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Moldávia pode ser próximo barril de pólvora da Europa

Vitalie Calugareanu / Robert Schartz (av)5 de março de 2015

Após avanço russo na Ucrânia, ex-república soviética parece estar na mira de Moscou, no cabo de guerra com o Ocidente pela supremacia no Leste Europeu. Corrupção e governo frágil aumentam risco de crise.

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Foto: DW/A. Scherle

A mais recente advertência da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) sobre um possível alastramento da ofensiva da Rússia até a Moldávia desencadeou apreensão na antiga república soviética – e palavras tranquilizadoras, mas questionáveis, por parte da defesa nacional.

No fim de fevereiro, o comandante supremo da Otan na Europa, general Philip M. Breedlove, declarou ao Congresso em Washington que as tropas russas estacionadas na região separatista da Transnístria teriam a finalidade de "evitar uma aproximação da República da Moldávia ao Ocidente".

Segundo Breedlove, a operação seria acompanhada por uma ampla campanha de informação que, através de seus meios de comunicação, Moscou realiza no país vizinho.

A chanceler federal alemã, Angela Merkel, também reagiu com apreensão aos desdobramentos na região. Após conversa em Berlim com o presidente da Romênia, Klaus Iohannis, ela disse que torcia para que a situação da Ucrânia não se repetisse na Moldávia.

Merkel disse que não se deve esquecer o conflito estagnado na Transnístria, nem o fato de que fracassaram todas as tentativas internacionais de solucionar esse conflito.

Aproximação à UE em risco

Na Transnístria estão estacionados 2 mil soldados russos, embora já em 1999 o Kremlin tivesse se comprometido a retirar do território seu pessoal militar e arsenais armamentistas. Após uma guerra sangrenta no início da década de 1990, a região separatista se desligou da Moldávia, declarando-se independente. Seu governo pró-Moscou tem esperanças de uma anexação à Federação Russa.

Até agora, o novo governo moldávio não teve praticamente nenhuma reação aos sinais de alarme. O país está sacudido por uma crise política com o potencial de colocar em perigo uma aproximação mais forte à União Europeia. Há apenas dois meses no cargo, o primeiro-ministro Chiril Gaburici vem tentando convencer Bruxelas de que a república pretende manter o curso pró-europeu – o que observadores mais críticos colocam em dúvida.

Depois de vencer as eleições legislativas em novembro último, a aliança tripartidária pró-UE não conseguiu constituir um governo. Após muitos esforços, dois dos partidos formadores, o Liberal Democrático e o Democrático, conseguiram formar um governo de minoria, dependente do apoio da oposição comunista. Agora, os pró-europeus da República da Moldávia temem que o país vá se aproximar cada vez mais de Moscou.

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"Quinta coluna" de Moscou também estaria no parlamento moldávio, dizem observadoresFoto: picture-alliance/epa/D. Doru

Sem resistência diante de Moscou

O cientista político moldávio Oazu Nantoi detecta uma série de perigos para seu país. Um deles seria "a assim chamada quinta coluna da Rússia" no Parlamento em Quichinau. Não se trata apenas do Partido Socialista, que jamais negou sua orientação pró-Moscou, mas também deputados de outras legendas contrários a uma orientação pró-europeia.

Nantoi igualmente alerta sobre a influência do Kremlin sobre as iminentes eleições na região moldávia de Gagaúzia. Também lá separatistas pró-Moscou ameaçam com uma anexação à Federação Russa. O especialista confirma a existência de uma campanha de informação do Kremlin, como denunciou o general Breedlove, da Otan. Canais de TV russos dominam o mercado de mídia da Moldávia.

Contudo o maior perigo ainda parte da corrupção em massa e de um governo fraco. Um Estado incapaz de garantir o direito, a ordem e a estabilidade política, enquanto a guerra ameaça suas fronteiras, "não estará em condições de se opor à agressiva política expansionista da Federação Russa", declarou Oazu Nantoi à DW.

Neutralidade obsoleta

O ex-embaixador moldávio em Moscou Anatol Taranu crê que a Moldávia deva contar com novas provocações por parte da Rússia: "Quando políticos europeus e americanos chamam a atenção para possíveis ameaças, esse é um claro sinal de que a situação está se agravando."

Segundo ele, os dirigentes moldávios deveriam elevar os padrões de segurança para neutralizar eventuais operações militares. Taranu só vê uma relativa segurança para seu país no aprofundamento das relações com a UE e a Otan, porém está cético de que o novo governo realmente esteja perseguindo tal meta.

Ele considera superada a noção de neutralidade nacional prevista pela Constituição moldávia. Enquanto tropas russas estiverem em seu território, sem que haja um resolução do governo ou do Parlamento nesse sentido, não se pode falar em neutralidade, aponta o diplomata.

Moldau Proteste in Chisinau
Protestos em Quichinau contra novo governo minoritárioFoto: DW/V. Calugareanu

Ministro nega risco russo

O novo ministro moldávio da Defesa, Viorel Cibotaru, entretanto, afirmou em entrevista a um jornal não ver risco concreto de um alastramento do conflito na Ucrânia. Todas as estruturas de defesa nacional, assegurou, estão em permanente estado de alarme, prontas a reagir imediatamente a possíveis ameaças.

Segundo o mais recente relatório do Instituto Internacional de Estudos Estratégicos (IISS), sediado em Londres, o Exército moldávio dispõe de 5.300 soldados ativos. No caso de um conflito militar, podem ser convocados 700 mil cidadãos. Seus sistemas armamentistas provêm, em grande parte, da época soviética.

Em 2014, o orçamento nacional de defesa perfazia o equivalente a 20 milhões de euros, ou 0,3% do PIB da República da Moldávia, portanto o mesmo de que dispõe a Academia Nacional de Ciências.