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Mostra em Wuppertal expõe Primeira Guerra como espaço inóspito à arte

Sabine Oelze (ca)14 de abril de 2014

"Matadouro humano" é o nome de uma exposição em Wuppertal que mostra como artistas franceses e alemães sofreram na Primeira Guerra Mundial. Esse sofrimento, no entanto, pouco levou à produção artística.

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Ausstellung Menschenschlachthaus Gert Heinrich Wollheim
Gert Heinrich Wollheim: 'O ferido', de 1919Foto: 2014 Nachlass Gert Wollheim

Apenas seis semanas após a Alemanha ter declarado guerra à França, em 3 de agosto de 1914, os alemães impuseram aos franceses um primeiro trauma nacional. As tropas dispararam 25 granadas contra a célebre Catedral de Nossa Senhora de Reims – uma das igrejas mais importantes da França.

Até hoje, os historiadores discutem se o ataque ocorreu por pura sede de destruição ou por desejo de vingança – ou se os alemães suspeitavam que a torre estivesse ocupada por soldados franceses. A partir de então, nos olhos dos vizinhos, os alemães não passaram a ser mais vistos como um povo civilizado, mas como bárbaros.

É simbólico o fato de a exposição Menschenschlachthaus ("Matadouro humano") no Museu Von der Heydt em Wuppertal ter sido concebida em estreita colaboração com o Museu de Belas-Artes de Reims. De forma sistemática, a mostra explora os pontos de vista francês e alemão da Primeira Guerra Mundial.

Por meio da arte, Gerhard Finck, diretor do museu de Wuppertal, disse querer mostrar "principalmente aos alemães, cujas lembranças da Segunda Guerra ofuscaram seus conhecimentos sobre a Primeira Guerra Mundial, o que aconteceu entre 1914 e 1918".

Trauma nacional: a destruição da Catedral de Reims

Uma sala inteira da mostra é dedicada às ruínas de Reims. Paul-Hubert Lepage, aluno do pintor simbolista Gustave Moreau, tentou representar a tragédia de maneira impressionista em 1920. Ele inspirou-se no impressionista francês Claude Manet para pintar a imponente construção: à noite, durante o dia, ao nascer do Sol, coberta pela neve. A força da destruição, no entanto, desaparece no jogo de cores.

Ausstellung Menschenschlachthaus Gustave Fraipont,
Trauma nacional: a Catedral de Reims em chamas, lembrada aqui por Gustave FraipontFoto: Musée des Beaux-Arts Reims

O título da exposição Matadouro humano alude a um romance homônimo de 1912. O autor foi um professor de escola primária de Hamburgo: Wilhelm Lamszus. Naquela época, ele foi um dos poucos que não mediu palavras ao profetizar os horrores da guerra. "A maquinaria de guerra evoluiu para um nível genial, um nível artístico. Duzentos e quarenta balas e mais num minuto!" Na ocasião, ninguém lhe deu ouvidos. Pelo contrário: ele foi perseguido por seus escritos.

Banalização do horror

Também os artistas plásticos não quiseram saber da possível dimensão de uma iminente guerra. Para os representantes da vanguarda, uma guerra moderna parecia não ser de interesse, até que ela se iniciasse em 1914. As pinturas de Vassily Kandinsky, Franz Marc, August Macke ou Felix Valloton estão bem longe de ser um mau presságio do horror iminente. Apenas Max Slevogt mostrou um pouco de preocupação, como demonstra a sua série sobre a Guerra de Troia, que ele executou talvez em reação à crise nos Bálcãs ou no Marrocos.

Devido à notável clarividência de Lamszus e, naturalmente, à dramaticidade do título, a exposição cita esse pequeno romance. No mesmo ano, autores como Friedrich von Bernhardi escreveram sobre o "dever" dos alemães de empreender uma guerra. Por quê? A escultura O vingador, de Ernst Barlach, parece conhecer a resposta para essa pergunta.

