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Jovem e ambicioso, Renzi se prepara para governar Itália

Kirstin Hausen (md)14 de fevereiro de 2014

Líder do Partido Democrático derrubou premiê Enrico Letta em votação interna da legenda. Agora, só falta o aval do presidente italiano. Político de 39 anos aposta na mídia para construir imagem de reformador.

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Foto: picture-alliance/dpa

A mudança de poder já estava dando há muito tempo o que falar. No final, ocorreu de forma surpreendentemente rápida. Em reunião do comitê executivo do Partido Democrático (PD), a grande maioria votou contra Enrico Letta como primeiro-ministro da Itália. A revolta interna foi liderada por Matteo Renzi, que logo passou a ser tido como o provável novo chefe de governo.

Renzi foi recentemente eleito presidente do partido, e há semanas vinha criticando o governo Letta como hesitante e sem vontade de reformar. Agora, ele promete uma mudança drásticas. "Temos todos nós que ir, juntos, ao fundo do poço", afirmou, dirigindo-se aos seus correligionários. "Não podemos continuar a correr na mesma direção, temos que mudar o alvo, a velocidade e o ritmo."

Homem da mídia

Palavras afiadas, como sempre. Renzi é daqueles que não têm meias palavras. Isto chama a atenção da mídia, e só com a ajuda dela que alguém consegue subir na carreira política. E Renzi, de 39 anos, filho político da era Berlusconi, sabe disso perfeitamente. Ele trabalhou na agência de marketing de sua família e sabe como o negócio funciona. Ele se apresenta como um incansável triturador das velhas elites partidárias, chamado às vezes de o Tony Blair da Toscana.

Sua rápida ascensão na política italiana ocorreu graças também aos muitos editoriais e páginas duplas a ele dedicadas, desde o tempo em que ganhava experiência como apoiador de Romano Prodi.Agora, ele está onde sempre quis. O posto de chefe do governo está ao alcance das mãos. E ele só precisa da bênção do presidente Giorgio Napolitano.

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Presidente italiano Giorgio Napolitano e Enrico Letta: chefe de Estado tem que dar aval a sucessor de premiêFoto: Reuters

A bênção de Silvio Berlusconi, que Renzi já tentou aliciar para seu partido, ele já tem. Os dois se encontraram logo no início da luta pelo poder dentro do PD. A foto, impressa nos jornais, mostra o aperto de mão de dois homens que muito se assemelham, apesar da grande diferença de idade. Oficialmente, a reunião se destinava a discutir uma nova lei eleitoral.

Mas talvez eles também tenham conversado sobre a formação de um novo governo. Berlusconi e Renzi pertencem a campos políticos concorrentes, mas ambos lidam com o conteúdo político de suas legendas de forma flexível.

O instinto de poder, a autoencenação perante a mídia e a argumentação prometendo sempre uma mudança radical são marcas registradas de ambos. E quando eles querem se apresentar como modernizadores da Itália, recorrem a modelos americanos. Matteo Renzi quer transformar a Itália em uma startup, "a mais bela startup que o mundo já viu".

Analogias com Berlusconi

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Berlusconi: magnata da mídia deve dar seu apoio a RenziFoto: Reuters/Alessandro Bianchi

Há 20 anos, Berlusconi havia prometido um futuro brilhante para o país. E ele começou com uma mentira, dizendo que jamais iria entrar para a política, pouco antes de anunciar sua disposição de se candidatar a um posto público.

Do mesmo modo, Renzi até recentemente enfatizava que não queria derrubar Enrico Letta. Agora, ele provavelmente será, depois de Mario Monti e Letta, o terceiro chefe de governo desde 2011 que não é eleito pelo povo.

Mas isso não parece incomodá-lo. Eleições antecipadas estão, para ele, fora de cogitação. "Você pode pensar que novas eleições tenham um efeito de limpeza, mas há uma pequena desvantagem. Na presente situação, ela não resolveria nenhum dos problemas que temos pela frente."

Renzi, o solucionador de problemas, o benfeitor. Novamente uma imagem produzida pela mídia, que o mostra andando de bicicleta na zona de pedestres que ele mandou construir em Florença, inaugurando novas obras ou andando com botas de borracha em regiões alagadas. Mas Florença foi apenas uma estação intermediária, um trampolim. Há muito tempo ele só fala dos problemas nacionais. Para o problema do desemprego galopante, Renzi propôs uma reforma do mercado de trabalho que leva o nome de JobsAct.

Tudo o que Renzi faz, ou melhor, anuncia, parece um pouco copiado. Nenhuma de suas ideias políticas ou projetos é realmente algo novo e original. Quando fala sobre sustentabilidade, imita Nichi Vendola, do movimento verde Esquerda, Ecologia, Liberdade (SEL, na sigla original). Quando fala de finanças e economia, soa como Mario Draghi, e quando tenta ganhar o voto dos eleitores abaixo dos 30, cita sua própria idade e fala em mudança de gerações na política.

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Renzi e Letta: líder partidário criticou premiê durante semanasFoto: picture alliance/ROPI

Reações discretas

Os cidadãos permanecem calmos diante da subida ao poder de Matteo Renzi. Eles experimentaram novidades demais nos últimos meses, muitas promessas e muitas decepções.

"Quando Renzi se tornou líder do partido, deveria ter renunciado ao seu mandato como prefeito de Florença. Em vez disso, ele acumula cargos, como todos os políticos", reclama uma mulher da cidade toscana de Grosseto.

"Mesmo que Renzi faça algo melhor, ele precisa de pelo menos 15 anos até que algo mude", opina um cidadão de Milão.

Para eliminar a resignação que toma grande parte da população, é preciso mais do que um discurso afiado. Matteo Renzi tem que transformar suas palavras em atos. Acima de tudo, ele precisa de uma maioria na Câmara dos Deputados e no Senado. As maquinações políticas continuam.