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Interesses económicos de Angola em Cabo Verde

Nádia Issufo19 de fevereiro de 2014

Cabo Verde recebeu de Luanda dez milhões de euros para o Orçamento de Estado de 2014. O porquê do reforço da presença de Angola no país em dificuldades financeiras suscita alguma polémica.

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Foto: MARTIN BUREAU/AFP/Getty Images

À forte aproximação de Angola com São Tomé e Príncipe e a Guiné-Bissau, segue-se agora Cabo Verde na estratégia da afirmação da presença de Luanda nos Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa (PALOP). Esta semana, a ministra das Finanças de Cabo Verde, Cristina Duarte, esteve em Luanda, onde obteve assistência no valor de dez milhões de euros para o Orçamento de Estado (OE) do seu país. Duarte manifestou ainda o interesse de Cabo Verde em beneficiar de investimentos do Fundo Soberano de Angola.

No contexto da afirmação de Angola como potência no continente, este estreitar de laços é visto como natural pelo economista angolano Francisco Vieira, dados os laços históricos e de amizade que unem o país a Cabo Verde.

Defesa dos interesses privados angolanos

Isabel dos Santos
Em Angola, nem sempre é fácil separar os interesses do Estado dos privados. A filha do Presidente, Isabel dos Santos, é uma das grande empresárias angolanasFoto: picture-alliance/dpa

Mas o economista acredita que o Governo de Luanda é movido por outros interesses. Para já, afirma, um país como Angola, que não tem uma economia estabilizada, não pode ser visto como uma potência económica: "O que estamos a ver é interesses de capitais privados angolanos e a utilização de capitais públicos. Há manobras por parte dos decisores públicos no investimento externo. Portanto isto não significa a afirmação de Angola como potência, significa sobretudo a afirmação dos interesses privados de Angola nestas áreas".

Para Cabo Verde, que vive uma crise financeira que obriga o arquipélago a desdobrar-se em esforços para equilibrar as suas contas, a ajuda é bem-vinda. O arquipélago está sob pressão, por exemplo, do Fundo Monetário Internacional (FMI). Depois da sua última visita de avaliação ao país, em janeiro passado, o FMI considerou o OE 2014 "expansionista" e aconselhou as autoridades à "moderação dos gastos" no ano corrente. A ministra Cristina Duarte reconheceu que as medidas do Governo não estão em completa sintonia com as sugestões do FMI.

O dilema de Cabo verde

Cristina Duarte
A ministra das Finanças de Cabo Verde, Cristina Duarte, manifestou interesse em investimentos do Fundo Soberano de Angola no seu paísFoto: DW/Nélio dos Santos

Uma das soluções do país, que não quer renunciar por completo a investimentos na infraestrutura, passíveis de fomentar o crescimento, parece agora passar por Angola. Um comportamento que merece a compreensão do economista cabo-verdiano Paulino Dias: "Nós temos que respeitar as recomendações internacionais, mas Cabo Verde está perante o dilema de reduzir o investimento público, para poder comportar-se dentro dos limites impostos da dívida pública, e com isso sacrificar o crescimento económico”.

A alternativa é incorrer em maior endividamento público para garantir a recuperação do crescimento económico, salienta o economista, rematando que não se trata de uma decisão fácil para os governantes: “Neste momento eu concordo com a abordagem do Governo, apesar dos riscos que representa forçar um pouco mais o endividamento, mas o país precisa de investimento”.

Quem lucra com o estreitamento dos laços entre os PALOP?

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As possíveis medidas para contornar a crise e os pronunciamentos da ministra das Finanças têm gerado polémica. Na semana passada, Cristina Duarte chamou de “ato de bruxaria” às previsões do instituto de pesquisa londrino, Economist Intelligence Unit, para Cabo Verde. Esta instituição considera que o Governo só fará reformas financeiras no sentido de contenção das despesas depois das eleições de 2016, com medo de perder o eleitorado.

Em paralelo, os PALOP têm estreitado cada vez mais os laços de cooperação entre si, numa tentativa de diminuir a dependência em relação a terceiros. Trata-se de um processo “absolutamente normal” na opinião do economista angolano Francisco Vieira: “Isso não prejudica as relações internacionais, pelo contrário, pode ser que abra melhores condições”.

O economista defende o desenvolvimento das relações sul-sul, mas alerta contra a expansão de Angola em Cabo Verde “A especificidade desta relação são o interesse privado e as ambições que os grupos privados angolanos têm em dominar algumas regiões que nos são vizinhas”.

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