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"La Deutsche Vita" e as aventuras de italianos em Berlim

Lavinia Pitu (rm)13 de abril de 2014

Se você é um fracassado em seu país de origem, pode se mudar para a capital alemã – e ser o mesmo lá. Esse é o tema de "La Deutsche Vita", documentário sobre cidadãos da Itália morando em Berlim.

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Foto: Alessandro Cassigoli

Os cineastas italianos Tania Masi e Alessandro Cassigoli dirigiram juntos o documentário La Deutsche Vita. O título é um jogo de palavras, entre deutsch (alemão) e o clássico do cinema La dolce vita, de Federico Fellini. Para ambos, que moram em Berlim, a produção foi uma espécie de terapia contra a inevitável crise de identidade enfrentada por muitos imigrantes – no caso, uma terapia que deu certo.

DW: O seu filme é um documentário que se transformou numa sutil tragicomédia. Como vocês mesmos dizem, apesar dos defeitos, Berlim é uma espécie de ímã para imigrantes. No fim das contas, ir para a capital alemã foi a decisão certa para vocês?

Tania Masi: Definitivamente foi a decisão certa. Como nós dizemos no fim do filme, também é bom cometer erros. Então, mesmo que depois a gente vá se arrepender, estamos felizes agora. Se você é estrangeiro, tem de cometer erros. Se tudo é perfeito, então está faltando desafio. As histórias mostradas no documentário são reais, nós passamos muito tempo com aquelas pessoas. Elas esqueceram que as câmeras estavam ali e foram bem naturais, se acostumaram conosco e confiaram em nós.

Você poderia afirmar, de uma maneira geral, que a imigração é uma luta constante pela sobrevivência?

Sim, por um lado é um grande esforço, porque você tem de se adaptar. E se adaptar significa ter de aprender o idioma, o ritmo da vida, e assim por diante. Por outro lado, é claro que você ganha algo, alguma coisa que não tem no seu país. Na verdade, é um equilíbrio constante entre as recompensas e a luta.

No filme, vocês enfatizam constantemente esse equilíbrio entre a "Berlim boa" e a "Berlim má". E os seus protagonistas descrevem a cidade como o melhor lugar para se permitir fazer "nada".

Eu comparo com a Itália. É muito difícil ser artista lá, porque se tem de trabalhar duro para pagar o aluguel e outras coisas. E, com um emprego num restaurante, não dá para você se concentrar de verdade na sua arte. Aqui, você pode sobreviver com o que ganha em pequenos empregos e, ao mesmo tempo, ser artista e progredir de verdade na sua arte. Em outros países, você simplesmente não tem tempo para isso.

La Deutsche Vita
Cameraman William Chicarelli Filho com os diretores Alessandro Cassigoli e Tania MasiFoto: Emanuele Lami

Mas Berlim também está mudando muito. Ficou muito difícil encontrar um lugar para morar. Nós mostramos isso no filme também; um dos nossos protagonistas está procurando um quarto. Há tantas coisas a fazer quando você muda de país, e o primeiro problema é encontrar um lugar para morar.

Quando eu me mudei para cá, há 15 anos, era muito mais fácil, dava para encontrar muitos apartamentos diferentes. Se você não gostasse de um, tinha tempo para ver outros e pensar, e o apartamento ainda podia estar vazio, meses depois. Era tão fácil, e o aluguel custava uns 150 marcos [75 euros] para o apartamento todo.

É verdade que no momento há uma intensa propaganda sobre Berlim na Itália? Você descreveria esse fenômeno como uma espécie de renascimento da onda de imigração dos anos 1960 e 1970?

A ideia que se tinha de Berlim na Itália era muito diferente 15 anos atrás. As pessoas nem sabiam onde Berlim ficava. Se você dissesse que estava indo para a capital alemã, as pessoas perguntavam: "Por que está indo para lá? É tão longe e tão frio."

Agora, quando você diz que está indo para Berlim, elas dizem: "Puxa, que sorte!" É inacreditável. Nos programas de TV, no noticiário, nos boletins de rádio, toda vez que se abre uma revista, se encontra algo legal sobre Berlim. Há uma propaganda geral: Berlim é o lugar mais cool, mais na moda.

Paris e Londres viraram coisa do passado, é claro. E agora o mais legal é falar de Berlim, os italianos realmente acham que é o lugar mais descolado da Europa. Nós recebemos e-mails de gente perguntando como conseguir emprego aqui, como aprender o idioma etc. A mídia de massa influencia as massas. Eu ouvi até de gente mais velha: "Ah, sim, Berlim. Ouvi dizer que é fantástico lá."

Os protagonistas do seu filme intercalam italiano e alemão. Vocês vão colocar legendas para outros mercados?

Por enquanto, só temos legendas em inglês. Com certeza podemos legendar em outros idiomas também, espanhol, português. Depende dos países que vão se interessar pelo filme.

Filmstill La Deutsche Vita EINSCHRÄNKUNG
Diretores dizem ter ganhado uma "nova família" depois do filme,Foto: Emanuele Lami

Em certa altura do documentário, uma italiana diz que "Berlim é o único lugar na Europa em que alguém ainda pode conseguir algo", levando em consideração a crise do euro. Como você descreveria Berlim, em geral?

Descontraída e aberta – também em relação ao espaço. É aberta para os olhos e para o coração. Às vezes, também cinzenta.

E os alemães, em poucas palavras?

Como dizemos no filme, nós respeitamos os alemães. Tem alguns tipos de pessoa que eu nunca vou conseguir ser, apesar de ter tentado: eu nunca vou poder ser alemã. Eles são abertos e corretos. Às vezes, eles não sabem se soltar.

Foi fácil financiar La Deutsche Vita? Você concorda com essa noção de que Berlim é o lugar onde a pessoa pode atingir seus objetivos?

Nós tomamos a decisão de nos autofinanciar. Nós dois também tínhamos outros empregos. Todo o mundo que trabalhou conosco foi pago. Para o processo de pós-produção, chegamos a iniciar uma campanha de crowd funding [financiamento coletivo] e conseguimos arrecadar um pouco mais de 8 mil euros.

Nós temos uma página no Facebook, onde postamos vídeos curtos de making-of e criamos uma comunidade de italianos e apreciadores da Itália que acompanharam nosso projeto. Sem eles, nunca teria sido possível. Então, nós devemos esse filme a todos os amigos que nos ajudaram.

Você conseguiu superar sua crise de identidade depois de produzir esse filme? No início, você descreveu o projeto como uma "terapia". Funcionou?

Com toda certeza. Nós encontramos uma nova família graças a esse filme, desenvolvemos um relacionamento com todas aquelas pessoas que conhecemos. Desde então, eu só corto o meu cabelo no Giovanni, sempre comemos pizza no Gino's, todo o mundo nos liga no Natal.