, mas também nas grandes praças populacionais como Benguela, Huambo e Lubango, onde as populações se confrontam com as autoridades quando se sentem injustiçadas. E nessas condições o regime tenta de alguma forma manipular a população. Em Angola, ninguém pode reclamar nada, nem mesmo no trânsito, porque é logo evocada a questão da desobediência civil. Mas, se quero desobedecer, estou a exercer um direito que me é consagrado na Constituição.

DW África: Nas anteriores manifestações falou-se de políticos ou de partidos políticos que poderiam estar a incitar os jovens. Como responde a esta crítica?

AV: Considero isso uma manipulação. Eu era criança quando a minha mãe me dizia que a FNLA (Frente de Libertação de Angola) comia pessoas. E hoje está provado que não era verdade e que, no fundo, isso tudo não passava de uma propaganda hostil contra aquele partido, na altura da independência de Angola. E, neste momento, está a acontecer a mesma coisa. A manipulação é a especialidade do partido no poder: diabolizar, inventar as coisas para poder tirar algum dividendo. Os jovens sabem o que estão a exigir e por isso não é preciso ser instrumentalizado por forças estranhas. As pessoas estão a ver, a viver a realidade em Angola.

Entretanto, Américo Vaz disse ainda na entrevista que, para além da comunicação da realização da manifestação às autoridades políticas e policiais de Luanda, o MER enviou cartas informativas "e como precaução"  do que pretendem fazer às embaixadas da Alemanha, França e dos Estados Unidos, bem como à representação da União Europeia.

Autor: António Rocha
Edição: Maria João Pinto/Madalena Sampaio

13.07.12 Angola-Manifestação de sábado (som para online) - MP3-Mono