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Karina Buhr mostra "turbilhão" de influências nos palcos europeus

Marco Sanchez4 de julho de 2014

Um dos mais ecléticos nomes da nova música brasileira, cantora retorna à Europa com novo disco e uma vibrante mistura de rock, pop e ritmos nordestinos.

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Foto: Diego Ciarlariello

Num mundo em que informações, sons e imagens viajam com imensa rapidez, é fácil encontrar artistas com uma variada gama de influências. No entanto, é difícil achar alguém como Karina Buhr, que mistura, com propriedade única, rock, pop e música regional, amarrando tudo com uma intensa e acolhedora voz, um instrumental poderoso e letras divertidas e inteligentes. Em turnê pela Europa, a cantora brasileira apresenta-se neste domingo (06/07), no Marie Antoinette, em Berlim.

"Gosto tanto de um forró de rabeca no escuro quanto de um show dos Racionais MC's, de Patti Smith, de Mocinha de Passira, de samba de roda, de Sex Pistols, de Earth Wind and Fire, sei lá, de tantas coisas totalmente diferentes umas das outras", diz Buhr.

Esse mundo de influências musicais – somados a sonoras, visuais e literárias – foi moldado por Buhr em seus dois discos solo, que são a base dos shows que ela apresenta agora em cidades de Portugal, Espanha, França e Alemanha.

"De alguma forma, quando vou fazer minhas coisas, elas não saem limpas, sai tudo misturado. Quando escrevo ou desenho, não tenho um caminho definido. Falo que o que faço é romântico defeituoso. Tem a ver com liberdade sim, mas não é exatamente uma busca. A força é no sentido de manter essa liberdade e não de buscá-la", diz.

Aos 40 anos, a cantora e compositora pode ser considerada uma veterana dos palcos, tendo sido parte integrante da eclética cena musical do Recife. Ela também é escritora, artista plástica e atriz.

Sängerin Karina Buhr
Além de cantora e compositora, Karina Buhr também é escritora, artista plástica e atrizFoto: Diego Ciarlariello

Sonho de ser percussionista

Nascida em Salvador, Buhr mudou-se para o Recife aos 8 anos. Começou na música aos 18, em 1992, participando de grupos de maracatu da cidade.

"Teoricamente, mulheres não podiam tocar no maracatu, mas acabava rolando, porque, durante o carnaval, eles tocavam muitas horas todos os dias e sobrava algo para mim. Mas meu grande sonho era tocar no candomblé, na umbanda. Nunca o realizei. As mulheres eram proibidas de tocar", conta.

Para Buhr, houve uma mudança na maneira como o mundo vê as mulheres, que agora é menos machista. No entanto, ela critica o tratamento dado às cantoras no Brasil. "Tem essa coisa louca de fazer um balaio de mulher e simplesmente chamar de cantoras. Nas lojas de disco que ainda existem, elas são colocadas na mesma seção, independentemente do estilo. Para a imprensa, existe a música (que é feita por homens) e a música feminina, ou algo assim. É uma coisa bizarra", considera.

Em 1997, ela formou a banda Comadre Fulozinha, em que, ao lado de outras mulheres, reinterpretava ritmos regionais do Nordeste, como o coco, o baião e a ciranda. A banda lançou três discos e se apresentou diversas vezes pelo Brasil, pela Europa e nos Estados Unidos. O grupo mostrou que, além de cantora e percussionista, Buhr também é uma ótima compositora e ilustradora, responsável pela parte visual dos álbuns da banda.

A baiana fez participações em discos de bandas do Recife, como Mundo Livre S/A, DJ Dolores, Mestre Ambrósio, e de outros artistas pelo Brasil, entre eles Marina Lima, Barbara Eugênia e Cidadão Instigado. Também participou da trilha sonora de filmes, peças de teatro e espetáculos de dança.

Em 2000, passou a integrar a companhia de Zé Celso Martinez, o Teatro Oficina. Três anos mais tarde, trocou o Recife por São Paulo. Para a artista, o Oficina foi uma "escola viva e mutante" e a ajudou a concretizar um trabalho que estava "entalado em sua garganta, mesmo antes de vir para São Paulo".

Sozinha, Buhr foi se firmando e achando uma "personalidade de palco que tinha a ver com a música que ela estava fazendo e com as letras que estava escrevendo".

De volta ao velho continente

Essas músicas materializaram-se em seu primeiro disco solo. Lançado em 2010, Eu Menti Para Você foi aclamado pela crítica, e a cantora e compositora tornou-se um dos nomes da nova MPB, conseguindo achar sua singularidade numa mistura moderna e pessoal de rock, pop e ritmos regionais nordestinos.

Sängerin Karina Buhr
Cantora diz ter encontrado uma personalidade de palco a ver com a música que fazFoto: Diego Ciarlariello

Depois da passagem pela Europa com a Comadre Fulozinha, Buhr voltou ao continente para apresentar as músicas de seu primeiro disco solo nos festivais Womex, em 2010, e no gigantesco Roskilde, em 2011, ambos na Dinamarca.

"A parte que mais gosto dessa vida da música é o show, e fazer isso viajando é o melhor cachê que pode existir. Faz tempo que queria fazer uma sequência de shows como essa agora na Europa", diz Buhr.

Essa será a primeira oportunidade do público europeu de conferir as músicas de Longe de Onde, segundo disco da artista, lançado no final de 2011.

"É uma sensação esquisita e boa quando as pessoas não entendem as letras. Esquisita porque as letras são importantíssimas para mim. Mas também tem uma coisa de passar essa letra pela voz, pelo corpo, para quem está ali na frente do palco. De alguma maneira, a letra chega às pessoas, num tipo de comunicação muito especial", diz.

Depois de passar por Portugal, Espanha e França, a turnê europeia de Buhr encerra-se em Berlim, um lugar onde a artista quer "morar em algum momento". Para ela, a capital alemã é "muito impressionante e forte, por seu passado e pela mistura de gente de todo lugar".

Ela também tem uma ligação com o país pelo fato de que seu avô materno era alemão. "Isso sempre foi algo muito presente, cheio de histórias e lembranças. Ainda tenho parentes em Rostock, Hamburgo, Colônia, Lägerdorf, Büsum, Munique", conta.

Apesar de continuar compondo, a cantora ainda não tem planos para um novo disco. "Tem um monte de coisa guardada. Em algum momento vou parar para ligar os pontos, até chegar num outro disco. Por enquanto, o que quero é gravar esse show em DVD. Acho que o show expressa mais meu trabalho do que o próprio disco", conclui a artista.