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Cidadão moçambicano assassinado na África do Sul

Milton Maluqueque (Joanesburgo)20 de abril de 2015

Emmanuel Sithole foi esfaqueado até à morte no bairro de Alexandra, nos arredores de Joanesburgo no último fim-de-semana. A morte do moçambicano foi documentada em vídeo e fotos que circulam nas redes sociais.

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Südafrika - Gewalt gegen Einwanderer
Foto: REUTERS/James Oatway/Sunday Times

Sithole, um vendedor de rua, foi interpelado nas primeiras horas de sábado (18.04) por quatro homens que lhe arrancaram os seus bens. Ao confrontá-los, os atacantes esfaquearam-no. O cidadão moçambicano não resistiu aos ferimentos e acabou por morrer num posto de saúde de Alexandra.

As autoridades estão a investigar o caso e a polícia já deteve três homens acusados de envolvimento no assassinato, continuando a busca de um quarto suspeito que está a monte. As forças policiais ainda não sabiam ainda ao certo se este foi um assalto ou um ataque motivado por idéias xenófobas. Porém, esta zona dos arredores de Joanesburgo foi o epicentro da onda de ataques xenófobos de 2008, em que morreram 60 pessoas.

Fernando Fazenda, Alto Comissário de Moçambique na África do Sul, diz que a reação é de choque. "O único sentimento é que, pelo menos em relação a este cidadão, a justiça será feita."

O Presidente moçambicano, Filipe Nyusi, pediu hoje às autoridades sul-africanas para intervirem nos ataques. "Apelamos ao Governo da África do Sul para desencadear uma intervenção presencial e imediata e apelamos aos nossos compatriotas para não retaliarem."

Em Joanesburgo, já se nota uma maior presença policial nas ruas, sobretudo durante a noite. Os ataques xenófobos começaram na cidade costeira de Durban mas também já se alastraram à capital econômica da África do Sul, onde se verificaram ataques esporádicos nos últimos dias.

"Não saiam do país"

Durante uma visita a um dos campos improvisados onde se refugiaram milhares de imigrantes esta seguna-feira (20.04), o Presidente da África do Sul, Jacob Zuma, apelou aos estrangeiros para que fiquem no país. "O Governo não está a dizer para saírem do país. Não são todos os sul-africanos que estão a dizer para saírem da África do Sul. É um número muito pequeno de cidadãos que está a dizer isso", afirmou o líder sul-africano. A Universidade de Joanesburgo organizou também esta segunda-feira uma marcha contra a xenofobia.

Mosambik Maputo Protest gegen Fremdenfeindlichkeit
Há centenas de moçambicanos a regressar ao país, passando pelo centro de trânsito em BoaneFoto: DW/L. Casimiro Matias

Mas estudantes moçambicanos ouvidos pela DW África dizem estar chocados com os acontecimentos. Um deles descreve a situação como complicada: "Há um sentimento de pesar, não só por ser moçambicano mas por ser também uma vida humana. Quando olhamos para as estatísticas criminais na África do Sul (este tipo de situação) é uma constante."

Outra aluna diz que os ataques xenófobos "são revoltantes," acrescentando que "parece que os ataques se tornaram uma prática habitual quando os cidadãos sul-africanos estão insatisfeitos."

Também o rei zulu Goodwill Zwelithini denunciou a violência contra estrangeiros, rejeitando a acusação que teria sido o seu discurso no final do mês passado a causa da onda violência contra estrangeiros. "Esta violência direta contra os nossos irmãos e irmãs é vergonhosa", disse Zwelithini durante uma reunião tribal em Durban. A 20 de março, o líder fez um discurso inflamado culpando os imigrantes pelo aumento da criminalidade e dizendo que deveriam deixar o país.

Ameaças continuam

Segundo a polícia, vários cidadãos estrangeiros em Joanesburgo que estão a receber ameaças por telefone. As autoridades estão a investigar quem será o autor das mensagens intimidatórias, que já forçaram uma grande parte dos moçambicanos residentes em Ekhuruleni, Germiston, Alexandra e Benoni, em Joanesburgo, a procurar refúgio nas esquadras.

O ministro do Interior da África do Sul, Melusi Gigaba, garante que a situação está sob controlo e diz que não entende o motivo de tanto ódio contra os imigrantes. "A nossa posição é clara: não há nada, nem a insatisfação nem reclamações, que justifique os atos de violência contra estrangeiros a que assistimos."

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Até o momento, a polícia confirmou a morte de seis pessoas, mas de acordo com a organização Fórum da Diáspora Africana, pelo menos 15 pessoas perderam a vida e outras 2.500 ficaram deslocadas desde o início, este mês, da onda de violência xenófoba.

O primeiro-ministro de Moçambique, Carlos Agostinho do Rosário, exortou esta segunda-feira (20.04) a população do país a evitar a retaliação contra cidadãos sul-africanos face à onda de violência xenófoba na África do Sul. "Queremos que todo o povo se mantenha calmo e sereno. Não podemos repetir as más ações dos sul-africanos aqui no nosso país. Ao retaliarmos, estaremos a gerar mais violência aqui, que se irá repetir também na África do Sul, assim sendo, a violência nunca mais acabará", afirmou o primeiro-ministro moçambicano.