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"Indústria sofre com falta de competitividade", diz diretor da CNI

Fernando Caulyt2 de setembro de 2014

Carlos Eduardo Abijaodi afirma que Brasil é atrativo, mas que indústria nacional acaba prejudicada pela falta de competitividade e não consegue exportar e competir no mercado interno.

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Foto: picture-alliance/ dpa

Empresários brasileiros e alemães discutem até esta terça-feira (02/09), no Encontro Econômico Brasil-Alemanha, em Hamburgo, formas de aumentar o intercâmbio econômico, investimentos e a cooperação tecnológica entre os dois países.

Em entrevista à DW Brasil, Carlos Eduardo Abijaodi, diretor da Confederação Nacional da Indústria (CNI), diz que a falta de competitividade – aliada a diversos fatores, como uma moeda mais valorizada – prejudica a indústria brasileira.

"O mercado brasileiro é muito atrativo: todos querem participar e vender no Brasil", afirma. "Mas a falta de competitividade é um problema que aflige a indústria. E a competitividade está ligada muito à tecnologia e inovação."

DW: Em 2013, o Brasil teve um déficit de cerca de 8,6 bilhões de dólares no comércio com a Alemanha. O que fazer para incrementar a exportação da indústria brasileira e conquistar mais mercado internacional?

Carlos Eduardo Abijaodi: A falta de competitividade é um problema que aflige a indústria brasileira. Mas, no nosso caso, é a competitividade aliada a diversos fatores, como a moeda brasileira muito valorizada. Isso retira parte da nossa competitividade. Nós temos, além disso, um grande mercado doméstico e de alta demanda. E, assim, o empresário consegue colocar seu produto no mercado doméstico de forma mais rápida e mais fácil. Isso vem acontecendo há cerca de quatro anos.

Quais soluções a CNI vê a curto prazo para esse problema?

A CNI preparou um mapa estratégico da indústria, para que, em dez anos, a indústria brasileira possa estar realmente competitiva. Por estarmos diante do período eleitoral, nós selecionamos dez temas desse mapa e evoluímos para 42 propostas feitas aos candidatos à presidência. Isso é a nossa contribuição para que a gente realmente possa, no novo governo, começar um ciclo otimista, com medidas concretas e palpáveis para que a indústria possa se desenvolver e ganhar competitividade. Hoje competimos com a China e outros países que, em termos de competitividade, ganham do Brasil.

Quais foram as principais medidas apresentadas?

Entre eles, há as reformas na parte tributária e na burocracia, que está presente em todas as áreas administrativas do governo. Na educação, temos a necessidade de trabalhar desde o elementar até a formação profissional. Ao mesmo tempo, precisamos que as pequenas e médias empresas (PME) possam crescer com inovação e com mão de obra qualificada. Ainda na parte trabalhista, a reforma trabalhista, a da governança no Brasil e, também, a questão da logística e infraestrutura.

Quais são os principais entraves, tanto do lado sul-americano, quanto do lado europeu, para o Mercosul e a União Europeia fecharem o acordo de livre-comércio?

Jose Manuel und Dilma Rousseff
Dilma e Durão Barroso, presidente da Comissão Europeia, defendem um "sim" entre UE e MercosulFoto: Wilson Dias/ABr

Essa negociação é comandada pelos governos dos países que formam os blocos. Nós acompanhamos junto com o governo a sondagem feita a todos os setores industriais e do agronegócio e todas as medidas, que deram origem a uma oferta, foram aprovadas. Junto com o Mercosul, cada país fez o mesmo. O que sabemos é que o Mercosul e também a União Europeia já têm propostas de livre-comércio a oferecer. Agora, depende só dos blocos marcarem um encontro e começarem a negociar. Mas digo que uma negociação como essa vai permitir não só a discussão de ofertas de tarifas, mas também permitir entrar numa área muito mais importante, que é a parte de barreiras não tarifárias, de padronizações, e uma série de outras coisas em paralelo.

Mas, se as listas já estão prontas, o que impede então a troca das ofertas entre os dois blocos?

É uma questão de oportunidade mesmo, não vai ter melhor momento para fazer a proposta. Na Europa há mudanças nos postos da União Europeia e, no Brasil, eleições presidenciais. Mas não é isso que está segurando. Eu acredito mesmo que é uma questão governamental, quer dizer, as duas partes terem condições de fixar uma data para sentar e conversar.

Há dois trimestres seguidos o PIB do Brasil se retraiu. A indústria teve um destaque negativo e puxou a queda do PIB. Quais são os motivos para esse desempenho da economia brasileira e, em especial, do setor industrial?

Eu volto a dizer a questão da nossa competitividade. O mercado brasileiro é muito atrativo: todos querem participar e vender no Brasil. As empresas estrangeiras chegam com preços competitivos, que ganham dos brasileiros. Com isso, os empresários brasileiros não conseguem exportar e competir no mercado doméstico. Essa é uma questão crucial que a indústria está vivendo.

Esse ano foi muito conturbado: houve vários feriados por conta da Copa, foi um ano atípico. O setor de comércio estava superando a indústria e compensava a perda da indústria. Agora, o comércio não está vigoroso como estava e também está começando a mostrar um PIB mais deprimido.

O país está passando por um processo de desindustrialização? Há algum tempo o PIB da indústria vem perdendo força...

Mas é pelo fato de a indústria não ter competitividade. A competitividade está ligada muito à tecnologia e inovação. Se o Brasil não tiver esses contatos e puder transferir inovação, tecnologia e design para ser absorvido pela indústria brasileira, ela vai continuar trabalhando naquilo que é básico, que não tem valor agregado, que não distinção em relação a outros produtos e que, consequentemente, não pode ser vendido mais caro.