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Moeda será desafio caso Escócia opte pela independência

Nicole Goebel / Clarissa Neher 8 de setembro de 2014

Libra, euro ou moeda própria? Se optar mesmo pela independência, Escócia terá um problema monetário urgente para resolver.

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Foto: Getty Images/J. J Mitchell

Caso a população escocesa opte pela independência do Reino Unido, no referendo marcado para o dia 18 de setembro, a Escócia terá que lidar com duas questões importantes: a readmissão na União Europeia (UE) e a reestruturação da constituição financeira do país. Se saírem vitoriosos, os nacionalistas escoceses podem ter que adicionar aos planos de construção de um novo país a criação de um banco central e de uma nova moeda.

O plano principal do Partido Nacional Escocês (SNP), do qual faz parte o primeiro-ministro da Escócia, Alex Salmond, prevê que o país continue usando a libra esterlina e dividindo o Banco da Inglaterra com o resto do Reino Unido.

Mas os três maiores partidos políticos britânicos já declararam que não estão blefando ao afirmar que são contra essa união monetária. Assim, a questão sobre qual moeda a Escócia independente adotaria continua sendo o maior ponto de discórdia antes do referendo.

Se os líderes britânicos não mudarem de ideia e aceitarem a união monetária, restará à Escócia as opções de adotar unilateralmente a libra esterlina, tentar ingressar na zona do euro ou criar uma moeda e um banco central próprios.

Manter a libra esterlina

Apesar de a campanha contrária à separação insistir que, com a independência, a Escócia seria proibida de continuar usando a libra esterlina, o país poderia simplesmente prosseguir utilizando a moeda de maneira informal.

Schottland Banknoten
País já imprime suas libras esterlinasFoto: Andy Buchanan/AFP/Getty Images

Mas essa alternativa deixaria a Escócia sem a capacidade de imprimir sua própria moeda e assim fornecer liquidez para seus bancos em tempos de crise. A opção precisa ser avaliada com cuidado, pois o segundo maior setor do país, depois do petróleo e gás, são os serviços financeiros.

O Panamá, por exemplo, adotou o dólar americano, o que é chamado de dolarização da economia, e em Hong Kong a moeda é indexada ao dólar, o que é muito similar.

Mas, diferentemente da Escócia, Hong Kong possui grandes reservas em moeda estrangeira para atenuar um possível golpe em seus bancos em tempos difíceis.

"A adoção da libra esterlina é o arranjo provisório mais provável e, portanto, o melhor resultado", diz Ewen Cameron Watt, do Instituto de Investimentos BlackRock.

Na zona do euro

Outra opção para a Escócia seria tentar ingressar na zona do euro. Mas essa alternativa já foi descartada por Salmond. O primeiro-ministro afirmou que, apesar de a Escócia estar ansiosa para fazer parte da União Europeia, não tem interesse na moeda comum.

"Você não pode ser forçado, obrigatoriamente, a entrar na zona do euro. É uma coisa voluntária. Como a Inglaterra é nosso maior mercado, devemos ficar com a libra", declarou Salmond no fim de agosto na Bélgica.

A adesão à UE, entretanto, está atrelada ao euro. Bruxelas determina que todos os países-membros se inscrevam para a adesão à moeda comum em algum momento. Os candidatos precisam indexar sua moeda ao euro por um certo período antes de introduzir formalmente a mudança.

A UE também exige uma boa gestão fiscal dos países candidatos, que devem manter sua dívida igual ou inferior a 60% do seu Produto Interno Bruto (PIB).

Antes de pensar no euro, a Escócia precisaria primeiramente ingressar no bloco econômico. "Se uma parte de um território de um país-membro deixar de fazer parte deste Estado para se tornar independente, os tratados [da UE] não se aplicam mais a esse território", declarou o presidente da Comissão Europeia, José Manuel Barroso.

Entretanto, Barroso completou que qualquer país europeu que preencher os critérios pode se inscrever para fazer parte da União Europeia.

Moeda própria

A alternativa que restaria à Escócia é a adoção de uma moeda própria. Como o país já imprime suas próprias libras esterlinas, já superou um dos obstáculos para ter sua própria moeda, considerada por alguns especialistas a melhor opção.

"Perante a elevada dívida pública, com a qual Escócia iniciaria sua vida independente – nossa previsão é de uma dívida de 86% em relação ao PIB – uma união monetária seria uma camisa de força em termos de opções políticas para o país", afirmou Monique Ebell, pesquisadora do Instituto Nacional de Pesquisas Econômicas e Sociais do Reino Unido.

Se não tiver sua própria política monetária ou a capacidade de desvalorizar a moeda, por exemplo, a Escócia pode vir a ter problemas para compensar um possível deficit futuro no seu orçamento, afirma Ebell, e acrescenta que essas restrições se aplicam ao uso formal ou informal da libra e ao euro.