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Jovens americanos que lutam por Israel defendem sua opção

Ashley Gallagher (rc)6 de outubro de 2014

Em vez de servir nos Estados Unidos, jovens de origem judaica preferem lutar por Israel. Mais de cem americanos foram recrutados na recente guerra contra o Hamas.

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Foto: Reuters

O primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, usou a Assembleia Geral da ONU para atacar os que acusam as Forças Armadas de seu país de terem cometido crimes de guerra na ofensiva contra o Hamas, comparando o grupo radical palestino ao "Estado Islâmico" (EI).

As acusações às forças israelenses, se provadas, podem afetar também soldados estrangeiros. Durante a guerra contra o Hamas, mais de cem americanos se uniram ao Exército de Israel. Em alguns meses, eles se tornarão oficialmente soldados.

Jason Kraizler, de 22 anos, é um deles. Filho de judeus, ele cresceu em Nova Jersey. Não se considera religioso, mas segue as tradições judaicas, como vestir o quipá e obedecer às regras do Sabá – o dia de descanso semanal. Para ele, foi necessário que Israel bombardeasse a Faixa de Gaza, como forma de se defender.

"O que eles [os israelenses] deveriam fazer, então? Por mais triste que isso seja para o outro lado, o Hamas utiliza pessoas como escudos", argumenta. "Sei que o que fazemos é certo, eu permaneço do lado de Israel." E ele não está só. Atualmente, cerca de 2 mil americanos servem o Exército israelense.

Lutando pela "pátria"

Eli Ezer, de 20 anos, tem origens judaicas e foi criado em Nova York. Ele estudou numa universidade israelense antes de pedir cidadania e se unir ao Exército. Como Kraizler, ele diz que a fé no judaísmo significa tudo na sua vida e é sua maior razão para aderir às Forças Armadas de Israel e defender o que considera sua pátria.

Jason Kaizler
Jason Kraizler, de 22 anos, segue as tradições judaicas, como vestir o quipá e obedecer às regras do SabáFoto: DW/A. Gallagher

Ezer diz que nem todos os muçulmanos são terroristas, mas afirma que o radicalismo islâmico é uma ameaça a Israel e precisa ser coibido. Ele se voluntariou para servir numa unidade do Exército que trabalha apenas na Cisjordânia, que, segundo afirma, pertence a Israel, o que justificaria os assentamentos na região.

As Forças Armadas de Israel rejeitaram um pedido da DW para entrevistar um soldado americano que esteve em Gaza. Segundo as Forças Armadas, os soldados hesitam em falar sobre suas experiências porque não querem ser comparados a militantes extremistas no contexto das atuais investigações sobre crimes de guerra. Mas um deles aceitou falar em anonimato.

Crimes de guerra?

O soldado contou que tem uma biografia muito peculiar: ele é um americano-israelense oriundo de uma família muçulmana. Ele conta que servir o Exército de Israel tinha mais a ver com o desejo de viver em Israel e que não havia pensado que iria para a guerra. Porém, acabou passando um curto período em Gaza, durante os últimos meses.

"Gostaria de acreditar que o mundo poderia fazer algo em relação ao Hamas", diz. Na visão dele, os israelenses combatem o grupo sem a ajuda dos Estados Unidos ou dos países do Ocidente. Ele não nega sua compaixão para com os palestinos e diz que não gosta da forma como os israelenses bloqueiam Gaza.

Além disso, acredita que uma investigação sobre os possíveis crimes de guerra é justa, contanto que também apure os atos do Hamas. Ele defende ainda que outras autoridades independentes também conduzam investigações.

Como um americano no Exército de Israel, ele diz não estar preocupado com as acusações de crimes de guerra, porque, segundo afirma, não cometeu nenhum crime. Ainda assim, admite que nem todos os militares obedecem as leis e alguns "simplesmente odeiam os árabes".

Ele conta que viu "uma minoria de companheiros tentando encontrar o próximo alvo", mas não sabe de qualquer violação clara das regras. O soldado afirma ainda que seu desejo é que o Exército utilize as armas mais para "machucar" do que para matar, mas concorda que "matar parece ser a norma".

Eli Ezer
Eli Ezer aderiu às Forças Armadas de Israel com a intenção de defender o que considera sua pátriaFoto: DW/A. Gallagher

O "jihadista que nunca foi"

A união de americanos a um Exército acusado de crimes de guerra acontece no mesmo momento em que outros se juntam a grupos extremistas na Síria e no Iraque. Militares americanos afirmam que o número de cidadãos de seu país lutando nessas organizações é três vezes maior do que o esperado.

Num artigo de opinião recentemente publicado no jornal Washington Post, o jornalista e escritor Michael Muhammed Knight afirma que ele era o "jihadista que nunca foi". O texto fala sobre suas influências nos anos 1980, que o levaram a se converter ao islamismo e, posteriormente, a um radicalismo que o fez querer pegar em armas com os rebeldes da Chechênia, que lutavam por um território próprio na década de 1990, embora, segundo ele, nunca o tenha feito.

Ele alega que a atitude americana é de lutar contra a "opressão e proteger a segurança e dignidade de outros", e que atravessar o mundo para se envolver em "lutas pela liberdade" é algo "muito americano".

À DW, Knight afirmou que a autobiografia do ativista Malcom X transformou sua vida. A mãe o levou a uma mesquita e acompanhou sua conversão ao islamismo. Quando estudou com professores paquistaneses na mesquita Faisal, em Islamabad, Knight conta que eles nunca lhe ensinaram a jihad – a "guerra santa". Suas ideias vieram dos escritos do aiatolá Khomeini, o líder revolucionário do Irã, e de outros que escreveram sobre como defender o islã.

Ainda assim, o seu desejo de lutar não o aproximou das Forças Armadas americanas, uma vez que ele as via como "um inimigo da liberdade, justiça e igualdade". "Talvez o 'Estado Islâmico' esteja tentando fazer justiça da forma como a interpretam", observou.

O soldado que falou anonimamente à DW conta que, enquanto ele se alistava nas Forças Armadas de Israel, amigos muçulmanos foram para a Síria para lutar ao lado dos rebeldes e de grupos extremistas.

Esses amigos cortaram todos os contatos com ele, assegura. Mas, nesses casos, ele afirma acreditar que "o dinheiro prevalece sobre a fé" e que "eles foram pagos para virar jihadistas" em vez de serem movidos pela ideologia que afirmam ter como motivação. Ele ainda acrescentou, com certa hesitação, que "os jihadistas... me lembram os sionistas que vão a Israel para servir o Exército".

Em busca de aceitação

Aparentemente, muitos americanos se voluntariam para lutar em solo estrangeiro como forma de encontrar aceitação e de pertencer a um grupo ou causa.

O pesquisador Yael Warshel, da Universidade da Califórnia em Los Angeles, observa que, para essas pessoas, aderir a um grupo no exterior cria um senso de comunidade maior do que o que elas experimentam em sua terra natal.

Ele diz que judeus e muçulmanos que aderem a organizações estrangeiras são uma minoria na sociedade americana, e que pessoas jovens são particularmente motivadas a querer "agir para mudar", buscando para isso algo que lhes pareça ser maior do que elas mesmas.

Mas quando os israelenses retornarem aos EUA, após cumprirem o serviço militar, serão tratados diferentemente daqueles que desejarem voltar quando estiverem cansados de combater em grupos extremistas.

Os primeiros deverão ser bem recebidos e aceitos por suas famílias e amigos, enquanto os últimos provavelmente serão presos e interrogados, com poucas chances de reintegração na sociedade.