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Japão leva à frente plano para religar reatores nucleares

Julian Ryall (ca)11 de março de 2015

Passados quatro anos do desastre de Fukushima, Tóquio insiste que país precisa da energia atômica para alimentar indústria e população, sob alegação de que alternativas são caras. Mas a maioria dos japoneses se opõe.

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Japan Atomkraftwerk Tomari
Foto: picture-alliance/dpa

Japão avalia retomar energia nuclear

No último dia 1º de março, o primeiro-ministro Shinzo Abe foi à cidade de Futaba, na região de Fukushima, para uma visita guiada a um grande areal reservado para receber milhões de toneladas de solo contaminado com a radioatividade gerada pelo desastre de exatos quatro anos atrás.

Para observar a área de 16 quilômetros quadrados, o premiê japonês subiu ao topo do edifício que servia, anteriormente, como escritório da administração municipal. No horizonte, a leste, chaminés altas e guindastes se movimentando ao vento frio que sopra do Pacífico marcam o local da usina nuclear. Ali, operários dão prosseguimento aos seus esforços para descontaminar o cenário de um dos piores acidentes nucleares da história.

Após descer do topo do prédio, Abe expressou sua gratidão às autoridades e moradores locais por concordarem em receber o entulho radioativo na comunidade, praticamente abandonada após o terremoto e a conseguinte tsunami que destruiu três dos seis reatores na central nuclear de Fukushima.

"Nós procederemos cautelosamente, respeitando os sentimentos das pessoas sobre as suas cidades de origem", afirmou.

Chegar a um acordo sobre o despejo de material contaminado em Futaba foi uma importante conquista para o governo japonês, enquanto toma medidas para lidar com problemas não solucionados na central de Fukushima e leva à frente o plano de reativar alguns dos cerca de 50 reatores desligados desde março de 2011.

O governo anunciou que pretende reativar diversos reatores nucleares até junho, após a conclusão daquilo que os reguladores do setor, órgãos públicos e ministérios responsáveis pelo monitoramento industrial insistem ter sido uma reavaliação profunda e minuciosa de suas operações.

Pressionado pela oposição à energia nuclear, o processo tomou muito mais tempo do que o previsto pelas autoridades, mas há um sentimento de que o governo está cada vez mais impulsionando a reativação dos reatores. Continuar a importar petróleo, carvão e gás natural para manter a economia funcionando é caro e aumenta as emissões de dióxido de carbono no país.

Atomkraft Demonstration Japan
Maioria dos japoneses não quer energia nuclear, dizem pesquisasFoto: Reuters

Benefícios questionáveis

A primeira a retomar as operações deverá ser a usina de Sendai, operada pela Kepco, no centro do Japão. A central de Takahama, da mesma empresa, também está em fase de prontidão operacional depois que os reguladores emitiram o primeiro dos três certificados de aprovação necessários para a reativação.

"Eles estão levando isso à frente apesar de pesquisas de opinião mostrarem constantemente que 70% dos japoneses querem que a energia nuclear seja desligada", afirmou à DW Aileen Mioko-Smith, ativista da organização ambiental Green Action Japan, baseada em Kyoto.

Mioko-Smith questiona os benefícios econômicos proporcionados pelo uso da energia nuclear. Segundo ela, há estudos que sugerem que o custo de reforma e modernização das usinas é maior do que reduzir para zero a energia atômica e investir em formas renováveis.

"Não acreditamos que a lição de Fukushima tenha sido aprendida", disse. "Por exemplo, a agência de regulação nuclear está seguindo suas próprias diretrizes quanto ao risco associado a um vulcão próximo às instalações de Sendai."

Mioko-Smith acredita que o governo japonês está agindo de acordo com os melhores interesses de grandes empresas, que segundo ela fazem grandes doações para partidos políticos em nível nacional e oferecem emprego e consideráveis subsídios para comunidades que permitam a construção de instalações nucleares em suas proximidades.

Japan Shinzo Abe besucht Fukushima
Abe pretende reabrir alguns reatores desativadosFoto: Itsuo Inouye/AFP/Getty Images

"Os serviços públicos pretendem utilizar as instalações, que já possuem, em vez de investir no desenvolvimento de novas formas de energia, enquanto as grandes empresas querem exportar tecnologia nuclear, o que acham difícil caso não haja nenhuma indústria doméstica de energia nuclear", explica a ativista.

Jun Okumura, professor visitante no Instituto de Assuntos Globais de Meiji, diz que é inevitável que ao menos alguns dos reatores venham a ser reativados antes do fim do ano.

"O governo está completamente comprometido com essa linha de ação", afirma. "A primeira preocupação do governo é a segurança energética e mesmo que os preços do petróleo e gás natural estejam baixos, no momento, não há dúvidas de que eles vão subir novamente. E não temos a menor ideia do que vai acontecer futuramente no Oriente Médio."

Mas o Japão também acredita nas mudanças climáticas e, como membro responsável da comunidade internacional, está "comprometido em fazer a sua parte para reduzir o aquecimento global, para o qual a energia nuclear contribui", acrescentou o analista.

E como as fontes renováveis de energia ainda são consideradas pouco confiáveis, explica o especialista, o governo japonês pode escolher entre os combustíveis fósseis e a energia nuclear para a geração de energia de base.

"O governo japonês considera que não tem alternativa, senão impulsionar a energia nuclear, mesmo que a maioria dos japoneses venha a expressar o seu desconforto – ao contrário da preocupação absoluta – sobre a continuação do uso da energia nuclear", afirma.