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Mostras de cinema em Porto Alegre celebram 190 anos da imigração alemã

Marco Sanchez1 de agosto de 2014

"Histórias da imigração" apresenta herança cultural alemã através do olhar de cineastas brasileiros, e retrospectiva destaca obra de Helmut Käutner, diretor popular nas décadas de 40 e 50 e pouco conhecido no Brasil.

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Clássico "Os Mucker", de 1978, faz parte da mostra na capital gaúchaFoto: Divulgação/Presse

Para comemorar os 190 anos da chegada dos alemães ao Rio Grande do Sul, a Secretaria da Cultura de Porto Alegre e o Instituto Goethe organizam duas mostras de cinema, que celebram a cultura alemã e seu legado no país.

A Retrospectiva Helmut Käutner apresenta na capital gaúcha a obra do controverso cineasta alemão, popular nas décadas de 1940 e 1950. Já a mostra Histórias da imigração reúne filmes brasileiros que abordam temas relacionados à presença alemã no Brasil.

"O cinema é um meio muito eficaz de difusão cultural, com enorme apelo de público, e portanto se presta a ilustrar a complexidade de um processo de imigração, que envolve distintos aspectos históricos, culturais e econômicos", diz o curador das mostras, Marcus Mello, em entrevista à DW Brasil.

"A intenção era exibir filmes que falam diretamente sobre o tema da imigração e também apresentar ao público brasileiro um cineasta de destaque do período clássico do cinema alemão, no caso Helmut Käutner, cuja obra é pouco divulgada no Brasil", completa Mello.

Filmreihe 190 Jahre deutsche Einwanderung
Filmes do diretor Helmut Käutner apresentam retrato realista da Alemanha no pós-GuerraFoto: Divulgação/Presse

Clássicos nacionais

O grande destaque da mostra Histórias da imigração é a exibição do clássico Os Mucker (1978), de Jorge Bodanzky e Wolf Gauer. Um marco no cinema brasileiro, não exibido ao grande público há décadas, o filme recria os dramáticos acontecimentos da revolta na localidade de Ferrabraz, no século 19, quando um movimento de caráter religioso, formado por imigrantes alemães e liderado por uma mulher, Jacobina Mentz Maurer, foi combatido por tropas do Exército Imperial.

"O filme ajudou a recuperar um episódio marcante da história do Rio Grande do Sul, durante anos renegado pela historiografia oficial. Além de ter sido a primeira coprodução entre o Brasil e a Alemanha, Os Mucker teve grande repercussão em seu lançamento no Festival de Gramado, conquistando prêmios como melhor direção e melhor atriz, para Marlise Saueressig. Apesar disso, sua circulação no Brasil é bastante restrita. Até hoje não foi lançado em DVD", comenta o curador.

Outros filmes importantes também fazem parte da mostra. Aleluia Gretchen (1976), de Sylvio Back, retrata uma família que foge da Alemanha nazista e desembarca no Brasil em 1937. Eles adquirem um hotel, que se torna ponto de simpatizantes do nazismo, enquanto enfrentam problemas de adaptação no país. Cinema, aspirinas e urubus (2005), de Marcelo Gomes, é um road movie que acompanha um alemão que, para fugir da guerra, vai trabalhar como vendedor de aspirinas no Nordeste.

"Procuramos selecionar obras significativas sobre o tema, realizadas predominantemente no Rio Grande do Sul, e que chamassem a atenção para o rico repertório de histórias em torno da imigração alemã no sul do Brasil. Para isso, procuramos eleger tanto obras documentais quanto ficcionais, realizadas entre o começo dos anos 1970, quando se comemorou os 150 anos da imigração alemã no Brasil, até os dias de hoje", explica Mello.

A rara exibição do longa em 16mm Heimweh/Nostalgia e uma seleção de curtas-metragens também fazem parte do programa.

Trajetória controversa

A segunda mostra é dedicada ao cineasta Helmut Käutner (1908-1980), um dos mais populares diretores do cinema alemão nas décadas de 1940 e 1950. Käutner tem uma trajetória controversa, pois dirigiu alguns de seus filmes mais conhecidos em plena Segunda Guerra Mundial.

Filmreihe 190 Jahre deutsche Einwanderung
"O general do diabo" está na mostraFoto: Divulgação/Presse

"Käutner é um diretor pouco conhecido do cinema alemão, particularmente entre os espectadores brasileiros. Pelo fato de ter permanecido na Alemanha durante a Segunda Guerra Mundial, produzindo filmes sob o regime nazista, acabou ficando estigmatizado em alguns círculos. No entanto, sua obra sobreviveu, e ele seguiu filmando após a derrocada nazista", diz Mello.

Durante a guerra, Käutner evitou conteúdo político em seus filmes. Mesmo sem abandonar a Alemanha nazista, o diretor pode continuar sua carreira após 1945 graças à qualidade e ao caráter humanista de seus filmes. Hoje, eles são aclamados por sua consciência social e como um retrato realista da Alemanha no pós-Guerra, mostrando o homem comum lutando contra os traumáticos efeitos do conflito.

"Os filmes incluídos na mostra estão entre os pontos altos da carreira de Käutner, em diferentes fases, como Adeus, Franziska! (1941), Por baixo das pontes (1946), O general do diabo (1955) e O coronel de Köpenick (1956). São filmes que revelam um autor que se destaca pelo domínio da linguagem cinematográfica, ainda hoje com grande capacidade de comunicação com o público espectador", opina o curador.

Mello acredita num futuro produtivo e comum entre o cinema alemão e brasileiro, especialmente por acordos de coprodução que estão sendo anunciados. Ele cita Praia do Futuro, de Karim Aïnouz, que concorreu ao Urso de Ouro no último Festival de Berlim, como um exemplo bem-sucedido nesse sentido, tendo sido financiado através de recursos de ambos os países. Em junho último, o Instituto Goethe de Porto Alegre promoveu um encontro de coprodução entre os dois países, reunindo profissionais alemães e brasileiros experientes na área, com resultados muito promissores.

A mostra Histórias da imigração prossegue até 3 de agosto, e a Retrospectiva Helmut Käutner vai de 5 a 10 de agosto, ambas na sala P. F. Gastal, na Usina do Gasômetro, em Porto Alegre.

Filmreihe 190 Jahre deutsche Einwanderung
"Cinema, aspirinas e urubus" é um road movie que acompanha um alemão em fuga da guerraFoto: Divulgação/Presse