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Largo de Lisboa enche-se de arte africana

João Carlos (Lisboa)12 de agosto de 2014

A Mostra de Arte Africana pretende dar a conhecer a diversidade cultural do continente. É também pretexto para uma pergunta: Será que a arte africana está apenas confinada a um "cantinho multicultural" em Portugal?

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Foto: DW/J. Carlos

Lisboa fervilha todos os dias animada por grupos de várias origens culturais. Frequentemente, nas ruas da cidade, há manifestações diversas representativas da cultura africana. O largo do Intendente congregou muitas delas no sábado passado (09.08).

Música, dança, vestuário e calçado, bijuteria, literatura, artes plásticas, escultura e fotografia, acompanhados de um conjunto de atividades sócio-culturais deram corpo à Mostra de Arte Africana.

"O objetivo é criar uma plataforma para estabelecer contactos de forma a que, juntos, possamos ter mais força", diz Ana Fernandes, da Mella Center Lisboa, uma organização não-governamental que promove a cultura africana na diáspora, com origem em Londres.

Ana Fernandes auf einem afrikanischen Markt in Lissabon Portugal
Ana Fernandes, da Mella Center LisboaFoto: DW/J. Carlos

Segundo Ana Fernandes, a Mostra de Arte Africana quer dar visibilidade à representação da cultura africana em Portugal.

"A representação existe mas nem sempre tem visibilidade", afirma. "Por isso, pretendemos criar aqui um ponto de encontro de ideias, de tudo aquilo que está a ser produzido. Porque, por vezes, está tudo muito disperso."

Mais do que visão romântica da cultura africana

A conversa com Ana Fernandes conduz-nos à reflexão sobre o papel dos africanos e portugueses de origem africana na vida cultural lisboeta. Será que a cultura africana está confinada a um "cantinho multicultural" no país?

Natural de Moçambique, Sérgio Matsinhe, mais conhecido por General D, pai da cultura hip-hop em Portugal, é de opinião que a cultura africana tem expressão e representatividade.

"Tem muita coisa para dar. Só precisa é de espaços para crescer, onde as pessoas se possam encontrar e desenvolver não só o seu trabalho, mas também ajudar a desenvolver o trabalho dos outros", diz. "Gostaríamos de criar um sistema em que a produção, distribuição ou comercialização fossem iniciadas por africanos ou em que os africanos tivessem uma contribuição muito forte em todas as fases."

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Ou seja, sublinha General D, a cultura africana precisa de ser reconhecida como um produto e não ser vista apenas de forma romântica. Foi essa visão que Oly Queiroz, da Nigéria, trouxe à Mostra de Arte Africana.

"Esta feira é bastante importante, porque África é um continente muito vasto e com muitos talentos para mostrar. Esta é uma boa oportunidade para conhecer e projetar a cultura africana", diz Queiroz.

Situação "está a melhorar"

Raja Litwinoff fez parceria com uma amiga e apareceu na Mostra com literatura africana. Para a especialista alemã, que viveu em vários países de África no âmbito da cooperação para o desenvolvimento, é a imigração que dá força à cultura africana em Portugal.

Raja Litwinoff auf einem afrikanischen Markt in Lissabon Portugal
Raja Litwinoff na Mostra de Arte Africana em LisboaFoto: DW/J. Carlos

Por vezes, ela continua a ser relegada para um "cantinho", refere Litwinoff. Mas isso está a mudar. "Cada vez mais eventos gerais têm a presença da cultura africana. Há, por exemplo, um blogue chamado 'Lisboa Africana' que faz muita divulgação para um público diversificado. Aparece cada vez mais, não só em festivais multiculturais mas também internacionais. Acho que as coisas estão a melhorar muito."

Por isso mesmo, a Mella Center vai dar continuidade à ideia da Mostra, como meio para uma maior divulgação e afirmação da cultura africana, tornando-a numa referência em Portugal. O evento, como nos adiantou Ana Fernandes, voltará à rua a 6 de setembro próximo.