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Merkel: "Compartilhamos os mesmos valores no G7"

Dagmar Engel (rpr)5 de junho de 2015

Em entrevista exclusiva à DW, chanceler federal Angela Merkel destaca importância russa em outros fóruns e na resolução de conflitos. Mas deixa claro que Moscou não se encaixa mais no grupo das sete potências.

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Angela Merkel durante entrevista à repórter Dagmar Engel
Foto: DW/C. Strack

A atenção dada à cúpula do G7, que vai deste domingo (07/06) à segunda-feira, é alta. Mas a anfitriã trata de aplacar as expectativas, apesar de temas como a crise na Grécia, o conflito na Ucrânia e a guerra na Síria estarem pairando sobre o palácio bávaro de Elmau, sede do encontro: "Nenhum problema poder ser resolvido em apenas 24 horas", disse a chanceler federal alemã, Angela Merkel, em entrevista exclusiva à DW.

Para ela, o mais importante é que os líderes das sete potências abordem os temas importantes e exponham seus pontos de vista, pois "são Estados que compartilham os mesmos valores". Sobre a Rússia, desta vez ausente do encontro, Merkel disse ser ainda um parceiro importante, mas em outros fóruns, não no G7: "A Rússia não avançou nos últimos anos na adoção de várias das ideias que compartilhamos no grupo."

Deutsche Welle: Nos próximos dias, o mundo olhará com atenção e expectativa para a Alemanha, que recebe a cúpula do G7. A agenda do encontro parece algo como "salvando o mundo em 24 horas". Que êxito significativo pode ser alcançado?

Angela Merkel: Para mim, o mais importante é que os sete chefes de governo e de Estado abordem os temas importantes. Esse intercâmbio é muito importante para saber, ao longo do ano, o que se pensa sobre assuntos básicos, onde estão as diferenças e onde estão os interesses comuns. Mas, também pode-se dizer, mais concretamente, que eu gostaria de obter respostas mais coerentes, em particular para a questão sobre como vamos reagir no futuro a epidemias e pandemias. E quem sabe achar um caminho para, no futuro, agir melhor.

Quando o ebola eclodiu, a comunidade internacional não reagiu bem: de forma tardia demais e sem a cooperação suficiente. Isso não pode acontecer de novo. E eu acredito que a presença de chefes de governo africanos, como a presidente da Libéria, nos lembrará novamente da importância do tema saúde. Saúde também é importante em outros temas, como a resistência a antibióticos, em que estaremos preparando planos nacionais, trabalhando junto com a Organização Mundial da Saúde (OMS). Nesse tema eu espero algum progresso, apesar de nenhum problema, especialmente grande como esse, poder ser resolvido em apenas 24 horas.

O G7 ainda é um formato atual? O grupo não representa mais de fato as maiores potências econômicas do mundo, quando considera, por exemplo, Itália, França e Canadá...

São Estados democráticos, que compartilham os mesmos valores. E são Estados que ainda são muito importantes economicamente. Porém precisamos como complemento do formato do G20, que inclui países com diferentes ordens sociais, mas as grandes potências econômicas estão realmente reunidas ali. O G7 tem um intercâmbio mais livre e intenso, determinado por sistemas estatais democráticos.

Se é dada tanta importância ao compartilhamento de valores, seria então toda essa discussão sobre a inclusão da Rússia algo obsoleto? Deixando de lado a crise na Ucrânia, a senhora acredita que a Rússia compartilha os mesmos valores dos demais?

É verdade que a Rússia não avançou nos últimos anos na adoção de várias das ideias que compartilhamos no G7. Quando a Rússia foi aceita no grupo, esperava-se que talvez houvesse maiores interesses comuns – particularmente na questão de defesa, quando penso na parceria Otan-Rússia, por exemplo. Mas a Rússia continua um parceiro importante em outros formatos de discussão. Nós temos o Formato Normandia para a resolução da crise na Ucrânia, temos as conversas do P5+1 sobre o programa nuclear iraniano, e a Rússia será – e precisa ser – também incluída nos esforços para resolver a guerra civil na Síria. Eu preciso lembrar que foi apenas com a ajuda da Rússia que as armas químicas foram removidas da Síria. Então nós também discutiremos como a Rússia pode ser incluída.

O G7 começou como um fórum econômico global. Temas econômicos estão novamente em destaque: livre-comércio, crescimento, sobretudo como crescer de forma sustentável. E agora há a crise na Grécia. A senhora acredita que este tema possa estar ofuscando outros problemas econômicos?

Não, não acredito. Nós falaremos, é claro, sobre a situação na zona do euro em conexão com a situação econômica global. E certamente haverá discussões sobre que problemas nós resolvemos. Poderemos destacar que a Irlanda, que também teve um programa [de austeridade], é atualmente o país com maior crescimento econômico, e que a economia também está crescendo em Portugal e Espanha. E então se falará também da Grécia. Mas isso não é, de fato, um assunto central. Nós simplesmente informaremos em que estágio estamos e expressaremos nossa esperança de que as negociações [entre Atenas e credores] possam ser concluídas com sucesso.

A última vez que houve uma cúpula do G7 na Alemanha foi há oito anos – então era ainda G8. Nesse meio tempo houve a crise do euro. A reunião foi antes da "Primavera Árabe", da guerra na Síria e da crise na Ucrânia. Olhando para esta cúpula agora: como mudou o papel da Alemanha neste mundo dramaticamente mudado?

É preciso dizer que, nesse período, houve uma grande crise econômica e financeira que, é claro, mudou muita coisa. A situação econômica global hoje é marcada por uma política de manter os juros muito, muito baixos. Isso certamente afetou de alguma forma o crescimento, mas também estaremos diante da tarefa de como retornar ao normal. Hoje nós temos uma regulação melhor dos bancos.

E sobre a sua pergunta sobre o papel da Alemanha, posso lembrar que já em Heiligendamm [sede da cúpula de 2007 do G8] tivemos temas como mudança climática, por exemplo, no qual ainda estamos trabalhando hoje. E há certa continuidade nos temas que abordamos na cúpula do G7, então G8. O tema de proteção climática sempre foi importante para a Alemanha, e ainda é, levando em conta a conferência de Paris em dezembro. E novos temas surgiram também, como o da saúde, que não teve grande destaque naquele ano. Estou feliz que a Alemanha possa ser anfitriã novamente, mas estamos todos unidos como uma comunidade – e todos têm seus assuntos prioritários.

Senhora chanceler, obrigada pela entrevista.