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Milhares de ucranianos exigem renúncia do presidente

Christian Ignatzi (av)1 de dezembro de 2013

Ao ceder à pressão de Moscou e rejeitar acordo de associação com a UE, Yanukovytch incorreu na ira de grande parte da população. Ação violenta da polícia de Kiev e dissidências no partido do presidente acirram situação.

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Foto: DW

Exigindo a renúncia do presidente Viktor Yanukovytch, manifestantes ocuparam a prefeitura da capital da Ucrânia, Kiev, neste domingo (1°/12). Segundo os meios de comunicação contrários ao governo, os protestos reuniram cerca de 700 mil pessoas. Desde a manhã, grupos de jovens vagavam pelas ruas portando cassetetes.

Após as investidas da polícia, na madrugada da véspera, os estudantes em protesto se armaram por precaução, a fim de se defender, caso necessário. Manifestações na metrópole contra o governo vêm ocorrendo desde a sexta-feira. Na conferência de cúpula da Parceria Oriental em Vilnius, Lituânia, encerrada naquele mesmo dia, Yanukovytch havia sustado a firmação do acordo de associação entre seu país e a União Europeia (UE).

Sob pressão de Moscou, ele anteriormente anunciara que não pretendia assinar o acordo de livre comércio já negociado com a UE. A Rússia quer que a Ucrânia ingresse para a união aduaneira que criou, e da qual também fazem parte o Cazaquistão e Belarus. O Kremlin não vê com bons olhos uma abertura das fronteiras ucranianas para os produtos europeus.

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Manifestantes reagem à violência policial em KievFoto: Reuters

Polícia testa limites

"O potencial de agressão existe dos dois lados", afirma o cientista político alemão Andreas Umland, que leciona na Universidade de Kiev, diante da qual, neste domingo, milhares exigiam a renúncia de Yanukovytch, apesar da proibição de reuniões imposta pela polícia. Sobretudo por parte dos manifestantes, o tom violento vem se acirrando desde que se noticiou que uma mulher, ferida durante a ação policial do sábado, haveria morrido no hospital.

Ainda assim, é difícil justificar a violência dos agentes da lei. Às 4h, quando eles começaram sua investida, só havia uns poucos manifestantes nas ruas. Supostamente a operação veio em reação à conduta dos estudantes – uma versão em que ninguém acredita.

Segundo Umland, a intenção da polícia era, antes, testar até onde pode ir. "A operação foi um balão de testes", comenta. Segundo conhecedores do país, na Ucrânia a violência policial é pouco usual – e este é mais um motivo por que a população se ergue contra Yanukovytch.

Oposição se une

A decisão de fazer fracassar o acordo poderá custar ao chefe de Estado o seu cargo, crê o politólogo Umland. "Se continuar assim, vai haver uma mudança de poder", e aí a oposição poderá formar um governo interino.

Após a brutal ação estatal do sábado, os três principais partidos oposicionistas – o Batkivchyna, o Udar e o Svoboda – uniram-se num Grupo de Ação da Resistência Nacional. Em entrevista à DW, Kyryl Savin, diretor da Fundação Heinrich Böll em Kiev, explicou as relações de poder entre as facções. "O verdadeiro líder oposicionista é Arseniy Yatsenyuk, do Batkivchyna, embora nas pesquisas de opinião ele se encontre atrás do Udar."

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Kyryl Savin dirige Fundação Heinrich Böll na capital ucranianaFoto: privat

O presidente deste partido, o pugilista Vitali Klitschko, não é suficientemente presente. "Não faz muito tempo, ele teve que viajar de Kiev, devido a um compromisso importante em Hamburgo." Apesar disso, Umland acredita que Klitschko possa vir a ser presidente. Ao mesmo tempo o polítologo vê na atual aliança partidária um fortalecimento da oposição. "Afinal de contas, desde 2012 eles trabalham juntos."

Caos na Ucrânia

Dentro do governo, o presidente Yanukovytch parece estar perdendo cada vez mais terreno. Depois que ele assegurou nada ter a ver com o ataque da polícia contra os manifestantes, muitos deputados abandonaram o seu Partido das Regiões, obviamente por não acreditar no político.

Entre esses dissidentes, consta que também estaria o chefe do gabinete presidencial, porém "as notícias se atropelam, no momento não se sabe de nada com exatidão", disse Umland à DW, descrevendo as circunstâncias caóticas na Ucrânia. "O governo parece estar entrando em pânico."

Seguro está que o comissário-chefe de polícia de Kiev renunciou, depois de ter assumido a responsabilidade pela operação brutal contra os estudantes, mas "o presidente só o está colocando na frente para desviar a atenção de si", afirma o cientista político.

No entanto, há indícios de que é tarde demais para tal manobra. A alegação de Yanukovytch de que nada teria a ver com a ação policial tem causado perplexidade. "Na Ucrânia, não há um aparato policial autônomo, como na América do Sul", diz Umland, em cuja opinião a iniciativa teria mesmo partido do chefe de Estado.

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Não há previsão para fim dos protestosFoto: DW

Kiev na mira da UE

A União Europeia também exige satisfações. "Nós condenamos severamente o procedimento da polícia em Kiev, ao empregar violência contra manifestantes pacíficos", declarou a chefe da diplomacia europeia, Catherine Ashton, em relação à violência policial contra os protestos do último sábado.

Os jovens ucranianos prosseguem com seus protestos. Umland não exclui a possibilidade de novos atos de violência, e apela à UE para que intervenha. "Ela precisa fazer entender à Rússia que a pressão que esta exerce sobre a Ucrânia não é admissível." O docente da Universidade de Kiev antecipa que a paz só retornará às ruas da capital quando a Ucrânia tiver assinado o acordo com a UE.

O restabelecimento da normalidade é tão mais importante pelo fato de a Ucrânia ocupar, no momento, a presidência da Organização para a Segurança e Cooperação na Europa (OSCE). Está programada para os dias 5 e 6 de dezembro, em Kiev, a conferência de ministros da organização. "Por isso, exigimos que a Ucrânia honre os compromissos internacionais de respeitar a liberdade de opinião e de reunião", reforçou Ashton.