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Médicos estrangeiros esbarram em barreira linguística nos hospitais alemães

Clara Walther (sv)19 de março de 2013

Em parte devido à falta de médicos formados, na Alemanha trabalham atualmente cerca de 32.500 profissionais estrangeiros. Problemas de compreensão entre eles e os pacientes pode ter consequências graves .

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Foto: Fotolia/astoria

Andrea Staniszewski trabalhava até há cinco anos como enfermeira. Hoje, ela é uma das consultoras da Fundação Alemã de Proteção ao Paciente. Sua atividade na organização consiste "em ouvir com atenção" as pessoas que telefonam ou aparecem para uma conversa pessoal. Com frequência são idosos em busca de um aconselhamento em relação ao sistema de previdência, ou de orientação na hora de assinar um testamento vital – documento regulamentando as providências devidas, caso a idade ou enfermidades os impeçam de se manifestar sobre o próprio destino.

Essas pessoas querem falar, conta Staniszewski. E contam o que vivenciaram nos hospitais, qual foi a conduta dos médicos em relação a elas, em que momento tiveram medo. "É evidente que os problemas de comunicação entre médicos e pacientes são cada vez mais presentes nos relatórios dessas pessoas. Muitos pacientes não se sentem compreendidos", diz Staniszewski.

Anestesista incomunicável

Às vezes é distinguir entre não se sentir compreendido e não estar mesmo sendo entendido. A relação entre médico e paciente é muito sensível. Com frequência os médicos ainda continuam sendo vistos como "semideuses de branco", ou seja, como aqueles que sabem tudo, e que têm até o poder de prorrogar a vida. Tanto maior é a desilusão do paciente quando o médico que o atende só fala um alemão truncado.

Patientenberaterin Andrea Staniszewski
Para Andrea Staniszewski problema tem um aspecto pessoalFoto: Deutsche Stiftung Patientenschutz

"É claro que não podemos excluir a possibilidade de que certos pacientes tenham preconceitos contra médicos estrangeiros, por princípio", fala Staniszewski. No entanto, em intensas conversas com pacientes, a consultora chegou a uma outra imagem. Trata-se de situações nas quais os doentes pedem encarecidamente aos enfermeiros para servirem de tradutores entre eles e médicos. Ou em que os diagnósticos vêm atrasados, pois o médico não entendeu corretamente os sintomas do paciente, não podendo, portanto, integrá-los numa noção total de seu estado.

"Sobretudo na área de medicina interna, os diagnósticos são feitos principalmente a partir de conversas", explica Staniszewski. "Quão difícil isso não será para um médico a quem falta o vocabulário adequado?", questiona a consultora.

Para ela, o assunto é de suma importância, pois, inclusive, a toca pessoalmente. Há alguns anos: seu pai foi operado de um câncer de intestino. Na noite anterior à operação, o anestesista responsável passou por seu quarto. Tratava-se de um jovem profissional estrangeiro. "Em vez de acalmar meu pai e esclarecê-lo a respeito da cirurgia, ele simplesmente entregou a ele um papel: 'Aqui riscos, aqui assinar'", lembra Staniszewski.

Uma conversa informativa mais extensa a respeito da operação não foi possível, devido aos parcos conhecimentos de alemão do anestesista. A cena ficou gravada na memória da ex-enfermeira, que passou a questionar se se tratava de um caso isolado ou se fazia parte do quotidiano nos hospitais do país. Não há números confiáveis a respeito, e a Fundação de Proteção ao Paciente tampouco se dispõe a arriscar uma estimativa.

Cursos de língua para médicos estrangeiros

Georgios Godolias migrou há 37 anos, ainda jovem, da Grécia para a Alemanha. Hoje ele é diretor-geral do Hospital Santa Anna, na localidade de Herne, situada no noroeste alemão. Um quarto dos médicos de sua equipe tem origem estrangeira – como também ocorre em todas as outras clínicas da região do Vale do Ruhr. "A sociedade alemã tem que entender que há necessidade de empregar estrangeiros, se se quer garantir o atendimento médico no país", diz Godolias. "O importante é que integração desses médicos no dia a dia hospitalar seja abordada da maneira correta", completa.

Godolias não concorda que haja problemas demais neste sentido no país. Já hoje, os médicos que trabalham nos hospitais precisam provar um nível básico de conhecimento da língua, diz ele. E, em todos os anos como diretor de um hospital, nunca chegou a seu conhecimento qualquer erro médico devido a barreiras linguísticas. Mesmo assim, Godolias crê que algo deva ser feito para melhorar a comunicação entre os médicos estrangeiros e os pacientes alemães.

Em Herne, a situação concreta é a seguinte: desde outubro de 2012 os médicos estrangeiros frequentam cursos especiais de alemão. Não se trata, no caso, do aprendizado de uma linguagem corriqueira, mas sobretudo da terminologia médica. Um consultor especial também fica à disposição dos participantes do curso. Havendo necessidade, ele vai ao hospital e auxilia os médicos nas conversas com os pacientes. "Os cursos estão sendo oferecidos há meio ano, e nossa experiência é de que todos estão muito mais satisfeitos", resume Godolias. Tanto os médicos estrangeiros quanto os pacientes alemães.

Deficiências linguísticas: carga para colegas de trabalho

O que está sendo feito em Herne em regime voluntário, o sindicato de médicos Marburger Bund gostaria de impor para todos os médicos estrangeiros atuantes nos hospitais do país: cursos de língua regulamentados, que além da linguagem coloquial, abordem também a terminologia médica, e que sejam concluídos com um teste padronizado. "Pedimos tanto aos secretários estaduais de Cultura quanto aos de Saúde que se ocupem esse assunto", fala Rudolf Henke, presidente do Marburger Bund à Deutsche Welle. No entanto, até agora não houve reação por parte dos políticos.

Ärztin auf Krankenhausflur
Tarefas adicionais impostas por colegas estrangeiros são mal vistas nos hospítaisFoto: picture-alliance/ ZB

Henke chama a atenção para a urgência do caso: as deficiências de conhecimento da língua de alguns médicos já se tornaram muitas vezes um peso para os colegas, que precisam participar de conversas importantes como mediadores. Pode-se pensar que isso seja uma minúcia. No entanto, tem se tornado uma carga para alguns, já que 70% dos médicos alemães acentuaram numa enquete que o número de horas-extras e plantões prejudica sua saúde.

Em tal contexto, tarefas adicionais como serviços de tradução são assumidas muito a contragosto. Desse modo, a introdução de padrões idiomáticos unificados, como os defendidos pelo sindicato Marburger Bund, poderá contribuir, em última análise, para um maior grau de satisfação entre as equipes profissionais dos hospitais.