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Má cobertura das eleições gerais em Moçambique pelos média estatais

Johannes Beck4 de novembro de 2014

A cobertura mediática das campanhas dos vários partidos políticos é um ponto criticado pelos observadores durante as eleições gerais deste ano e também em pleitos anteriores em Moçambique.

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Borges Nhamire (no centro)Foto: DW/J. Beck

Critica-se principalmente a falta de imparcialidade nos órgãos de comunicação social públicos em Moçambique. A Rádio Moçambique, a TVM, o diário Notícias e o semanário Domingo são acusados de favorecer o partido no poder, a FRELIMO, na sua cobertura.

Perguntámos ao jornalista Borges Nhamire (BN), que trabalha no Centro de Integridade Pública (CIP) de Maputo, se os meios de comunicação do Estado deram espaço suficiente à oposição para que se possa dizer que tiveram oportunidades iguais durante a campanha eleitoral.

Borges Nhamire (BN) : Claramente que não. O próprio relator dos observadores da União Europeia foi muito criticado, pelo menos neste aspeto, porque fez uma análise e mostrou quantas vezes a oposição apareceu nos média estatais. Há também um estudo sobre a cobertura eleitoral (a primeira fase já está disponível) feito pelo Sindicato Nacional de Jornalistas e Centro de Estudos Interdisciplinares de Comunicação, uma organização não governamental moçambicana, que mostra claramente que os meios de comunicação social públicos discriminaram negativamente os candidatos da oposição. E mais. Quando eles apareciam era sempre com uma visão crítica. Temos o exemplo da edição do dia 12 de outubro do jornal Domingo, em que só se falou da FRELIMO sem nenhuma referência à oposição, apesar de este também ser um meio de comunicação com capitais públicos. Mas falar desses dados estatísticos serve apenas para sustentar aquilo que vemos no dia a dia. Infelizmente, os meios de comunicação social são células do partido FRELIMO. Isto é muito negativo.

DW África : Há diferenças entre os vários média do Estado como a Rádio Moçambique (RM), a Televisão de Moçambique (TVM), o Notícias e o Domingo, estes dois últimos detidos pelo Banco Central?

BN: Parece-me que a RM é dos mais moderados. Naquela tendência de dar prioridade à FRELIMO, a RM consegue dar um certo espaço à oposição, nem que tenha de colocar três peças sobre a FRELIMO, uma sobre a RENAMO e outra sobre o MDM, voltando depois a colocar outras três matérias sobre a FRELIMO. Mas na TVM o grande problema não está nas notícias, tem sobretudo a ver com os programas opinativos. A TVM tem um grupo de comentadores, todos declaradamente membros do partido FRELIMO. Se for ver nos murais deles no Facebook, poderá constatar que fizeram campanha de forma clara para a FRELIMO. E são só eles que estão na televisão a fazer análises, a falar mal dos partidos da oposição, sem que a estes sejam dados direitos de reclamação ou de resposta.

DW Africa: Os média privados e as rádios comunitárias conseguem equilibrar esta tendência a favor do partido do Governo nos média públicos?

BN: Também não. Penso que estamos a ter um jornalismo de extremos, porque se verificarmos as capas de jornais como o Savana ou o CanalMoz, que são, neste momento, os dois jornais privados mais influentes, há claramente uma tendência pró-oposição ou anti-governamental. Mas isso resulta do seguinte: se eles fizerem um trabalho isento ninguém os vai comprar, porque tudo o que possa ser dito de bom sobre o Governo já foi dito, até mesmo o que não existe. Assim, esses jornais acabam por ficar noutro extremo, o que também é negativo.

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