Às vésperas da Primeira Guerra Mundial, os alemães se viam em desvantagem e queriam aproveitar a oportunidade para ampliar suas fronteiras. Também os franceses estavam dispostos a tudo. Eles não haviam esquecido a humilhação da fundação do Império Alemão em 1871, em Versalhes.

Ausstellung Menschenschlachthaus Otto Dix AUSSCHNITT
'Tropa de ataque avança sob gás', de Otto Dix, é uma das poucas obras a mostrar os horrores da guerraFoto: VG Bild-Kunst, Bonn 2014

O alemão como batata

O caricaturista Gustave Wendt denegriu os alemães como As batatas, também chamadas de salsichas ou o Nabo do imperador. Quando estavam, finalmente, no meio da guerra, tanto os artistas alemães quanto franceses tendiam a glorificar a inesperada dureza do combate. Pinturas em grande formato são raridade, na maioria das vezes, surgiam desenhos a pena ou a lápis diretamente do campo de batalha.

Era o único material que tinham ainda disponível. Wilhelm Morgner, ele próprio um combatente na linha de frente, desenhou os soldados alemães com uma superioridade agressiva, direcionando os canos de suas armas para um inimigo invisível.

Feridos física ou psicologicamente, muitos artistas foram dispensados da guerra, como Jean-Louis Forain. Após ter perdido o braço direito, seu autorretrato não esconde o seu semblante impotente. Após um ataque de nervos, o pintor Max Beckmann foi transferido para o serviço hospitalar. Em autorretrato de 1915, em que aparece como enfermeiro, ele olha intrigantemente para o espectador. Em carta endereçada à esposa, em 21 de maio de 1915, Beckmann escreveu: "Os nossos tiros uivam a torto e a direito. (…) Eu gostaria que a guerra terminasse e que eu pudesse pintar."

"A pintura está fadada a fracassar diante do cenário de terror"

Uma coisa é mostrada pela exposição de forma muito impressionante. Quanto à representação dos combates, as artes plásticas perdem para outros meios visuais, como a fotografia ou o cinema. Frente a cenas de filmes históricos de veteranos desfigurados ou cenários de escombros, a pintura fica para trás. "Acredito que, embora os artistas tenham se esforçado, eles não conseguiram capturar todos os horrores na tela", disse o curador da exposição Gerhard Finck.

Ausstellung Menschenschlachthaus Heinrich Hoerle
Heinrich Hoerle: 'Monumento das próteses desconhecidas'Foto: Von der Heydt-Museum Wuppertal

Uma das poucas exceções: o portfólio de gravuras de Otto Dix. Esse trabalho surgiu no Ano Internacional Antiguerra em 1924 e pode ser comparado em sua dramaticidade com os Desastres de La Guerra, de Goya – uma série de gravuras em que o artista espanhol representa as atrocidades da ocupação napoleônica. Dix mostra tudo o que viu como soldado com os próprios olhos: perfurações de granadas, mortos após ataques com gás, estupros, mulheres que perderam seus filhos, soldados enlouquecidos, rostos desfigurados. "Fiz uma verdadeira reportagem para representar o país devastado, os sofrimentos, as feridas", registrou Dix.

O período após a Primeira Guerra Mundial foi processado de forma diferente pelos dois países. O governo francês apoiou os seus soldados mutilados – inclusive financeiramente. Também com os pagamentos de reparações de guerra pelos alemães. Em contrapartida, muitas vezes, nada mais restava aos soldados alemães a não ser pedir esmolas nas ruas. Heinrich Hoerle mostrou as mutilações em sua pintura Monumento das próteses desconhecidas.

Após Wuppertal, a exposição será apresentada em Reims, onde será aberta oficialmente pela chefe alemã de governo, Angela Merkel, e pelo presidente francês, François Hollande. Reims não é somente o lugar cuja catedral foi destruída pelos alemães em 1914, mas também onde o ex-chanceler federal Konrad Adenauer e o então presidente francês Charles de Gaulle selaram a amizade franco-alemã em 1962.